sexta-feira, 28 de outubro de 2011

39 - Carta à Amiguinha Joana

Carta para a Joana, ao cuidado da mãe Luísa:
Querida amiguinha Joana, escrevo e envio-te esta carta ao cuidado dos teus pais, porque penso ser a melhor maneira de ela te chegar. E como ela te irá chegar às mãos no dia dos teus anos, facilmente adivinharás que é por essa razão que te escrevo.
Com a imposição do nome “Joana”, por escolha dos teus pais, tu fizeste há sete anos a tua primordial aparição no mundo, onde te apresentaste para viver ao lado e com os outros seres já existentes no mundo. Nós costumamos dar nome aos seres para os reconhecermos como existentes no nosso mundo. Antes, não existias; depois, saíste do nada e nasceste, mas foi com o nome que apareceste ao mundo. “Estão a ver aqui? Esta é a Joana, que acaba de nascer. É bonita, não é”? Apareceste primeiro à tua família e padrinhos; aos amigos só da tua família depois, porque tu ainda não tinhas os teus amigos; também, num círculo mais alargado, foste aparecendo às pessoas conhecidas e que conheciam a tua família, e bem assim às amiguinhas e amiguinhos que foste fazendo desde bebé; e enfim a toda a sociedade. É claro que também apareceste aos dois cãezitos muito peludos e sobretudo ao papagaio que já existiam na casa dos teus avós, e ainda às árvores que a gente vê por aí e a todos os outros seres que há na Terra, mas de todos esses não falaremos agora em virtude de serem muitos e até alguns deles, como as lagartixas e as cobras, te meterem muito medo! Joana é, portanto, e desde que nasceste, o teu nome.
Cumpres assim hoje – dia 28 de Outubro de 2011 – os teus sete anitos de vida. E então, o papagaio já te deu os parabéns? Sim? Disse-te palavras bonitas? Ou fez-te só uma negaça com o bico e a cabeça e não te disse nada? Pois, tu nunca lhe dás alpista nem lhe limpas a gaiola nem o levas a banho!
O maroto do papagaio não te disse nada … mas tu lembras-te muito bem daquilo que dissemos numa luminosa manhã, os dois passeando no quintal da minha casa, de mãos dadas e entre as árvores, a tua “avó nova” Maria tratando do almoço na cozinha. Falavas tu então dos teus colegas e amiguinhos de escola, e eu, ouvindo, falava-te também da escola, ou melhor, dizia-te que há três tipos de escolas, diferentes mas complementares, que nós vamos frequentando e onde aprendemos para a vida.
No primeiro tipo de escolas, que é o daquela em que andas agora e o de outras mais exigentes em que hás-de andar depois, tu aprendes a ler e a contar e terás muitas outras disciplinas. O segundo tipo de escolas, que hás-de frequentar toda a vida, é a família e a sociedade em que vives e onde vais trabalhar e viver, sempre aprendendo mais coisas. O terceiro tipo de escola que também deverás frequentar toda a vida - de todas as escolas a mais importante e talvez a menos frequentada - é uma escola tão pequenina tão pequenina … que afinal só lá cabe a tua cabecita porque ela própria se reduz à tua cabecita, com a qual tu pensas e vais elaborando a tua pessoal opinião sobre o mundo e a vida! Pela nossa cabeça nos devemos guiar, mas para isso temos de a ir formando com bons mestres, e o mestre mais importante virá sempre a ser cada um para si próprio.
Vês, Joana, o papagaio não te ligou, não te deu os parabéns, mas agora também não tem uma carta como tu estás a ter! “Uf, mas uma carta tão grande, tio João, e ainda por cima não a percebo muito bem”! Mas ouve, Joana, tu podes pedir explicação aos teus professores e aos teus pais, a outros familiares e também a mim, daquilo que ainda não percebes; e depois, nota bem, ela é para a ires lendo e percebendo toda, sim, mas só ao longo de toda a tua vida! E se, agora com sete, tu chegares aos teus setenta ou muito mais anos saudáveis com ela toda lida e percebida e bem cumprida, ela deixará de ser comprida para ser só cumprida!
Desde pequenitos, comandados pela nossa cabecita, nós devemos andar atentos à vida, sermos responsáveis, trabalhadores e também exigentes: exigentes primeiro connosco mesmos, mas depois também com os outros. Sobretudo, e em suma, não podemos ser imbecis, mas sim e sempre autónomos. Por isto é que esta carta, que foi escrita para ti mas também para mim, podia ter sido escrita para toda a gente.
A toda a gente podes mostrar esta carta: a toda a tua família, aos teus professores e colegas de escola e a outros teus amigos e conhecidos, para todos a lerem e explicarem uns aos outros. E agora vais festejar os teus anos, isto é, lanchar e brincar com os teus amiguinhos. Com um beijo grande de parabéns, do teu amigo tio João.

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