segunda-feira, 30 de março de 2015

285.3

3 - Havia pois, nessa altura, no lar, e para além de muitos meninos e meninas velhinhos, “três meninas ainda tenrinhas”, já acima citadas, as quais ainda lá continuam a trabalhar, se bem que agora já um tanto durázias. E então, uma vez, quando as apanhei juntas, desfechei-lhes uma pergunta em desafio: “Olhem lá, e se nós abríssemos um blog em que contássemos desta nossa vida aqui dentro”? Uma reunião bastou para tudo ficar decidido. O blog levaria o título de “O Clube dos Poetas Vivos” e teria como subtítulo “O Fascínio pela Vida, pela Vida Breve que nos Possui neste Planeta Azul”. Elas chegaram mesmo a redigir acta para que constasse a decisão, mas depois, como elas fossem aos pardais e também aos seus ofícios na instituição, eu fiquei sozinho a lavrar os textos, seu lavrador permanecendo até à data presente.
Somos os quatro (elas e eu) ainda vivos e, na altura, entendemos que éramos ou poderíamos ser ao menos latamente poetas e instituir um clube com essa finalidade poética. Pois que, olhando bem a vida, esta vida breve que nos possui neste planeta azul, não é de nós ficarmos fascinados com tão significativa realidade? Sabem de onde vem a palavra “fascínio”? Ela provém precisamente do vocábulo latino “fascinum”, que, nessa língua mãe, significava falo. Precisamente, falo. Mas aqui, subindo a um novo patamar de sentido, ele era então e é agora, para nós, esse profundo encantamento pela vida que nos possui ou em que nós andamos metidos.
Quantas coisas há no mundo – no macro e microcosmos – a requerer o nosso deslumbramento, mesmo só perguntando e sem colhermos as respostas! Como será a vida, se é que ela existe, noutros planetas ou luas dessas inúmeras galáxias? Se o átomo fosse vivo como nós, como veria ele esta matéria extensa e mais ou menos dura que nos é tão familiar? E como é o mundo dos morcegos ou das cegonhas?

O blog de que estamos falando está cheio destas ressumbrantes perguntas. Se alguém se entregasse ao ciclópico trabalho de contar todas as perguntas aí formuladas, contaria com certeza centenas. No texto 18, por exemplo, imagina-se uma conversa com o meu amigo e colega Francisco (aí também chamado José), o qual já não está entre nós e era de todos conhecido. Aí se fala sobre profundos assuntos da nossa vida humana. E depois de imaginariamente lhe formular várias perguntas, termino assim o texto: “Por mim, caro Francisco, por mim, simplesmente sondo, simplesmente vou fazendo perguntas. E não me importo de passar o resto da vida assim, sondando e perguntando, pois não me faltam motivos de alegria para viver”.

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