1 – Olá,
amigas e amigos, ainda se lembram daquela figura histórica que formou para si
um eu tão excelente e perfeito, como
jamais alguém pôde conseguir? Vimos isso no texto 189, e claro, já estamos a
perceber que se trata daquele Jesus histórico que nasceu em Nazaré, ensinou e
fez discípulos, acabando por ser condenado à morte em Jerusalém, pregado numa
cruz.
Intuitivamente,
ele foi formando e aperfeiçoando o seu eu,
e, já naquele texto, nós vimos em que campos essa excelência foi sendo conseguida:
ele foi um mestre sublime em razão das suas palavras, dos seus gestos
acompanhados de palavras mas também sem elas, e finalmente em razão dos seus
silêncios.
Entre as
palavras mais sublimes que com certeza proferiu – sabemo-lo bem -, figuram aquelas
já citadas no referido texto, as quais se prendem com a rejeição do hábito da
retaliação, ou seja, do “bates-me e logo levas”, e com a proposta do amor aos
inimigos, estes dois preceitos confluindo para, se forem cumpridos, podermos
vencer a violência entre (e dentro de) nós.
Mas há ainda
outras palavras suas, também sublimes, estas acompanhadas de rasgados e
corajosos gestos, que não podemos deixar de aqui e agora referir.
2 – Tenho a Bíblia aberta no passo
da Purificação do Templo
– primeiro narrado paralelamente pelos três evangelhos
sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas), mas depois também pelo evangelho atribuído a João –, passo em que se conta a expulsão dos vendilhões do templo
operada por iniciativa e intervenção de Jesus.
Nos três
primeiros evangelhos se conta então que, aproximando-se a Páscoa judaica mas
também a sua morte, Jesus desceu a Jerusalém, foi recebido triunfalmente na
cidade, logo depois entrando no templo, onde se deparou com o triste
espectáculo da sua profanação. Sumamente irado com aquilo que aí via, “derrubou
as mesas dos cambistas”, expulsou de lá todos os que estavam a vender e a
comprar dinheiro e animais, enquanto ia gritando a todos que, de uma casa que
devia servir só para oração, eles estavam a fazer um “covil de ladrões”.
Quanto ao evangelho atribuído a
João, se só aí se encontra o significativo pormenor de Jesus ter feito um
“chicote de cordas” para expulsar animais e vendilhões, também é o único a não
relacionar este acontecimento com a muito próxima condenação de Jesus à morte.
Porque, para os três sinópticos, parece claro que tal atitude de Jesus, cheia
de autoridade e veemência acusadora, foi causa motiva e próxima para tal
condenação. Por seu lado, por começar antes da história humana e terminar fora
da mesma história, e ainda por não se preocupar com o encadeamento interno dos
factos narrados, o evangelho de João não releva para este último assunto.
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