1 - Olá! Para
o ser humano e logo desde o seu nascimento, a primeira coisa boa ou o primeiro bem é o leite materno e tudo o que lhe
está directamente associado: antes de mais, portanto, a própria chucha puxada
pelos lábios e saboreada pela língua, mas depois também as duas fontes que são os
seios e todo o corpo da mãe. Ao contrário, a primeira coisa má ou o primeiro mal, para o bebé, é ele tomar algum alimento
deteriorado, que portanto fará mal à sua vida.
Para o bebé, portanto, mamar é amar e amar é mamar, sendo eles sempre a acção que o
conduz para o seu bem, o leite, o primeiro bem e amor de todos os seus bens e
amores; enquanto que odiar é a acção
que o leva à rejeição do que já é mau para si, ou seja, a comida corrompida,
pois que esta lhe irá prejudicar a sua vida, a qual, logo desde a nascença, é o
sumo bem que ele procura defender e promover.
Para o bebé, porém, há-de vir o
tempo – como há muito já chegou para a mamã - o tempo em que amar não tem só e
especialmente um sentido centrípeto, um sentido que olha para a sua vida e o
seu eu, mas sobretudo um sentido centrífugo,
que se volta para os outros. Portanto, não é que o amor e o amar deixem de
constituir para os dois, já adultos, agora o bem e o alimento espirituais das
suas vidas, mas porque, então, o amor e a vida boa, para eles, e afinal para
todos os humanos, está mais no dar que no receber.
2 - Aquela posição dos lábios
juntos, com a língua por perto – lábios na posição de haurirem o leitinho
materno, e língua sempre pronta para gostar e sentir se esse precioso e
primeiro bem está em boas condições – é também, segundo acha o inspirado Alain,
a posição dos lábios que beijam. O beijo,
assim, é um gesto natural e cultural, um gesto simbólico com que presentificamos
um ou mais bens que, por serem mental alimento da vida, queremos dar e/ou
receber.
Quando uma mamã, dos seus seios,
pode dar de beber ao seu bebé e não dá, ela está a negar-lhe a primícia dos
bens e dos sabores daquilo que é realmente bom na vida, e bem assim a subtrair-lhe
a nascente do sentido que deverá ter depois o beijo dele a algo ou alguém. A
posição dos lábios do bebé para receber o leite da sua vida é a mesma que ele
irá usar depois para beijar, sendo que as duas acções, uma e outra, deverão
servir sempre para receber e/ou dar bens que vão alimentar vidas humanas.
De todos os beijos que damos ou
daremos na vida, os primeiros são nas maminhas da nossa mãe, puxando do seu
leite, o qual é, de todos os bens da vida, o primeiro e o melhor. E também
odiaremos sempre o mal porque, tal como já fizemos naqueles primeiros beijos, o
que sempre queremos é, em última instância, agarrar-nos à vida e defender dos
perigos esse grande bem que temos.
Porque o bem e o mal, para os seres
humanos, não são só e sobretudo abstracções. Aliás, realmente, o bem e o mal só
existem em entidades concretas. Desde o leite bom ou leite deteriorado, até à
bondade e à maldade, as quais sempre só podem existir em coisas ou pessoas boas
e más.
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