Quero que haja no vazio e no silêncio,
na ampla concha ainda
oca do mundo,
miríades de estrelas e planetas e cometas,
todos girando em suas rotas, muito certinhos,
- nem sei bem como já há tempo
e leis na natureza,
sem ainda os humanos os terem concebido –
e que num planeta, grão de areia no universo, apareçam
mares ondulantes em murmúrios de azul,
altas montanhas nevadas de silêncio,
todo o género de plantas e de bichos,
também os bichos humanos, com certeza
com esta vida breve que os possui no planeta azul
É pois no vazio e no silêncio primordiais
que se recortam os seres e os corpos com
o seu espaço o seu movimento e até o seu tempo
se nós esta medida lhes aplicarmos para as suas mudanças
por fora e por dentro e em inter-relação,
sem nunca perderem a sua primigénia matriz de silêncio
E tal como o bebé se evade da silente concha da mãe,
assim também melodiosos sons podem nascer do silêncio;
e se a mãe, nos braços, brinca com seu bebé,
assim também o menino Mozart, brincando,
modula modela a sua alta arte
de sons tecida, sim, mas não mais que de silêncios,
e bem sabe ele que o tempo não pode medir os silêncios,
(quando muito, mede o intervalo silencioso entre dois sons)
e que é sempre o primigénio Som, sem som,
o silêncio que lhe funda a sua suma arte
Também na brancura do vazio e do silêncio,
aladas ou densas, as humanas palavras
desenham o seu espaço e a sua melodia,
cuidam da urdidura do seu tempo:
pois só na devida ordem, umas antes outras depois,
elas ganham ou valorizam o seu sentido,
elas avultam modeladas moduladas no vazio e no silêncio,
só consumando a sua plenitude de sentido,
quando se der, por finda, essa cadeia de sons
Perfeita, porém, ainda não está a criação
do bicho humano, pois que é necessário e urgente
sentir-se o homem filho da Terra e respeitá-la,
confiar no outro homem como a erva se fia no vento,
fazer do dinheiro, sem usuras, o sangue das nações,
saber enfim que as emoções e a intuição são mais sábias
que as emproadas cristas ou píncaros da razão
Mas antes de tudo, de tudo mesmo,
haja a luz, no vazio e no silêncio,
para que tudo o mais possa vir a avultar
em seu próprio espaço e movimento
e também em seu tempo, pelos humanos concedido;
sim, haja a luz, uma vezes intensamente,
outras em penumbra em luar em sombra,
ainda feita noite, dormindo descansando,
para de novo tudo resplandecer e avultar,
doirada manhã de um novo dia e novo mundo
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