sexta-feira, 27 de abril de 2012

62.4 - O Caso de Teillard de Chardin


4 - Caminhemos agora de visita a um cemiteriozinho, não outra vez ao soalheiro cemiteriozinho de há tempos (13.2), mas a um outro muito mais longínquo, de companhia com Hans, a ver se encontramos a sepultura onde repousam os restos mortais de uma pessoa querida. E só depois de muito longas viagens e de porfiados esforços, lá encontrámos a tão por nós procurada campa rasa, meio abandonada.
Padre jesuíta francês, professor, iluminado poeta da evolução cósmica, Teillard de Chardin (1881-1955) defendeu pontos de vista demasiado arrojados para o seu tempo, mas quase todos agora aceitos por Hans. Na verdade, também Kung se delicia com a fé e a poesia de Teillard de Chardin, segundo as quais, na evolução das coisas do universo, há algo de mais profundo nelas do que elas próprias.
Segundo Teillard de Chardin, citado por Hans Kung, o próprio Deus não está ainda completamente feito, mas vai-se fazendo e completando na evolução: “também ele é um processo em progressão (…), culminando no Cristo cósmico universal, que é a unidade da realidade de Deus e do mundo em pessoa” (pp. 112-113). Mas tendo em consideração o alto conservadorismo das instituições religiosas, não admira que estas ideias de Teillard e outras suas semelhantes, tenham levado à proibição de circularem na Europa todas as obras científicas do autor, o tenham ainda impedido de ensinar em escolas católicas do mesmo continente, e também levado a ele ser abandonado pela sua congregação religiosa e pela sua amada Igreja Católica. Nos últimos tempos da sua vida, foi a América (USA) que o acolheu, aí tendo ainda leccionado e finalmente morrido e sido sepultado.
Mas também Kung, ele próprio, tem posições demasiado arrojadas para o tradicional conservadorismo da “Congregação da Fé”. Na verdade, ele defende por exemplo “um entendimento dinâmico de Deus”; um Deus “simultaneamente transcendente e imanente ao mundo”; um Deus que “não intervém milagrosamente na história”; em suma, “Deus é a própria dinâmica, ele cria o mundo em si mesmo, ele mantém-no e move-o invisivelmente de dentro” (p. 121).
            Mas se Deus é uma realidade absoluta, eterna e perfeita, como pode estar ele em desenvolvimento? Em que consiste esse seu desenvolvimento? Não lhe traz mais perfeição? Não o situa também no espaço e no tempo? E as criaturas não continuam a ser só criaturas? Não haverá aqui poesia ou falácia metafísica? 

1 comentário:

  1. Realmente dá que pensar e pensar.... e cada um que entenda à sua maneira......!!!
    Cada um de nós que defenda as suas ideias.
    Eu tenho “um entendimento dinâmico de Deus” muito semelhante à posição de Kung.
    Obrigado pela publicação.

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