quinta-feira, 12 de março de 2015

281.3-4 - Enrolando o Fio do Aéreo Papagaio

3 - Se, com os olhos da mente, olharmos para dentro da nossa própria mente, verificamos que, em termos muito gerais, ela se constitui de alma e de espírito. Tem esta nossa mente – bendita luz ou flor que do corpo se acende ou floresce -, antes de mais a alma. A esta nossa passiva alma sobem as paixões do corpo: as paixões da ternura, da tristeza, da alegria, da ira, da ambição, do medo … Paixões que irão ser observadas e julgadas pelo nosso espírito, que vai levar o corpo – se este lhe obedecer, é claro – a agir como convém.
Tem também a nossa incorpórea mente o activo espírito, no qual avultam o imaginar e o pensar. Com o imaginar e o pensar – o corpo vai ajudando também -, os humanos desenvolvem as ciências e as artes, criam mundos simbólicos, executam as suas profissões, organizam e regulam a sua vida particular e social.
Mas também com o imaginar e o pensar, sobretudo se os voltarmos para dentro, nós podemos cavar a nossa ruína mental e física. Isso pode acontecer quando - embora sempre presos à terra porque florescem do corpo, e movidos pelas paixões da alma - a imaginação e o pensamento voam soltos para onde lhes apetece, sem qualquer comando. E então, nesse voo vertiginoso e sem fronteiras, atrás do imaginar vai o pensar, o agora pensado vai por sua vez ser imaginado, este imaginado vai ser logo pensado, e assim por diante sem fim, se o mesmo espírito não for capaz de suster esta volúpia!

4 - Por isto é que, em assuntos da nossa vida interior, convém meter rédeas firmes mas suaves à imaginação e ao pensamento, não permitindo que andem descomandados e vadios por longes. É importante que – todos estamos a ver, não é? – é importante que o impassível espírito não se deixe arrastar pelas nocivas paixões da alma mas, ao contrário, embora em cumplicidade com o corpo, este e a mente, (através do espírito porque nela só ele é activo),  procedam àquilo que é melhor e necessário para os dois, na sua condição de elementos fundantes da unidade humana.
Uma maneira de isto se fazer é enrolarmos o fio do aéreo papagaio que é a nossa mente a voar pelo ar, lá fora, e trazermos o imaginar e o pensar para terra, para a casinha do corpo. Isto irá fazer bem ao corpo e também à mente. A imaginação e o pensamento, agora dentro do seu corpo, devem acompanhar os actos do corpo, como pode ser o manifesto caso do comer e de outras actividades diárias, assim fazendo com que os nossos actos não sejam meramente maquinais. Acompanharmos esses actos, e às vezes até podermos estar mesmo dentro deles, uma só realidade nos constituindo juntamente com tais actos, como é quando um cientista está fazendo as suas investigações em laboratório, ou quando alguém mergulha no gostoso mar de uma boa leitura, nela se perdendo.

Vejam agora bem, amigas e amigos, vejam bem a importância deste acompanhamento e até fusão de nós mesmos com aquilo que vamos fazendo. A mente repousa porque deixa de vaguear perdida pelo ar e está agora onde deve estar, porque é do corpo que ela sempre floresce e com isso pode dar frutos; e o corpo, por seu lado, sentir-se-á acompanhado e também mais animado e por isso mais saudável. Mente e corpo em unidade perfeita, mente sã em corpo são.

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