O pai da pátria levanta-se, aperta o
cinto das calças e ensaia uns passos lentos. Mas é-lhe quase impossível mover
as pernas, pelo peso que sente debaixo dos pés a agarrá-lo ao chão. Os
cientistas de serviço bem lhe diziam que, com mais passadas, se iria
habituando, mas ele sempre teve as suas desconfianças. Também sente muita
dificuldade em respirar: duas ou três passadas são o bastante para ficar
cansado. Mas como ele é uma pessoa muito determinada – não fosse ele o
presidente da pátria mais voluntariosa do mundo -, insiste, anda mais um tanto.
Até que tem de parar e sentar-se num
penedo vermelho, ali logo ao lado, a descansar. Senta-se da melhor maneira que
pode e põe-se a ver imaginando de muito longe as nações da Terra, o que o leva
a ganhar uma nova e mais exacta perspectiva em relação a essas realidades.
Pensando assim nos principais
problemas das nações da Terra, ele vê que a sua maioria deriva de um exagerado
optimismo da raça humana, assente no iluminismo, na ideia de um contínuo
progresso, na razão positivista e na técnica omnipotente, e vê claramente que
esses principais problemas são a financeirização descontrolada da economia, as
criminosas negociatas com o dinheiro que é sempre o sangue da economia das
nações, o consumismo, o egoísmo e o exacerbado patriotismo e orgulho das
nações.
Ele sabe muito bem que, nesse seu
planeta de origem, a selecção natural e a luta pela vida são próprias de toda a
vida vegetal e animal, mas agora também vê nitidamente que o bicho humano tem a
capacidade de deixar de ser lobo para o seu semelhante e tornar-se solidário.
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