4 - A propósito da morte de Sócrates, e em
consonância com o que dela pensava este ateniense, Karl Jaspers escreve:
“Aqueles que receiam a morte, imaginam saber aquilo que não se sabe. Talvez ela
seja a suprema felicidade, e eles receiam-na como se soubessem que ela é o pior
dos males” (Os Mestres da Humanidade, p.31).
Na
verdade, nós temos medo da morte porque achamos que ela faz terminar a vida, e
queremos que esta continue. Porém, na continuidade nada há de novo! Se não
morrermos em cada agora, para o velho, nunca nos acontecerá nascermos para o
novo. A morte é essencial à vida. Só há vida nova com a morte.
“O
fim da vida” - disse o nosso querido visionário Agostinho da Silva - “é para
mim fascinante. É como se eu fosse a correr, entusiasmado, para um ponto de completo
desaparecimento, com a ideia de que, nesse desaparecimento, a consciência
continuará a existir.” (Expresso,
10-2-2006)
5
- Neste concreto e mortal corpo que a natureza e a evolução nos concederam, nós
somos consciência – consciência humana – onde vamos, desde crianças,
construindo o nosso eu mental, a nossa individualidade. Por certo que não
queremos que o nosso corpo morra definitivamente, mas não queremos sobretudo -
e isto é que é decisivo para nós – porque com essa morte, também o nosso eu mental
termina, pois é daquele que este depende. Será então que, com esse terminar do
meu eu mental, renasça uma mais jovem e fresca e pura consciência humana, já
liberta do meu “eu” que a limitou (J. Krishnamurti, A Rede do Pensamento, pp.70-72), a fim de que, de uma forma mais
plena, ela possa integrar o Oceano do Amor, de que eu fui onda minúscula e
agora sou só água desse Oceano?
Pode
ser, sim! Mas isto ainda é pensamento do “eu”! E só quando o “eu” morrer, e nós,
já fora do tempo, estivermos sem medo em contacto directo com a morte, com a
realidade, então talvez possamos saber, então talvez possamos compreender
plenamente.
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