domingo, 18 de maio de 2014

216.3 - Ressurreição


III
A resposta dos Avatares
Poderá o aparecimento de avatares satisfazer todas aquelas nossas perguntas?
Em termos informáticos, avatar é um cibercorpo digital, ou melhor, será em breve uma pessoa virtual (Expresso, 8-3-14) que simula e representa uma pessoa real, e que a tecnologia se prepara para construir a partir dos dados que esta pessoa (com seus familiares e conhecidos) vai deixando ou já definitivamente deixou nas redes sociais, e-mails, etc, se é o caso de ela acabar de falecer ou já há algum tempo ter falecido. De modo que, por tal pessoa virtual, se poderá simular a continuação do convívio dos familiares vivos, por conversas online, com a pessoa já falecida!
Aqui está um filão (ou cluster) de negócios que os gigantes da informática irão promover, logo aproveitado em primeira mão, não pelos familiares das pessoas que já morreram, mas pelas agências funerárias. Funerais assim tão gaiteiros, em que aqueles que passaram para o outro lado da vida se associam à festiva celebração porque vivem virtualmente e interagem com as pessoas presentes, têm um alto valor acrescentado, não é? Morreram, mas, por obra desta revolução tecnológica, eles continuam vivos, se é que não ressuscitaram da morte.
Mas um avatar  nunca pode ser um ser humano. Pode até ser artificialmente mais inteligente, sim senhor, mas por ser simplesmente virtual, ele é algo e não alguém.
Por ser virtual e não ser de carne viva como nós, ele não pode verdadeiramente apaixonar-se como nós realmente nos apaixonamos, nem nós os vivos podemos muitas vezes resistir a um bom petisco mesmo sabendo que nos faz mal, como ele sabe resistir. Por não ser de carne viva como nós, ele também não tem uma boa noção de tempo, já que carece de mudanças corporais, que só estas lha poderiam facultar. Para ele, o tempo e o espaço não existem ou pelo menos não são essenciais, como são para nós humanos, que somos seres de espaço e de tempo.
Um avatar é como uma seca flor (ou plástica) que não sente o vento e a chuva, nem se abre ou volta para o sol. Tem alguma beleza, sim, mas nunca a beleza de uma flor viva e real.
Além de que os avatares só aos familiares vivos e à sociedade aproveitarão ou também poderão prejudicar. Porque aos correspondentes mortos, isso nem aquenta nem arrefenta: mortos estavam, mortos continuarão a ficar.

Haverá então, para os humanos uma real ressurreição? Sem radicalmente excluirmos outras hipóteses, o que nos importará é vivermos a vida de forma solidária com todos os outros seres vivos, os quais todos nascem e vivem, para depois morrerem. Por que razão hão-de os humanos constituir uma excepção no concerto da vida, neste universo em expansão? Seria pelo seu bom comportamento em relação a si e à vida que os possui, e em relação aos outros e ao meio ambiente? Por outro lado, alguém gostaria, ou melhor, suportaria passar toda uma eternidade em companhia dos mais nojentos salafrários desta nossa longa história humana? Aturá-los nesta vida já é muitas vezes uma carga insuportável de trabalhos e sofrimentos.

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