6 - Escrevendo sobre o “sentido da fé na criação”, e depois de
dizer que no começo do universo só havia “o bom Deus, que é a origem de todos e
de tudo”, Hans Kung logo adianta que “a grande finalidade do processo criador”
é “o Homem – não isolado mas no centro do cosmos” (p. 136). Não basta portanto,
para ele, acrditar que o bom Deus está na origem do universo: é preciso também
acreditar que o Homem é o fim do universo, a primordial finalidade da criação.
Quer isto dizer que, sempre com a presença da acção criadora do bom Deus, tudo
está “afinado” para que não só a evolução tivesse desembocado na humanidade,
mas também que esta mesma seja a principal finalidade de toda a evolução
cósmica. De todo o universo ou só dos planetas do nosso sistema solar?
Apoiado nos
estudos da ciência, o autor conclui que, muito provavelmente, não haverá vida
complexa na nossa galáxia, para além da que existe neste minúsculo cantinho
cósmico que é a Terra. Mas conhecerá porventura já, o ser humano, toda esta
nossa imensa galáxia em que nos situamos, se ainda nem explorámos devidamente todos
os planetas que orbitam o nosso Sol? Não haverá vida semelhante à nossa, ou até
mais perfeita em toda esta imensa galáxia, ou noutro canto do universo? Se, por
trágica hipótese, esta globalizada e desregulada humanidade se exterminasse a
si própria e desaparecesse – como aliás já desapareceram outras espécies de
seres vivos –, a evolução não continuaria, agora sem esta humanidade, até se
atingir porventura uma nova humanidade ou outra espécie de vida mais perfeita?
Por outro
lado, que estranho é dizer-se que “a grande finalidade” da criação é “o Homem –
não isolado, mas no centro do universo”! Mas, se for assim, o ser humano não
precisava de um universo tão grande! E qualquer canto do universo é sempre o
centro do universo! Já existimos há 200.000 anos e, para além de explorarmos e
conhecermos a Terra, ainda só demos uns passitos na Lua! Para quê então esta
imensidão universal que ainda continua a expandir-se? Não haverá aqui
desproporção entre as duas realidades que são o Homem e o universo, se acaso
este foi criado para ele? Não poderá acusar-se Deus de ostentação ou de ser
exageradamente mãos-largas, se não até perdulário? Não nos serviria muito
melhor um universo muito mais maneirinho, mais à nossa limitadíssima medida?
Para quê, como diz o povo, “tanta estragação para tão pouco”? “Não havia
necessidade”!
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