No incipiente fulgor da manhã, o pai da luz
afasta com a mão o manto de névoa a cobrir o bosque,
estende-o na orla na erva junto à ribeira
e põe-se ali a acordar toda a gente:
Sobrevoa primeiro as altas frondes das árvores
e toca-lhes ao de leve, para vibrarem à luz,
embrenha-se depois nelas, descendo poisando,
todos enchendo, os recantos, de luz
“Olá, meu melro, ainda estás dormindo?
aí te faço, neste momento, amarelo o teu bico,
vá, põe-te a voar e a cantar, na nítida beleza da manhã!
E tu, minha rola turca, cansada
dessa longa viagem, e por isso,
ainda, debaixo de asa a cabecita, descansando:
queres que eu te aqueça o peito e o rabito?
vá, já há muito não ouço o teu arrulhar de ternura
E vós, ó pegas, pegas de popa, aos pares,
delicio-me com estar ao pé de vós
pois, se não fora, como avultaria o contraste
das cores, a contemplar, do vosso manto?
Olá, meu grilo, vá, toca a sair da tua toca!”
“Ainda não é tempo, meu sol,
primeiro terás de avivar o teu lume
e de me deixar dormir o meu sono longo!”
“Então, ao menos, da minha luz,
aceita o meu morno clarão, aí dentro, agora,
pois eu e a irmã lua gostamos muito do teu cantar!”
Mas quando chegou ao chão, já o pai da luz se comovia
olhando-se luzindo no macio musgo verde:
tanta
beleza, na cúmplice conjugação da terra com o céu!
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