terça-feira, 13 de maio de 2014

216.1 (de 3) - Ressurreição

I
Uma Crónica
1 - Olá, amigas e amigos! Numa gostosa crónica em semanário recentemente aparecida (Expresso,8-3-14),Tolentino Mendonça (TM) confessa e propõe-nos a ressurreição destes mortais homens que nós somos.
O cronista começa por falar dos seus contactos tentados ou havidos com Luís Miguel Cintra (LMC), cita-o quando ele diz que “sabe muito bem descobrir novos companheiros de entusiasmo”, e depois conta ter assistido à representação de uma peça de teatro em que LMC foi personagem e também produtor, peça essa que, a si (TM), fez lembrar o filme “A Palavra”, sobre o qual João Bénard da Costa (JBC) escrevera.
Comecemos então pelas palavras de LMC, avancemos depois para o que JBC escrevera sobre o citado filme, para depois atendermos à peça de teatro também já referida.
Nas palavras de LMC, atentemos sobretudo na palavra entusiasmo, cujo significado e correspondente realidade este apropria a si mesmo, para depois com essa realidade contagiar os novos companheiros. Digamos que a palavra entusiasmo tem origem no grego antigo e significa um “transporte (quase) divino” e, por isso, entusiasta é uma pessoa transportada (divinamente) para algo ou alguém; é demonstrar grande interesse, é desejar e querer o objecto querido e desejado. Ora, isto - e no que toca à ressurreição, que é o que vai estar em causa – é mais que meio caminho andado para acreditar nesta realidade.
No filme “A Palavra” de Carl Dreyer – estamos seguindo TM – conta-se que uma criança profundamente triste “pede a um tio ““louco”” que ressuscite a mãe, e ele fá-lo.” E sobre este acontecimento fílmico, TM cita palavras de JBC: “No cinema não há nada mais fácil do que conseguir um milagre (…) Mas o prodígio daquela mise en scène (…) é fazer-nos acreditar que, na verdade, vimos um milagre e vimos um corpo morto ressuscitar em toda a glória da vida (…) Se me disserem que é cinema, eu respondo que não é, não”.
Também na peça de teatro em que LMC é personagem há uma ressurreição, e quem fala dela é o próprio TM: “Há uma personagem, a carvoeirinha, que nos representa a todos (…) que morre como mártir de amor. E há um momento em que LMC (…) a acorda do seu sono e levanta-a diante dos nossos olhos incrédulos”. Tal como no cinema, “no teatro não há nada mais fácil do que conseguir um milagre. Mas se me disserem que é teatro, eu respondo que não é”.
Nos dois casos, portanto, não é o fingimento de arte em cinema e em teatro que prevalece, mas a crença na real ressurreição dos corpos, para a qual as duas entusiastas figuras (JBC e TM) – movidas pelo prodígio da mise en scéne e sem fazerem caso dos “olhos incrédulos” - se quiseram transportar. 


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