segunda-feira, 13 de agosto de 2012

82 - Numa Prainha em Marte


Sentado ele numa imaginária praia marciana de fulvas areias e ondas mansas, a companheira desabotoa de uma sacola e serve um lanche apetitoso. É um real prato de “delícias do mar e da terra” para eles comerem com dois casqueiros de broa, mas tudo trazido do seu antigo planeta, enquanto a criança tenta, sempre em vão, levantar o seu papagaio no ar.
Num pequeno discurso de patriotismo comovido, dias antes – dos dias fora da Terra nunca sabemos a duração -, ele, o pai da pátria, tinha propalado urbi et orbi a façanha de terem posto em Marte o veículo Curiosidade, motivo de grande orgulho para a rica nação americana.
Mas mais uns tempos antes, quando acima de cem nações estiveram presentes ao mais alto nível na Conferência Rio­+20 para concertarem estratégias de desenvolvimento sustentável para o planeta azul, o pai da pátria não quis saber e primou por estar ausente!
Quer dizer, os bichos humanos não se entendem em salvar a vida no seu planeta, mas andam à procura dela num outro! Ou será mesmo por já não se entenderem que se apressam nesta demanda? E, já agora, não será também para espoliarem esse novo planeta, das suas riquezas minerais, se outras ainda não tiver? Porque falar de riqueza a esse grande país é como falar de manteiga em focinho de cão! Tiveram bons mestres, começando por Calvino, que os educaram nessa ambição!
É muito saudável e bom satisfazer-se a curiosidade, fazer a conquista do espaço e estender esta nossa vida complexa por outros cantos do Universo, sim senhor, mas haja decoro aqui na Terra, no respeito pela vida e na distribuição das riquezas.

Sem comentários:

Enviar um comentário