III
A
resposta dos Avatares
Poderá
o aparecimento de avatares satisfazer
todas aquelas nossas perguntas?
Em
termos informáticos, avatar é um
cibercorpo digital, ou melhor, será em breve uma pessoa virtual (Expresso, 8-3-14) que simula e
representa uma pessoa real, e que a tecnologia se prepara para construir a partir
dos dados que esta pessoa (com seus familiares e conhecidos) vai deixando ou já
definitivamente deixou nas redes sociais, e-mails, etc, se é o caso de ela acabar
de falecer ou já há algum tempo ter falecido. De modo que, por tal pessoa
virtual, se poderá simular a continuação do convívio dos familiares vivos, por
conversas online, com a pessoa já falecida!
Aqui
está um filão (ou cluster) de negócios
que os gigantes da informática irão promover, logo aproveitado em primeira mão,
não pelos familiares das pessoas que já morreram, mas pelas agências funerárias.
Funerais assim tão gaiteiros, em que aqueles que passaram para o outro lado da
vida se associam à festiva celebração porque vivem virtualmente e interagem com
as pessoas presentes, têm um alto valor acrescentado, não é? Morreram, mas, por
obra desta revolução tecnológica, eles continuam vivos, se é que não
ressuscitaram da morte.
Mas
um avatar nunca pode ser um ser humano. Pode até ser
artificialmente mais inteligente, sim senhor, mas por ser simplesmente virtual,
ele é algo e não alguém.
Por
ser virtual e não ser de carne viva como nós, ele não pode verdadeiramente
apaixonar-se como nós realmente nos apaixonamos, nem nós os vivos podemos
muitas vezes resistir a um bom petisco mesmo sabendo que nos faz mal, como ele
sabe resistir. Por não ser de carne viva como nós, ele também não tem uma boa
noção de tempo, já que carece de mudanças corporais, que só estas lha poderiam
facultar. Para ele, o tempo e o espaço não existem ou pelo menos não são
essenciais, como são para nós humanos, que somos seres de espaço e de tempo.
Um
avatar é como uma seca flor (ou plástica)
que não sente o vento e a chuva, nem se abre ou volta para o sol. Tem alguma
beleza, sim, mas nunca a beleza de uma flor viva e real.
Além
de que os avatares só aos familiares
vivos e à sociedade aproveitarão ou também poderão prejudicar. Porque aos
correspondentes mortos, isso nem aquenta nem arrefenta: mortos estavam, mortos
continuarão a ficar.
Haverá
então, para os humanos uma real ressurreição? Sem radicalmente excluirmos
outras hipóteses, o que nos importará é vivermos a vida de forma solidária com
todos os outros seres vivos, os quais todos nascem e vivem, para depois
morrerem. Por que razão hão-de os humanos constituir uma excepção no concerto
da vida, neste universo em expansão? Seria pelo seu bom comportamento em
relação a si e à vida que os possui, e em relação aos outros e ao meio
ambiente? Por outro lado, alguém gostaria, ou melhor, suportaria passar toda
uma eternidade em companhia dos mais nojentos salafrários desta nossa longa
história humana? Aturá-los nesta vida já é muitas vezes uma carga insuportável
de trabalhos e sofrimentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário