I
Uma
Crónica
1
- Olá, amigas e amigos! Numa gostosa crónica em semanário recentemente
aparecida (Expresso,8-3-14),Tolentino
Mendonça (TM) confessa e propõe-nos a ressurreição destes mortais homens que
nós somos.
O
cronista começa por falar dos seus contactos tentados ou havidos com Luís
Miguel Cintra (LMC), cita-o quando ele diz que “sabe muito bem descobrir novos
companheiros de entusiasmo”, e depois conta ter assistido à representação de
uma peça de teatro em que LMC foi personagem e também produtor, peça essa que,
a si (TM), fez lembrar o filme “A Palavra”, sobre o qual João Bénard da Costa
(JBC) escrevera.
Comecemos
então pelas palavras de LMC, avancemos depois para o que JBC escrevera sobre o citado
filme, para depois atendermos à peça de teatro também já referida.
Nas
palavras de LMC, atentemos sobretudo na palavra entusiasmo, cujo significado e correspondente realidade este
apropria a si mesmo, para depois com essa realidade contagiar os novos
companheiros. Digamos que a palavra entusiasmo
tem origem no grego antigo e significa um “transporte (quase) divino” e,
por isso, entusiasta é uma pessoa
transportada (divinamente) para algo ou alguém; é demonstrar grande interesse,
é desejar e querer o objecto querido e desejado. Ora, isto - e no que toca à
ressurreição, que é o que vai estar em causa – é mais que meio caminho andado
para acreditar nesta realidade.
No
filme “A Palavra” de Carl Dreyer – estamos seguindo TM – conta-se que uma
criança profundamente triste “pede a um tio ““louco”” que ressuscite a mãe, e
ele fá-lo.” E sobre este acontecimento fílmico, TM cita palavras de JBC: “No
cinema não há nada mais fácil do que conseguir um milagre (…) Mas o prodígio
daquela mise en scène (…) é fazer-nos
acreditar que, na verdade, vimos um milagre e vimos um corpo morto ressuscitar
em toda a glória da vida (…) Se me disserem que é cinema, eu respondo que não
é, não”.
Também
na peça de teatro em que LMC é personagem há uma ressurreição, e quem fala dela
é o próprio TM: “Há uma personagem, a carvoeirinha, que nos representa a todos
(…) que morre como mártir de amor. E há um momento em que LMC (…) a acorda do
seu sono e levanta-a diante dos
nossos olhos incrédulos”. Tal como no cinema, “no teatro não há nada mais fácil
do que conseguir um milagre. Mas se me disserem que é teatro, eu respondo que
não é”.
Nos
dois casos, portanto, não é o fingimento de arte em cinema e em teatro que
prevalece, mas a crença na real ressurreição dos corpos, para a qual as duas entusiastas figuras (JBC e TM) – movidas
pelo prodígio da mise en scéne e sem fazerem
caso dos “olhos incrédulos” - se quiseram transportar.
Sem comentários:
Enviar um comentário