sexta-feira, 23 de maio de 2014

217 - A Boa Amizade

Olá! Sancho e Serafim eram bons amigos de uma amizade antiga, que agora se alimentava sobretudo de longas conversas passeando pela avenida, e também de quando em vez de apetitosos almoços na taberna do Ti Zé Lampreia.
Naquela manhã de sol e de céu limpo, os dois passeavam e conversavam longamente sobre se nós, seres humanos, temos a capacidade de conhecer realmente as coisas do mundo em que vivemos.
É claro que, a este propósito mas também a outros, Serafim, mais dependurado das nuvens, tinha opiniões diversas das de Sancho, mais agarrado à terra.
- Olha que muitas vezes – dizia Serafim – os nossos sentidos enganam-nos: pensamos que isto é uma coisa, e afinal é outra. Por outro lado, e também não raro, nós temos sonhos tão claros e nítidos que parecem mesmo realidades. Nesta última noite, por exemplo, eu sonhei que nós dois e nossas famílias estávamos no Zé Lampreia a comer um galo assado no forno com batatinhas, e ainda me lembro vivamente, com toda a nitidez, de todos os pormenores da boa circunstância em que estávamos e dos bons sabores da refeição! Quem sabe se durante o dia, quando estamos acordados, não vemos só coisas imaginadas como que em sonhos, sem nunca conhecermos as verdadeiras realidades?
- Ouve lá, ó Serafim, agora vou eu almoçar sozinho. Já andámos bastante e falámos muito, está na hora da refeição e já sinto muita fome.
- Mas não achas que os sentidos te podem enganar?
Sem retorquir, Sancho deu meia volta e ensaiou os primeiros passos.
- Então não me convidas? – perguntou Serafim.
- Mas tu já almoçaste, não foi? Não comeste galo com batatinhas?
- Não almocei nada! E também já sinto como tu a barriga a dar horas!
- Mas a tua barriga não te engana?
- Ah, não, sei perfeitamente que não!

E sem que a conversa beliscasse a recíproca amizade, lá foram os dois almoçar. Não comeram um real e muito menos um sonhado galo, mas sim um real e bem delicioso ensopado de enguias.

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