1 – Olá, amigas e amigos! Um dos
temas insistentemente versados ao longo da história cultural do Ocidente é o
tema do tempo. A este, tem-se-lhe
chamado “o brutamontes do tempo” (ver texto 80), tem-se dito que ele é o
carrasco dos seres humanos, e chega-se ao ponto de, indo lá atrás ao fundo da
nossa cultura ocidental, fazer dele o grande devorador dos humanos, como fazia
o deus Cronos aos seus filhos.
Mas não é o deus Cronos – esse que
devorava os seus filhos - quem também nos devora a nós. Não é, antes de mais,
porque o deus do tempo não é esse Cronos, mas Chronos. Este é que é o deus do
tempo, como ainda se pode ver em vocábulos de outras línguas, e também em
palavras antigas da nossa maviosa língua: crónica
e cronicões são narrativas históricas
segundo a ordem temporal dos acontecimentos narrados, e Herculano, por exemplo,
ainda conserva a palavra chronicões, segundo a sua grafia etimológica.
Na realidade,
porém, nem é este Chronos-deus-do-tempo, como também nem o próprio tempo, que
nos devoram! O que realmente nos devora, se assim metaforicamente quisermos
dizer, são as vicissitudes ou mudanças de que somos intimamente feitos! Mas, se
elas nos devoram, se nos vão devorando até ao fim, também elas, antes disso e
até ao mesmo tempo, nos fazem nascer e crescer: de bebés a crianças, a
adolescentes, jovens e adultos, subindo até à mais alta pujança da vida. E,
claro, as mudanças, por serem tão evidentes, bem se vêem no nosso rosto, na
fala e em todo o corpo, mas também na mente; e tais vicissitudes ou mudanças
medimo-las com o tempo. Assim, o tempo é mera medida que inventámos para medir
o nosso externo e interno e sempre vital movimento, e também o movimento do
mundo. Somos seres materiais de corpo e com corpo, tal como todo o universo, e
por isso todos sujeitos a contínuas mudanças, e aquilo que as mede é a medida
do tempo.
2 – Para
falarem do tempo, os gregos antigos tinham pelo menos dois vocábulos: chronos, como já ficou dito, e cairós.
Chronos é o tempo personificado, e
também o tempo em geral e no seu conjunto, com as três vertentes que lhe
conhecemos: de presente, passado e futuro.
Percorrendo
passos da literatura grega como um bom dicionário nos mostra, a palavra chronos – substantivo comum –
significava o tempo todo inteiro no seu conjunto; a duração do tempo;
o tempo
de antes, ou passado; o resto
do tempo, ou futuro; o tempo
presente; o tempo infinito, ou tão longo que não
se pode contar; e também se
empregava nas expressões o tempo da
juventude, houve um tempo em que, o tempo
suavizará a dor, longo tempo se escoou depois de, no curso
do tempo, naquele tempo, muito (ou pouco) tempo depois (ou antes), por todo
o tempo; a duração da vida.
Quanto a cairós, substantivo comum, ele
significava o momento oportuno, uma boa
ocasião, oportunidade, vir a propósito. Aristóteles escreveu que a
primeira juventude, quando a idade está na sua frescura, é o momento mais favorável
para desenvolver o corpo.
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