3 - Havia pois, nessa altura, no lar, e para além de muitos
meninos e meninas velhinhos, “três meninas ainda tenrinhas”, já acima citadas,
as quais ainda lá continuam a trabalhar, se bem que agora já um tanto durázias.
E então, uma vez, quando as apanhei juntas, desfechei-lhes uma pergunta em desafio:
“Olhem lá, e se nós abríssemos um blog em que contássemos desta nossa vida aqui
dentro”? Uma reunião bastou para tudo ficar decidido. O blog levaria o título
de “O Clube dos Poetas Vivos” e teria como subtítulo “O Fascínio pela Vida,
pela Vida Breve que nos Possui neste Planeta Azul”. Elas chegaram mesmo a
redigir acta para que constasse a decisão, mas depois, como elas fossem aos
pardais e também aos seus ofícios na instituição, eu fiquei sozinho a lavrar os
textos, seu lavrador permanecendo até à data presente.
Somos os quatro (elas e eu) ainda vivos e, na altura,
entendemos que éramos ou poderíamos ser ao menos latamente poetas e instituir
um clube com essa finalidade poética. Pois que, olhando bem a vida, esta vida
breve que nos possui neste planeta azul, não é de nós ficarmos fascinados com
tão significativa realidade? Sabem de onde vem a palavra “fascínio”? Ela provém
precisamente do vocábulo latino “fascinum”, que, nessa língua mãe, significava falo. Precisamente, falo. Mas aqui, subindo a um novo patamar de sentido, ele era então
e é agora, para nós, esse profundo encantamento pela vida que nos possui ou em
que nós andamos metidos.
Quantas coisas há no mundo – no macro e microcosmos – a
requerer o nosso deslumbramento, mesmo só perguntando e sem colhermos as
respostas! Como será a vida, se é que ela existe, noutros planetas ou luas
dessas inúmeras galáxias? Se o átomo fosse vivo como nós, como veria ele esta
matéria extensa e mais ou menos dura que nos é tão familiar? E como é o mundo
dos morcegos ou das cegonhas?
O blog de que estamos falando está cheio destas ressumbrantes
perguntas. Se alguém se entregasse ao ciclópico trabalho de contar todas as
perguntas aí formuladas, contaria com certeza centenas. No texto 18, por
exemplo, imagina-se uma conversa com o meu amigo e colega Francisco (aí também
chamado José), o qual já não está entre nós e era de todos conhecido. Aí se
fala sobre profundos assuntos da nossa vida humana. E depois de imaginariamente
lhe formular várias perguntas, termino assim o texto: “Por mim, caro Francisco,
por mim, simplesmente sondo, simplesmente vou fazendo perguntas. E não me importo
de passar o resto da vida assim, sondando e perguntando, pois não me faltam motivos
de alegria para viver”.
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