Há um ribeiro a correr na minha
aldeia
e quando corre o ribeiro da minha
aldeia
eu sento-me numa das suas margens
ora de uma ora de outra
sobre a erva
a beber o murmúrio das águas
e a ver beber, das águas,
das frondes descendo dos freixos
as borboletas e os besouros
elas e eles não tendo boca eu sei
mas bebendo
como também os pássaros bebem
encostando à múrmura linfa os bicos
Mas quando não corre o ribeiro da
minha aldeia
não podendo eu então beber do
murmúrio das águas
há só lá no fundo um leito um sulco
seco
ora areento ora lascado de lodo
não me sentando eu nessas estéreis
margens
de um não ribeiro
Mas quando buliçoso o ribeiro corre
na estação dos abrolhos e das
folhagens
ou no princípio do verão
e tudo por aí e em suas cercanias
regurgita de vida
pelo chão e pelo ar
então é que eu me sento nessas
margens
bebendo do murmúrio das águas
de um múrmuro ribeiro
que só corre dentro de mim
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