domingo, 15 de junho de 2014

221.4-5 - Sobre a Morte

          4 - A propósito da morte de Sócrates, e em consonância com o que dela pensava este ateniense, Karl Jaspers escreve: “Aqueles que receiam a morte, imaginam saber aquilo que não se sabe. Talvez ela seja a suprema felicidade, e eles receiam-na como se soubessem que ela é o pior dos males” (Os Mestres da Humanidade, p.31).
            Na verdade, nós temos medo da morte porque achamos que ela faz terminar a vida, e queremos que esta continue. Porém, na continuidade nada há de novo! Se não morrermos em cada agora, para o velho, nunca nos acontecerá nascermos para o novo. A morte é essencial à vida. Só há vida nova com a morte.
            “O fim da vida” - disse o nosso querido visionário Agostinho da Silva - “é para mim fascinante. É como se eu fosse a correr, entusiasmado, para um ponto de completo desaparecimento, com a ideia de que, nesse desaparecimento, a consciência continuará a existir.” (Expresso, 10-2-2006)

           5 - Neste concreto e mortal corpo que a natureza e a evolução nos concederam, nós somos consciência – consciência humana – onde vamos, desde crianças, construindo o nosso eu mental, a nossa individualidade. Por certo que não queremos que o nosso corpo morra definitivamente, mas não queremos sobretudo - e isto é que é decisivo para nós – porque com essa morte, também o nosso eu mental termina, pois é daquele que este depende. Será então que, com esse terminar do meu eu mental, renasça uma mais jovem e fresca e pura consciência humana, já liberta do meu “eu” que a limitou (J. Krishnamurti, A Rede do Pensamento, pp.70-72), a fim de que, de uma forma mais plena, ela possa integrar o Oceano do Amor, de que eu fui onda minúscula e agora sou só água desse Oceano?

            Pode ser, sim! Mas isto ainda é pensamento do “eu”! E só quando o “eu” morrer, e nós, já fora do tempo, estivermos sem medo em contacto directo com a morte, com a realidade, então talvez possamos saber, então talvez possamos compreender plenamente. 

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