3 – Se esse
Jesus de outrora vivesse também hoje, e, mesmo que só vagamente, conhecesse as
maldades do nosso mundo, ele teria redobradas razões para condenar a retaliação
e propor o amor aos inimigos, como única via para se parar com a violência
dentro e fora de nós.
Mas será que,
não retaliando e amando os inimigos é possível acabar mesmo a violência? É, e
não se vê melhor caminho. Mas há aí alguém que seja capaz de não retaliar e de
amar os inimigos? Claro que há! Além deste Jesus, há ou houve outros exemplos
na história humana: Nelson Mandela é prova disso mesmo.
Mas quanto a
negócios de dinheiro, Jesus, que outrora fora doce no trato para com todos e só
uma vez se lhe levantou a tampa - precisamente para escorraçar do templo de
Deus os vendilhões -, haveria agora de andar habitualmente de chicote na mão,
pois que tinha muito que fazer com ele. Haveria, por exemplo, de dar valentes
chicotadas na base das altas colunas da sede do BPN, fazendo-lhes tremer os
fustes e os capitéis, e toda a massa arquitectónica desse templo de nefandas
negociatas. Haveria de esconjurar os procedimentos das agências de rating e demais símbolos desse execrando
liberalismo financeiro que está destruindo a humanidade.
Outrora, Jesus
expulsou do templo de Deus os negociantes de bois e de rolas, e também os que,
já então, trocavam dinheiro com usura. Mas agora, a esta global escala financeira
em que vivemos, ele teria era de expulsar do templo da humanidade – do templo
onde se deve cultivar só a humanidade – todos esses vendilhões financeiros que
a delapidam, a profanam e matam. E a par dessas cortantes chicotadas, haveria
de clamar aos criminosos que o dinheiro é o sangue para servir e irradiar pelas
nações, e que ninguém pode negociar com esse sangue, pelo menos com usura.
Ainda gritar a toda a gente que o poder financeiro terá de se submeter sempre
ao poder político democrático, que só este pode ser controlado pelo povo (ver
textos 73 e 123)
4 – Não vem
esse Jesus agora, mas veio Francisco, que o segue e representa aqui na Terra.
Diz Francisco:
“Temos de dizer não a uma economia da exclusão e da iniquidade, porque esta
economia mata”; “Grandes massas da população vêem-se excluídas e
marginalizadas: sem trabalho, sem horizontes, sem saída” porque “se considera o
ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que se pode usar e deitar fora”;
não é verdade que a liberdade de mercado “provoque por si mesma uma maior
igualdade e inclusão social”, porque ela supõe “uma confiança néscia e ingénua
na bondade de quem detém o poder económico e nos mecanismos sacralizados do
sistema económico imperante”; é urgente “uma mudança de atitude enérgica por
parte dos dirigentes políticos. O dinheiro deve servir e não governar” (citações
de “A Alegria do Evangelho”, extraídas do Expresso de 30.11-13).
Isto é, tal
como Jesus no seu tempo, também Francisco, agora de uma forma mais explícita e
ampla, faz a mesma acusação aos agiotas deste tempo. Porque não só o dinheiro é
o sangue das nações – com ele ninguém podendo por isso ser onzeneiro -, como
também é o poder político democrático que deve ter a última palavra sobre ele.
Sem também esquecer, muito embora, a rejeição da retaliação contra os
criminosos e a proposta do amor aos inimigos. Só com a aplicação de todos estes
princípios, poderá vencer-se a violência.
O Jesus que
Francisco jubilosamente segue, nos apresenta e representa, é o Jesus histórico
mas também o Cristo-que-é-o-Jesus-da-fé. Acontece é que, mesmo para quem não
crê ou simplesmente se interroga e duvida desse Cristo meta-histórico, a
grandeza desse Jesus histórico não sairá diminuída. Pois então, não é na
nitidez da nossa humana pequenez que a grandeza a que alguém pôde subir se
poderá evidenciar melhor? Quando um vulto humano é nobre em valores de humanidade,
ele dará nas vistas a qualquer outro ser humano sensível a essa nobreza! E se a
maioria do povo reconhecer a grandeza desse vulto e abraçar os seus propósitos,
haverá revolução, com certeza, mas não haverá violência.
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