1 - Olá! A circunstância em que
vivemos dá-nos ensejo de falarmos de duas espécies de fundamentalismo: o
fundamentalismo por excesso de liberdade e o fundamentalismo por excesso de fé.
Trata-se de dois casos recentes que
acenderam a intolerância entre o mundo ocidental, por um lado, e grande parte
dos muçulmanos, por outro. O primeiro caso é o de um filmezeco já produzido há
tempos mas só agora lançado no YouTube, a ridicularizar o profeta Maomé, e,
naturalmente, essa religião e os seus fiéis. Parece que tal filme, ou
simplesmente vídeo, “cheio de disparates e semelhante a pornografia rasca”,
terá sido posto agora a circular por republicanos radicais americanos para que
os seus efeitos pressionem a seu favor os resultados das próximas eleições na
América. O segundo caso prende-se com recentes caricaturas de Maomé, publicadas
numa revista satírica francesa, as quais põem de novo a ridículo o profeta e,
com ele, também os seus seguidores.
2 - Embalada no optimismo tecnológico e confortada com um
certo bem-estar económico e social, apesar da crise em que está mergulhada, a
sociedade ocidental, materialista e laica, deixou de ser religiosa. Ora, uma
religião, se bem que tenha muitos defeitos – quer a nível de doutrinas, quer a
nível de costumes – também tem algumas virtudes: sem fazermos juízos de valor
sobre esses conteúdos, com a longa experiência que tem, ela sempre educa e
acompanha os seus fiéis.
Assim,
perdidas as referências que os ligavam ao sobrenatural da religião, os
ocidentais (europeus e americanos) vivem um tanto desnorteados, sem respostas
para problemas maiores das suas vidas. Parece até que, para compensarem o seu
vazio interior, motivado pelo menos em parte pela descrença, têm necessidade de
implicar com os outros e até irresponsavelmente atacá-los.
Porque, muito
embora naqueles dois casos em apreço não possa questionar-se a liberdade de
expressão, que até neles nem ultrapassou os limites legais, o certo é que, da
parte de quem fez tais publicações, houve uma notória irresponsabilidade. As
próprias autoridades francesas o confirmaram.
Quer dizer:
uns têm fé a mais; outros, liberdade a mais, liberdade irresponsável. Os
primeiros não respeitam a liberdade dos segundos; estes não respeitam a fé dos
primeiros. Ambos são fundamentalistas, e ambos não têm bom senso, começando
pelos que tomam a iniciativa de atiçar o fogo. É claro que no caso dos
americanos ainda há uma outra agravante, se acaso a ocasião para publicar o
vídeo tenha a ver com as próximas eleições.
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