Olá!
Como sempre, também agora vou escrever para todos os meninos e meninas. Mas hoje, e nas duas próximas sessões, isto vai ser a doer! Só os Carlos Lopes e as Rosas Motas é que vão aguentar a passada e sobretudo a longa duração do esforço da corrida! Meti-me com o José Rodrigues dos Santos, no seu volumoso romance de “A Fórmula de Deus”, e ele pegou-me o vício pelos textos compridos. Sabem quem é esse José, não sabem? Então, falaremos do livro, e também falaremos com ele, se tal se nos tornar possível.
O José é um rapaz muito catita! Além de às escâncaras piscar o olho às telespectadoras e telespectadores à hora do Telejornal, ele escreve uns livros não só muito interessantes em termos de mercado, como também muito belos!
Em primeiro lugar, portanto, uns romances muito interessantes. Ele sabe cozinhá-los muito bem, com todos os ingredientes necessários e convenientes para serem excelentes produtos de mercado. No caso em apreço, se uma tal namoradinha Ariana que aqui vai aparecer, “é uma deusa na cama”, o livro do José tem sido uma bomba no mercado.
Vamos então ver por que razões é este romance uma obra interessante, no sentido de que é um excelente produto para vender e comprar. Antes de mais, há nele, embora não muito mas intenso erotismo, como já acenámos e ainda lá voltaremos. Depois, há variados e (alguns deles) exóticos espaços onde a acção se desenrola: Princeton (EUA), Lisboa, Coimbra, Cairo, Irão e Tibete. Por seu lado, a acção é manifestamente excitante, mesmo policial, aproximando-se do rocambolesco com raptos, sequestros e personagens desaparecidas. Há ainda o roubo de um documento secreto e a decifração dos seus enigmas, com a polícia secreta americana e iraniana a disputarem entre si a maior rapidez possível no desvendar dos segredos dessa “Fórmula de Deus”, o secreto manuscrito de Einstein. Faz-se também uma pormenorizada divulgação científica, raiando até a ficção científica … Pode então dizer-se que se trata de uma narrativa global, não só pelos espaços em que a acção decorre, como sobretudo pela actualidade dos assuntos versados, desde a proliferação do armamento nuclear, aos problemas de Deus e da morte, e do sentido da vida e do universo.
Mas voltemos ao erotismo. No contexto da disputa de armas nucleares entre a América e o Irão, quase logo ao princípio da narrativa, um agente omnisciente da polícia americana fala de uma certa Ariana, que é “uma deusa na cama”. No entanto, a rocambolesca trama em que foi metido o protagonista Tomás - que tem de servir simultaneamente a América e o Irão no decifrar do referido texto de Einstein, que as duas polícias erradamente pensavam ser um breve manual de fabrico de armas nucleares - levou a que o seu primeiro mergulho nessa divindade erótica demorasse muito, e não na cama mas sobre uma inóspita pedra! Não obstante, mesmo assim, ele valeu muito bem o sacrifício, não só pela generosidade com que os dois se aplicaram, como ainda por ter tido, no seu teatro de execução, o pano de fundo azul de um lago de águas límpidas no Tibete, lá no tecto do mundo. (Para onde a trama da história os levou, depois de se terem encontrado pela primeira vez, muito lá para trás, na cidade do Cairo).
De modo que, numa longuíssima narrativa como é esta e com personagens tão dotadas para tanto, estaríamos à espera de mais pelo menos um desses mergulhos e de semelhante aplicação, não numa tosca pedra em algures mas numa fofa cama … mas isso não chegou! Não se deu, não por via de algum puxão de orelhas aplicado pela Florbela às já largas e farfalhudas orelhas do seu José -Tomás na narrativa -, mas porque outros assuntos mais ponderosos para a economia da narrativa se atravessaram no caminho. Aliás, na vida real, a Florbela e o José sabem muito bem que não é pelo sexo que se chega ao amor – coisa que vai contra a opinião do mercado e dos incautos -, mas é o amor que se pode servir do sexo.
Não chegou um segundo desses divinos mergulhos porque, na parte final da narrativa, o boneco erótico teve de ser esquecido por virtude da premência do problema da morte (e da imortalidade) e do problema de Deus. Todos sucumbimos perante a morte de um ente querido (no caso vertente a morte do pai de Tomás) e todos a desejamos vencer e portanto ser imortais. Mas para colher o fruto desses desejos precisamos de um Deus que no-la dê, não é? Ou não precisamos?
Até aqui falámos de alguns ingredientes que fazem com que esta longa narrativa seja um produto muito interessante, em termos de mercado. Da sua bondade e beleza ainda não falámos expressamente, mas tais atributos já decorrem de quase tudo o que dissemos sobre o seu interesse. Além disso, há na obra, por exemplo, uma invulgar fluência narrativa, às vezes até com prejuízo de uma mais perfeita beleza formal da frase; há muito belas descrições a visualizar espaços físicos e sentimentos de alma; há enfim um dinamismo narrativo intenso, que não permite abandonar a leitura antes que cheguemos ao seu final.
Como podemos ver na capa do livro, não só o romance mas também o pequeno texto de Einstein, o qual texto inspira e fundamenta e percorre toda a narrativa, levam os dois o mesmíssimo título – A Fórmula de Deus -, só que no caso do segundo ele leva o título em alemão, que era a língua materna do cientista. Versam portanto os dois o mesmíssimo assunto, que é falarem sobre deus: se deus existe e, existindo, que espécie de deus é esse.
Assim, na longa narrativa, o José pretende apresentar duas provas científicas da existência de Deus, as duas baseadas em Einstein, uma delas apresentada ao narrador pelo “Budazinho” do Tibete – monge budista que fora discípulo de Einstein -, e a outra apresentada por Luís Rocha mas produzida por Siza, o qual, por sua vez, fora também discípulo de Einstein e companheiro de estudos do Budazinho. Ora, o que sucede é que, quando falamos de Deus e de provar a sua existência, as pessoas têm habitualmente no seu horizonte simbólico ou cultural o Deus da Bíblia e da religião, portanto o Deus Transcendente.
Concedamos aqui, por momentos, que é do Deus Transcendente que a narrativa está a falar, tentando provar cientificamente a existência desse Deus. E então, será que pode haver prova científica da existência de Deus? Mas como é que a ciência física, que é uma ciência experimental, pode provar a existência daquilo que não é experimentável? Ou será essa existência experimentável? Das duas uma, ou deus não é experimentável, e esse deus é que seria o Deus Transcendente, ou ele é experimentável, e temos simplesmente o deus imanente, sendo só este a poder ser objecto de conhecimento científico.
É preciso, portanto, esclarecermos isto muito bem aos leitores, amigo José, porque o deus de que falas na narrativa e para cuja existência intentas apresentar duas provas é só e sempre o deus imanente, aquele que no interior da evolução joga a sua sorte, nela sujando as suas próprias mãos. Porque ninguém, dentro da narrativa, - nem o patriarca Einstein, nem os seus dois discípulos e também o Luís Rocha que fora colaborador universitário de Siza, todos já referidos, nem o próprio narrador e suponho que, já fora da narrativa, também o autor – ninguém aceita o Deus Transcendente, o Deus da Bíblia e da religião!
Quer isto dizer que, se o José quisesse apor um subtítulo ao título do romance, podia ler-se na capa o seguinte:
A Fórmula de Deus
ou
(De como só existe um deus imanente)
E então, já a obra não seria uma bomba no mercado, porque venderia muito menos!
Como sempre, também agora vou escrever para todos os meninos e meninas. Mas hoje, e nas duas próximas sessões, isto vai ser a doer! Só os Carlos Lopes e as Rosas Motas é que vão aguentar a passada e sobretudo a longa duração do esforço da corrida! Meti-me com o José Rodrigues dos Santos, no seu volumoso romance de “A Fórmula de Deus”, e ele pegou-me o vício pelos textos compridos. Sabem quem é esse José, não sabem? Então, falaremos do livro, e também falaremos com ele, se tal se nos tornar possível.
O José é um rapaz muito catita! Além de às escâncaras piscar o olho às telespectadoras e telespectadores à hora do Telejornal, ele escreve uns livros não só muito interessantes em termos de mercado, como também muito belos!
Em primeiro lugar, portanto, uns romances muito interessantes. Ele sabe cozinhá-los muito bem, com todos os ingredientes necessários e convenientes para serem excelentes produtos de mercado. No caso em apreço, se uma tal namoradinha Ariana que aqui vai aparecer, “é uma deusa na cama”, o livro do José tem sido uma bomba no mercado.
Vamos então ver por que razões é este romance uma obra interessante, no sentido de que é um excelente produto para vender e comprar. Antes de mais, há nele, embora não muito mas intenso erotismo, como já acenámos e ainda lá voltaremos. Depois, há variados e (alguns deles) exóticos espaços onde a acção se desenrola: Princeton (EUA), Lisboa, Coimbra, Cairo, Irão e Tibete. Por seu lado, a acção é manifestamente excitante, mesmo policial, aproximando-se do rocambolesco com raptos, sequestros e personagens desaparecidas. Há ainda o roubo de um documento secreto e a decifração dos seus enigmas, com a polícia secreta americana e iraniana a disputarem entre si a maior rapidez possível no desvendar dos segredos dessa “Fórmula de Deus”, o secreto manuscrito de Einstein. Faz-se também uma pormenorizada divulgação científica, raiando até a ficção científica … Pode então dizer-se que se trata de uma narrativa global, não só pelos espaços em que a acção decorre, como sobretudo pela actualidade dos assuntos versados, desde a proliferação do armamento nuclear, aos problemas de Deus e da morte, e do sentido da vida e do universo.
Mas voltemos ao erotismo. No contexto da disputa de armas nucleares entre a América e o Irão, quase logo ao princípio da narrativa, um agente omnisciente da polícia americana fala de uma certa Ariana, que é “uma deusa na cama”. No entanto, a rocambolesca trama em que foi metido o protagonista Tomás - que tem de servir simultaneamente a América e o Irão no decifrar do referido texto de Einstein, que as duas polícias erradamente pensavam ser um breve manual de fabrico de armas nucleares - levou a que o seu primeiro mergulho nessa divindade erótica demorasse muito, e não na cama mas sobre uma inóspita pedra! Não obstante, mesmo assim, ele valeu muito bem o sacrifício, não só pela generosidade com que os dois se aplicaram, como ainda por ter tido, no seu teatro de execução, o pano de fundo azul de um lago de águas límpidas no Tibete, lá no tecto do mundo. (Para onde a trama da história os levou, depois de se terem encontrado pela primeira vez, muito lá para trás, na cidade do Cairo).
De modo que, numa longuíssima narrativa como é esta e com personagens tão dotadas para tanto, estaríamos à espera de mais pelo menos um desses mergulhos e de semelhante aplicação, não numa tosca pedra em algures mas numa fofa cama … mas isso não chegou! Não se deu, não por via de algum puxão de orelhas aplicado pela Florbela às já largas e farfalhudas orelhas do seu José -Tomás na narrativa -, mas porque outros assuntos mais ponderosos para a economia da narrativa se atravessaram no caminho. Aliás, na vida real, a Florbela e o José sabem muito bem que não é pelo sexo que se chega ao amor – coisa que vai contra a opinião do mercado e dos incautos -, mas é o amor que se pode servir do sexo.
Não chegou um segundo desses divinos mergulhos porque, na parte final da narrativa, o boneco erótico teve de ser esquecido por virtude da premência do problema da morte (e da imortalidade) e do problema de Deus. Todos sucumbimos perante a morte de um ente querido (no caso vertente a morte do pai de Tomás) e todos a desejamos vencer e portanto ser imortais. Mas para colher o fruto desses desejos precisamos de um Deus que no-la dê, não é? Ou não precisamos?
Até aqui falámos de alguns ingredientes que fazem com que esta longa narrativa seja um produto muito interessante, em termos de mercado. Da sua bondade e beleza ainda não falámos expressamente, mas tais atributos já decorrem de quase tudo o que dissemos sobre o seu interesse. Além disso, há na obra, por exemplo, uma invulgar fluência narrativa, às vezes até com prejuízo de uma mais perfeita beleza formal da frase; há muito belas descrições a visualizar espaços físicos e sentimentos de alma; há enfim um dinamismo narrativo intenso, que não permite abandonar a leitura antes que cheguemos ao seu final.
Como podemos ver na capa do livro, não só o romance mas também o pequeno texto de Einstein, o qual texto inspira e fundamenta e percorre toda a narrativa, levam os dois o mesmíssimo título – A Fórmula de Deus -, só que no caso do segundo ele leva o título em alemão, que era a língua materna do cientista. Versam portanto os dois o mesmíssimo assunto, que é falarem sobre deus: se deus existe e, existindo, que espécie de deus é esse.
Assim, na longa narrativa, o José pretende apresentar duas provas científicas da existência de Deus, as duas baseadas em Einstein, uma delas apresentada ao narrador pelo “Budazinho” do Tibete – monge budista que fora discípulo de Einstein -, e a outra apresentada por Luís Rocha mas produzida por Siza, o qual, por sua vez, fora também discípulo de Einstein e companheiro de estudos do Budazinho. Ora, o que sucede é que, quando falamos de Deus e de provar a sua existência, as pessoas têm habitualmente no seu horizonte simbólico ou cultural o Deus da Bíblia e da religião, portanto o Deus Transcendente.
Concedamos aqui, por momentos, que é do Deus Transcendente que a narrativa está a falar, tentando provar cientificamente a existência desse Deus. E então, será que pode haver prova científica da existência de Deus? Mas como é que a ciência física, que é uma ciência experimental, pode provar a existência daquilo que não é experimentável? Ou será essa existência experimentável? Das duas uma, ou deus não é experimentável, e esse deus é que seria o Deus Transcendente, ou ele é experimentável, e temos simplesmente o deus imanente, sendo só este a poder ser objecto de conhecimento científico.
É preciso, portanto, esclarecermos isto muito bem aos leitores, amigo José, porque o deus de que falas na narrativa e para cuja existência intentas apresentar duas provas é só e sempre o deus imanente, aquele que no interior da evolução joga a sua sorte, nela sujando as suas próprias mãos. Porque ninguém, dentro da narrativa, - nem o patriarca Einstein, nem os seus dois discípulos e também o Luís Rocha que fora colaborador universitário de Siza, todos já referidos, nem o próprio narrador e suponho que, já fora da narrativa, também o autor – ninguém aceita o Deus Transcendente, o Deus da Bíblia e da religião!
Quer isto dizer que, se o José quisesse apor um subtítulo ao título do romance, podia ler-se na capa o seguinte:
A Fórmula de Deus
ou
(De como só existe um deus imanente)
E então, já a obra não seria uma bomba no mercado, porque venderia muito menos!
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