3 - Se, com os
olhos da mente, olharmos para dentro da nossa própria mente, verificamos que,
em termos muito gerais, ela se constitui de alma e de espírito. Tem esta nossa
mente – bendita luz ou flor que do corpo se acende ou floresce -, antes de mais
a alma. A esta nossa passiva alma sobem as paixões do corpo: as paixões da
ternura, da tristeza, da alegria, da ira, da ambição, do medo … Paixões que
irão ser observadas e julgadas pelo nosso espírito, que vai levar o corpo – se
este lhe obedecer, é claro – a agir como convém.
Tem também a nossa
incorpórea mente o activo espírito, no qual avultam o imaginar e o pensar. Com
o imaginar e o pensar – o corpo vai ajudando também -, os humanos desenvolvem
as ciências e as artes, criam mundos simbólicos, executam as suas profissões,
organizam e regulam a sua vida particular e social.
Mas também com o
imaginar e o pensar, sobretudo se os voltarmos para dentro, nós podemos cavar a
nossa ruína mental e física. Isso pode acontecer quando - embora sempre presos
à terra porque florescem do corpo, e movidos pelas paixões da alma - a
imaginação e o pensamento voam soltos para onde lhes apetece, sem qualquer
comando. E então, nesse voo vertiginoso e sem fronteiras, atrás do imaginar vai
o pensar, o agora pensado vai por sua vez ser imaginado, este imaginado vai ser
logo pensado, e assim por diante sem fim, se o mesmo espírito não for capaz de
suster esta volúpia!
4 - Por isto é que,
em assuntos da nossa vida interior, convém meter rédeas firmes mas suaves à imaginação
e ao pensamento, não permitindo que andem descomandados e vadios por longes. É
importante que – todos estamos a ver, não é? – é importante que o impassível
espírito não se deixe arrastar pelas nocivas paixões da alma mas, ao contrário,
embora em cumplicidade com o corpo, este e a mente, (através do espírito porque
nela só ele é activo), procedam àquilo
que é melhor e necessário para os dois, na sua condição de elementos fundantes
da unidade humana.
Uma maneira de isto
se fazer é enrolarmos o fio do aéreo papagaio que é a nossa mente a voar pelo
ar, lá fora, e trazermos o imaginar e o pensar para terra, para a casinha do
corpo. Isto irá fazer bem ao corpo e também à mente. A imaginação e o
pensamento, agora dentro do seu corpo, devem acompanhar os actos do corpo, como
pode ser o manifesto caso do comer e de outras actividades diárias, assim
fazendo com que os nossos actos não sejam meramente maquinais. Acompanharmos
esses actos, e às vezes até podermos estar mesmo dentro deles, uma só realidade
nos constituindo juntamente com tais actos, como é quando um cientista está
fazendo as suas investigações em laboratório, ou quando alguém mergulha no
gostoso mar de uma boa leitura, nela se perdendo.
Vejam agora bem,
amigas e amigos, vejam bem a importância deste acompanhamento e até fusão de
nós mesmos com aquilo que vamos fazendo. A mente repousa porque deixa de
vaguear perdida pelo ar e está agora onde deve estar, porque é do corpo que ela
sempre floresce e com isso pode dar frutos; e o corpo, por seu lado,
sentir-se-á acompanhado e também mais animado e por isso mais saudável. Mente e
corpo em unidade perfeita, mente sã em corpo são.
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