quarta-feira, 26 de setembro de 2012

94 - Fundamentalismos


1 - Olá! A circunstância em que vivemos dá-nos ensejo de falarmos de duas espécies de fundamentalismo: o fundamentalismo por excesso de liberdade e o fundamentalismo por excesso de fé.
Trata-se de dois casos recentes que acenderam a intolerância entre o mundo ocidental, por um lado, e grande parte dos muçulmanos, por outro. O primeiro caso é o de um filmezeco já produzido há tempos mas só agora lançado no YouTube, a ridicularizar o profeta Maomé, e, naturalmente, essa religião e os seus fiéis. Parece que tal filme, ou simplesmente vídeo, “cheio de disparates e semelhante a pornografia rasca”, terá sido posto agora a circular por republicanos radicais americanos para que os seus efeitos pressionem a seu favor os resultados das próximas eleições na América. O segundo caso prende-se com recentes caricaturas de Maomé, publicadas numa revista satírica francesa, as quais põem de novo a ridículo o profeta e, com ele, também os seus seguidores.
        
         2 - Embalada no optimismo tecnológico e confortada com um certo bem-estar económico e social, apesar da crise em que está mergulhada, a sociedade ocidental, materialista e laica, deixou de ser religiosa. Ora, uma religião, se bem que tenha muitos defeitos – quer a nível de doutrinas, quer a nível de costumes – também tem algumas virtudes: sem fazermos juízos de valor sobre esses conteúdos, com a longa experiência que tem, ela sempre educa e acompanha os seus fiéis.
         Assim, perdidas as referências que os ligavam ao sobrenatural da religião, os ocidentais (europeus e americanos) vivem um tanto desnorteados, sem respostas para problemas maiores das suas vidas. Parece até que, para compensarem o seu vazio interior, motivado pelo menos em parte pela descrença, têm necessidade de implicar com os outros e até irresponsavelmente atacá-los.
         Porque, muito embora naqueles dois casos em apreço não possa questionar-se a liberdade de expressão, que até neles nem ultrapassou os limites legais, o certo é que, da parte de quem fez tais publicações, houve uma notória irresponsabilidade. As próprias autoridades francesas o confirmaram.
         Quer dizer: uns têm fé a mais; outros, liberdade a mais, liberdade irresponsável. Os primeiros não respeitam a liberdade dos segundos; estes não respeitam a fé dos primeiros. Ambos são fundamentalistas, e ambos não têm bom senso, começando pelos que tomam a iniciativa de atiçar o fogo. É claro que no caso dos americanos ainda há uma outra agravante, se acaso a ocasião para publicar o vídeo tenha a ver com as próximas eleições.

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