Comunicação num
Colóquio sobre “Onde Pára a Felicidade? – Abordagem Gerontológica”, em
Montemor-o-Velho
1 - Quando adrego vir à vetusta vila de Montemor-o-Velho,
quase sempre me não dispenso de visitar as cegonhas, à entrada do Clube
Náutico. Ver e estar com elas e, quando calha, até almoçar ao pé delas. Trago
um farnel e como ali sentado no sopé de um alto choupo, onde, lá em cima, pairam
os seus ninhos, cuidando eu, naturalmente, que tais ninhadas não me acrescentem
o lanche. Por acaso, hoje não vou. Almoçarei junto de uns domésticos melros
que, embora me andem a picar o macio musgo do chão à volta da casa, são
pródigos donos de um muito belo cantar por todo o ano, mas sobretudo na estação
que lhes é mais própria.
Vamos então ao que hoje a Montemor me traz, de forma
especial, que é dirigir-vos algumas palavras sobre o tema em epígrafe: “Onde Pára
a Felicidade? – Abordagem Gerontológica”. Eu não sou gerontólogo, mas sim simplesmente
geronte: não há que negá-lo nem fugir a essa condição. Não possuo portanto a
académica ciência da especialidade, como aquele tem, mas tenho já alguma
vivencial sabedoria sobre essa idade, a qual os meus 75 bem medidos já me vão
fornecendo. De facto, muita gente poderá falar sobre a felicidade numa
abordagem gerontológica, mas estas minhas palavras terão pelo menos a vantagem
de constituírem um testemunho vivo sobre o assunto porque, como geronte, falo
do que sinto. Do que sinto, e de como poderei potenciar os meios para me tornar
cada vez mais feliz.
E começando já pela interrogação que se instalou no título do
Colóquio – Onde Pára a Felicidade? – tenho
de dizer que a felicidade não existe em si própria, e portanto, com tal
declaração, se responde à questão formulada. A felicidade não pára nem anda,
porque felicidade é simplesmente um
nome, para mais abstracto. O que existe mesmo, realmente, é um João (que sou
eu) que é (ou sou) relativamente feliz, como também existem realmente três bem
determinadas e conhecidas jovens, porventura felicíssimas nas suas idades ainda
e por enquanto juvenis.
É então partindo desta minha realidade de pessoa idosa e com
base na minha já razoável experiência desta idade que vos vou dizer alguma
coisa sobre como tenho construído a minha mediana felicidade de geronte e, a partir
daqui, algo do que vai ser dito se poderá aplicar às pessoas de semelhante
idade. Poderá aplicar ou também não aplicar, se atendermos a que cada pessoa é
em tudo, e portanto também aqui, um caso singular.
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