Olhando lá do Olimpo, Zeus
viu-a despida e bela numa praia
de um claro país morno do sul,
logo se decidindo a descer à terra
para cativar Europa,
essa jovem de muitos e apetecíveis atributos.
E com tais artes e manhas a rodeou e envolveu,
que dela veio a ter vários filhos,
no meio de muita festa … e gozo.
Mas logo que essa amada entrou de envelhecer
- suas graças dando em murchar
e a perderem o sabor intenso
de um bom e velho vinho do sul -
o volátil e volúvel deus,
já roído de saudades da divinal ambrósia e de regaços
divinos,
subiu sem retorno ao Olimpo,
deixando entregue a sua amásia aos desavindos filhos,
à erva daninha e ao tojo, aos bichos.
Até que um destes, lá do setentrional “gado soberbo”,
mais um seu satélite de nome indecifrável
- não se chegando à frente os descendentes do sul
para protestarem e baterem o pé aos do norte –
dominaram à solta essa velha de rugas
e toda a sua descendência:
Viola-se o direito à propriedade privada
dos filhos dessas terras
do sul,
no que toca às suas suadas economias;
perde-se a confiança no sistema financeiro,
as devendo acolher e fazer circular
para crescimento das nações;
co-responsabilizam-se também os depositantes
pelas imparidades e outras aldrabices de banqueiros.
E então, isto sendo assim
- nada na Europa se fazendo bem
e tudo se fazendo mal e até péssimo -
isto sendo miseravelmente assim
e com os nossos mudos ou até aplaudindo,
teremos de nos valer de uma última consolação,
por um homem cá do sol e do sul imaginada,
o qual foi condenado à morte
por um rei vindo do norte.
Assim,
para que ao menos a alma não nos caia na latrina
- caia muito embora o corpo, pois, mas a alma nunca -
roguemos a esse quase são Boécio antigo,
ilustre sábio do sul,
apoio e consolo para os restantes dias da vida:
condenado por esse ostrogodo real
e metido inocente na masmorra até ao fim,
ele soube encontrar consolo e abrigo
só na acção do seu livre pensar
e no íntimo e doce fruto do seu livre pensamento.
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