1 – Olá, amigas e
amigos! Depois dos textos 265 e 273, este é o derradeiro texto da tríade
inspirada em Hannah Arendt.
Somos então antes
de mais corpo, antes de mais matéria. Por isso, a nossa primeira atenção – flor esta nascendo do corpo mas
já sendo mental – deve ir para o que é corporal ou material. São os nossos
sentidos que, por estímulos neles recebidos, nos trazem notícias desse mundo
exterior a nós. Ou então, somos nós que, através dos mesmos sentidos, tomamos a
iniciativa de por eles as irmos buscar. Mas também os mesmos sentidos, e agora
também o(s) sentido(s) interno(s), nos dão informações do que se passa no nosso
corpo, externa e internamente.
Mas também somos
mente. Pressentimos isso através dos nossos sentidos, mas é sobretudo pela
própria mente, voltada para si própria, reflexamente, que o vemos claramente. A
mente recolhe os dados dos sentidos, transforma-os em emoções, sentimentos e
ideias, cria mundos simbólicos quase inimagináveis, e desfruta afinal de todo
esse alimento.
2 - É sobretudo
olhando e sentindo com atenção o nosso corpo – externa e internamente – que nós
ficamos a saber que somos tempo. É certo que o tempo também corre por dentro da
nossa mente: na infância somos uma nascente a fervilhar de perguntas, o mundo vai-se-nos abrindo em cores de esperança, mas
depois, pouco a pouco, rodando os anos, as cores do nosso mundo vão-se tornando
sombrias, pesadas, cedendo o passo às certezas,
realistas certezas, as perguntas da infância. Mas aquela certeza de que somos
tempo, de que somos seres com prazo de validade, é olhando com atenção para o
corpo que a colhemos: primeiro uma incipiente ruga a ensombrar o olhar, depois já
uns cabelinhos brancos na cabeça, a seguir o incómodo coxear de uma perna, uma
aflitiva dor no coração e por aí adiante até ao fim do nosso tempo.
Por tudo isto é
que, entre os humanos, nesta contraposição que sentimos e fazemos entre o corpo
e a mente, se arreigou a convicção da imortalidade: vemos claramente que o
nosso corpo é mortal, mas que talvez, da irremediável morte, se possa salvar a
etérea mente.
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