sexta-feira, 7 de março de 2014

208 - A Longa e Íngreme Escalada de um Yogi

A longa e também íngreme escalada do yogi,
que ocupa e se prolonga por toda a sua vida
tornando transparente em sua divindade o eu superficial,
de oito trechos consta, importantes e distintos:

Nos dois primeiros trechos desta escalada,
como “preliminares morais” para o corpo e para a mente,
deve o yogi abster-se de ferir, mentir, cobiçar, roubar,
ser sensual; e autocontrolar-se, estudar e contemplar o divino.
Com as asanas ou posturas corporais, no terceiro trecho,
a mente cuida do corpo, para que este melhor a sirva.
Vem depois o quarto trecho, em que se treina a respiração,
não vá ela perturbar mas promover o repouso da mente.
Já voltado para o seu mundo interior, no quinto trecho,
fechadas que estão as portas dos sentidos, o yogi
começa a concentrar-se num só objecto.
A mente em repouso, liberta de todos os pensamentos
e concentrada longamente num só objecto, é o sexto trecho.

E eis que se avizinham os píncaros nevados e nítidos 
do mais alto da montanha, com os derradeiros passos:
quando, desprendido do seu eu de pensamentos e desejos,
feito só consciência, o yogi olha absorto para uma flor,
fundem-se o sujeito e o objecto,
sobrando só a flor consciencializada.
E se assim, feito só consciência, ele olhar para si mesmo,
verá que não é eu, mas Eu; que é nada, mas também Tudo,
tendo também cada objecto perdido os seus limites.

Já não é o eu que espera recompensas - já lá vai há muito
a espessura do seu isolamento ou até mesmo solidão -
mas sim Eu aberto, anónimo transcendente e eterno,
tornada visível essência de um eu já sem necessidades,
Eu profundo, infinito, íntima centelha de Deus



Nota: Para este assunto, veja Huston Smith em A Essência das Religiões (Induísmo), aqui seguido e citado.

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