4 – A vida não nos deve nada, vem-nos sempre gratuitamente:
assim como nos veio e ainda continua a vir, assim nos pode abandonar num ai. E
por isso, se ainda temos vida, como temos, se ela ainda nos habita mesmo que já
possuídos por alguma doença, festejemo-la com dignidade, bebamos desse vinho
... até cair!
Temos medo da morte? Porquê termos medo de uma coisa
desconhecida? Ele é mesmo medo da realidade que será a morte em cada um de nós,
ou ele é só uma elaboração do nosso eu
mental, que, agarrado à vida como está, não quer morrer? O que custa não é
morrer, nem muito menos estar morto. O que custa é o sofrimento a que
geralmente estamos sujeitos até lá chegarmos. Se nada me importa não ter
existido antes de nascer, porque me hei-de importar com o depois da morte?
Talvez nos custe
admitir que a nossa morte faz parte da nossa vida, ou então que a nossa vida é
como uma doença crónica que nos acompanha desde o berço até à tumba. Mas, se o
admitirmos, como parece razoável, não só sentiremos que o sofrimento causado
pelas dores é menor, como também que a alegria de estar vivo é mais pura e mais
intensa.
Além de tudo isto, este mundo em que vivo já há bastantes
anos, foi-se transformando num mundo desinteressante, desinteressante e baço,
baço e perigoso. Liberdade? Liberdade de expressão? Sim, claro, liberdade. Mas
liberdade inteligente e por isso contida, liberdade começando por ser exercida
dentro de nós – não sejamos nós escravos de nós mesmos –, liberdade que floresça
para produzir o mais saboroso fruto que podemos ter na vida, o fruto do amor.
Sem comentários:
Enviar um comentário