terça-feira, 5 de abril de 2011

TEXTO 14.1

Olá, meninas e meninos! Falemos hoje aqui de dois em um, ou seja, de duas realidades que, sendo embora diferentes, também são uma só. Estas duas realidades são o conhecimento e o amor. Por isso, na primeira parte do texto, falaremos especialmente do conhecimento, sem no entanto podermos olvidar o amor. Na segunda, falaremos em primeira mão do amor, sem podermos esquecer o conhecimento. Na passada semana, no alto do miradouro (ver texto 13.3), nós falámos de um outro nível de conhecimento, mais sublime do que aquele que nos é dado pela razão. Lembram-se disso, não lembram? E dissemos que o tal outro modo de conhecer é o conhecimento pelo amor, e que, portanto, o mais genuíno umbigo do mundo deve ser o amor. Por ele, nos devemos alimentar. Habitualmente, nós, os adultos, conhecemos através de conceitos. Aquilo que se nos depara como novo procuramos encaixá-lo nos conceitos que já temos, procedendo assim ao seu conhecimento. Mas isto não será conhecer o novo com o velho que já está na memória? O espanto e o encantamento pela novidade não morrerão ali, logo à nascença? De outro modo bem diverso conhecem as crianças pequeninas, porque elas ainda não têm a mente formatada de conceitos. Uma menina, por exemplo, pode brincar meses a fio com a mesma boneca, sem perder o encantamento inicial pelo brinquedo! Para ela, a boneca não é uma boneca, mas simplesmente a boneca. Os adultos é que, já embotados pela sociedade de consumo e de desperdício, arrancam muitas vezes as crianças daquela repetida mas sempre nova brincadeira e contemplação, abarrotando-as de novos brinquedos com que as forçam a ultrapassar rapidamente a fase do encantamento e lhes antecipam a fase dos conceitos. Mas é habitual, digamo-lo de novo, conhecer através de conceitos. Ao falar-nos do amor, Eric Fromm escreve: “para além do acto de dar, o carácter activo do amor torna-se evidente pelo facto de implicar necessariamente alguns elementos básicos, comuns a todas as formas de amor. Estamos a falar de cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento” (o sublinhado é nosso). Há portanto um modo outro de conhecer, que é conhecer pelo amor. A razão só pode conhecer por cristalizações conceptuais, que de algum modo nos afastam das puras realidades e da vida. Sobretudo, só conhecendo pelo amor, podemos conhecer as coisas vivas, precisamente, como diz Fromm, pela “experiência de união” com elas! Com os conceitos da razão, anula-se o vigor das respectivas realidades. Conhece-se de uma forma esbatida, parcelar e não viva. Não é verdadeiramente co-nh-ecer, no sentido de nascer-com-algo ou alguém, nascer-com/para-a-vida. Conhecer pela razão é conhecer com espírito científico e não vivencial; é ver em laboratório e não no teatro da vida. Só podemos conhecer verdadeiramente a vida através do amor. Conhecer pelo (acto de) amor não é conhecimento fornecido pela razão: não é um “conhecimento comum, racional” (as citações são sempre de Eric Fromm, em A Arte de Amar). O conhecimento completo só pode estar no acto de amor, pois ele “transcende o pensamento e as palavras”. Ele é “uma corajosa entrega à experiência da união”. Claro que o conhecimento racional é “condição para o conhecimento total, no acto de amor: só conhecendo um ser humano objectivamente é que posso conhecê-lo na sua derradeira essência, no acto de amar”. Por isto é que os casos de conhecer o Homem e conhecer Deus são bem diversos, pois a Deus ninguém vê, isto é, ninguém o pode conhecer em termos objectivos. Tanto a experiência da união com o Homem, como com Deus (o Deus dos místicos e não o dos teólogos), não é irracional, mas antes “a consequência mais ousada e radical do racionalismo”. Ela baseia-se no conhecimento que temos das limitações do nosso habitual modo de conhecer, pelo qual vemos que, com ele, “nunca possuiremos o segredo do Homem e do universo, mas que podemos, ainda assim, através do acto de amar, conhecer profundamente”. Conhecer pela razão dá saberes; conhecer pelo amor não dá saberes, mas é “a única maneira de conhecermos as coisas vivas – pela experiência da união, e não por conhecimento que a razão forneça”. Queridos meninos e meninas, estão a ver como, falando nós de conhecer, não podemos deixar de falar já de amar? A seguir, na segunda parte do texto e na próxima semana, falaremos em primeira mão de amar, sem podermos esquecer o conhecer.

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