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Fé Natural e Fé Sobrenatural
Havemos de analisar e apreciar
alguns passos importantes deste texto A
Fé das Árvores, mas antes, para não cairmos em obscuras nuvens de ilusões,
convém estabelecermos bem a distinção entre duas realidades, ou, pelo menos, entre
os seus respectivos conceitos.
Há a assim chamada fé natural,
e há ainda a assim chamada fé sobrenatural. Quem assim as chama, está
claro, é o ser humano. Então, fé natural, também chamada confiança natural, é a que a própria natureza concede aos seres vivos que do
seu seio nascem, segundo as capacidades de cada um deles. Quanto à fé (ou confiança) sobrenatural,
só se fala dela em contexto religioso e só os humanos podem receber esse dom.
Receber esse dom porque – segundo dizem os crentes – ele não é dado pela
natureza mas é um especial dom de Deus. É sobrenatural o acto de fé, enquanto
tal, e também são sobrenaturais os conteúdos a acreditar: que existe um Deus
pessoal criador e salvador dos homens, a eles oferecendo, a cada um, uma vida
muito feliz para além da morte.
Mas quem fala de fé (ou confiança)
só pode ser quem possui palavras e conceitos e tem consciência de si próprio e
dos possíveis objectos por aqueles e aquelas representados. Portanto seres
imaginativos, pensantes e conscientes. É certo que as plantas e os simples
animais, como seres vivos que são, também sentem à sua maneira as mudanças que
se vão operando nos seus corpos (provocando, por exemplo, aquele “sobressalto”
de Primavera), mas só o ser humano as pensa, as conhece, as verbaliza e delas
tem consciência.
Para que a nossa fé ou confiança na
natureza e na vida possa ser possível, é preciso que haja, na mesma natureza, não
mais que um deus imanente, essa ínsita dinâmica natural que dirige e determina,
em grande parte, a evolução. Esse é o deus de Einstein. É esse deus que organiza
os espaços no universo, e que aqui produz e transforma as pedras, dá e guia a
vida das plantas e dos animais e, em grandíssima parte, também a nossa vida.
Por isto é que a mamã recente não tem receio de que o seu bebé não aprenda a
comer e a rir e a falar, e, também por isto, nas grandes aflições da vida, nós
confiamos que esses problemas se hão-de resolver.
Esta é a nossa fé natural, fé nesse
deus natural ou imanente à natureza. E, como já sugerimos, Einstein, por
exemplo, não aceita o Deus pessoal bíblico criador e salvador. Não precisa dele
para se entender e explicar a si mesmo e ao universo.
Porque é que os crentes acreditam
num Deus pessoal e criador? Não será porque desejam, porque querem, porque
precisam de um deus salvador? Se não desejassem-quisessem-precisassem dele,
como salvador, importar-se-iam com o Deus criador? No limite, a essa divina
entidade, a existir, eles não seriam indiferentes?
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