quarta-feira, 29 de maio de 2013

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Fé Natural e Fé Sobrenatural

Havemos de analisar e apreciar alguns passos importantes deste texto A Fé das Árvores, mas antes, para não cairmos em obscuras nuvens de ilusões, convém estabelecermos bem a distinção entre duas realidades, ou, pelo menos, entre os seus respectivos conceitos.
Há a assim chamada natural, e há ainda a assim chamada sobrenatural. Quem assim as chama, está claro, é o ser humano. Então, natural, também chamada confiança natural, é a que a própria natureza concede aos seres vivos que do seu seio nascem, segundo as capacidades de cada um deles. Quanto à (ou confiança) sobrenatural, só se fala dela em contexto religioso e só os humanos podem receber esse dom. Receber esse dom porque – segundo dizem os crentes – ele não é dado pela natureza mas é um especial dom de Deus. É sobrenatural o acto de fé, enquanto tal, e também são sobrenaturais os conteúdos a acreditar: que existe um Deus pessoal criador e salvador dos homens, a eles oferecendo, a cada um, uma vida muito feliz para além da morte.
Mas quem fala de fé (ou confiança) só pode ser quem possui palavras e conceitos e tem consciência de si próprio e dos possíveis objectos por aqueles e aquelas representados. Portanto seres imaginativos, pensantes e conscientes. É certo que as plantas e os simples animais, como seres vivos que são, também sentem à sua maneira as mudanças que se vão operando nos seus corpos (provocando, por exemplo, aquele “sobressalto” de Primavera), mas só o ser humano as pensa, as conhece, as verbaliza e delas tem consciência.
Para que a nossa fé ou confiança na natureza e na vida possa ser possível, é preciso que haja, na mesma natureza, não mais que um deus imanente, essa ínsita dinâmica natural que dirige e determina, em grande parte, a evolução. Esse é o deus de Einstein. É esse deus que organiza os espaços no universo, e que aqui produz e transforma as pedras, dá e guia a vida das plantas e dos animais e, em grandíssima parte, também a nossa vida. Por isto é que a mamã recente não tem receio de que o seu bebé não aprenda a comer e a rir e a falar, e, também por isto, nas grandes aflições da vida, nós confiamos que esses problemas se hão-de resolver.
Esta é a nossa fé natural, fé nesse deus natural ou imanente à natureza. E, como já sugerimos, Einstein, por exemplo, não aceita o Deus pessoal bíblico criador e salvador. Não precisa dele para se entender e explicar a si mesmo e ao universo.
Porque é que os crentes acreditam num Deus pessoal e criador? Não será porque desejam, porque querem, porque precisam de um deus salvador? Se não desejassem-quisessem-precisassem dele, como salvador, importar-se-iam com o Deus criador? No limite, a essa divina entidade, a existir, eles não seriam indiferentes?

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