sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

194 - Meditação


Quando, à hora do crepúsculo,
reunidas pelo estímulo dos chocalhos,
as indistintas ovelhas do rebanho
regressam ao aconchegado aprisco,
assim eu, livre da materialidade do corpo,
feito só pura energia cósmica,
mergulho no divino universo

Certo é que o meu corpo é energia,
e então, num primeiríssimo olhar,
parte indistinta seria
da unidade da energia cósmica.
Há porém um minúsculo senão
que se opõe a esta indistinção:
o verbo divino da energia
se fizera carne em mim,
da qual floresceu um eu,
distinto daquela imensidão

Mas agora, nesta noite iluminada,
 (já as ovelhas indistintas no aprisco)
mergulho e navego, também como indistinto,
no oceano da energia universal:
cessa o ansioso tagarelar do pensamento egóico
e nascem o agora sem espaço nem tempo,
o vazio e o silêncio, a consciência só de ser,
a alegria a paz a harmonia a intuição,
também as visualizações criadoras,
a fremente sensação de estar vivo
...

Já anda de novo o rebanho na colina,
a erva e o orvalho tosando, da manhã;
quanto a mim, verbo divino de energia,
avultando de novo a minha carne,
de novo me floresce, recriado, o eu

O sorriso de uma criança
O rumor da água num regato
uma ave a cantar, uma flor
o rebanho subindo pelo verde da colina

um universo novo está à minha espera

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