quarta-feira, 2 de maio de 2012

62.6 - O Sentido da Fé na Criação


6 - Escrevendo sobre o “sentido da fé na criação”, e depois de dizer que no começo do universo só havia “o bom Deus, que é a origem de todos e de tudo”, Hans Kung logo adianta que “a grande finalidade do processo criador” é “o Homem – não isolado mas no centro do cosmos” (p. 136). Não basta portanto, para ele, acrditar que o bom Deus está na origem do universo: é preciso também acreditar que o Homem é o fim do universo, a primordial finalidade da criação. Quer isto dizer que, sempre com a presença da acção criadora do bom Deus, tudo está “afinado” para que não só a evolução tivesse desembocado na humanidade, mas também que esta mesma seja a principal finalidade de toda a evolução cósmica. De todo o universo ou só dos planetas do nosso sistema solar?
Apoiado nos estudos da ciência, o autor conclui que, muito provavelmente, não haverá vida complexa na nossa galáxia, para além da que existe neste minúsculo cantinho cósmico que é a Terra. Mas conhecerá porventura já, o ser humano, toda esta nossa imensa galáxia em que nos situamos, se ainda nem explorámos devidamente todos os planetas que orbitam o nosso Sol? Não haverá vida semelhante à nossa, ou até mais perfeita em toda esta imensa galáxia, ou noutro canto do universo? Se, por trágica hipótese, esta globalizada e desregulada humanidade se exterminasse a si própria e desaparecesse – como aliás já desapareceram outras espécies de seres vivos –, a evolução não continuaria, agora sem esta humanidade, até se atingir porventura uma nova humanidade ou outra espécie de vida mais perfeita?
Por outro lado, que estranho é dizer-se que “a grande finalidade” da criação é “o Homem – não isolado, mas no centro do universo”! Mas, se for assim, o ser humano não precisava de um universo tão grande! E qualquer canto do universo é sempre o centro do universo! Já existimos há 200.000 anos e, para além de explorarmos e conhecermos a Terra, ainda só demos uns passitos na Lua! Para quê então esta imensidão universal que ainda continua a expandir-se? Não haverá aqui desproporção entre as duas realidades que são o Homem e o universo, se acaso este foi criado para ele? Não poderá acusar-se Deus de ostentação ou de ser exageradamente mãos-largas, se não até perdulário? Não nos serviria muito melhor um universo muito mais maneirinho, mais à nossa limitadíssima medida? Para quê, como diz o povo, “tanta estragação para tão pouco”? “Não havia necessidade”!

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