Natal
Olá! Sobretudo neste tempo de generalizada fuga para a trepidante vida da cidade, o campo, já quase abandonado, é para nós um lugar de bênçãos. Por isso, faz-nos muito bem regressar de quando em vez ao campo, mas melhor ainda é aqui viver. Aqui, no ar lavado, em ligação com a terra e com os ciclos da natureza, na inter-ajuda humana, com uma alimentação mais saudável, sentimo-nos confortados e mais facilmente encontramos e vivemos a nossa humanidade.
Numa tarde soalheira, na orla de um bosque, em vereda de chão plano e liso para não tropeçarmos, andemos para lá e para cá, no meio da natureza. É natural que ao começarmos a andar pensemos na nossa vida, em encontros e conversas com pessoas, nos nossos problemas e também projectos. Mas depois, deixando tudo isso e também o pensar (7, 42), ouçamos só os sons da natureza: mas é ouvi-los só e sem mais nada, isto é, não é ouvir o som e simultaneamente pensar que ele vem do alto dos pinheiros, ou vem de muito longe ou de mais perto, ou que se trata do cantar de uma rola ou de um melro, ou simplesmente são os ramos de uma árvore embatendo em outras. Nada de congeminar pensamentos, mas simples e somente ouvir os sons. E quando não houver sons para ouvir … ficar só a ouvir o silêncio. A ouvir o silêncio … e a respirar o ar puro e morno da tarde, continuando a andar ou parando, no meio da natureza.
Será que somos silêncio, isto é, que somos consciência de sermos silêncio? A consciência que a nossa humanidade nos concede não assenta no silêncio?
Se não tivermos problemas de locomoção e de equilíbrio, e estivermos seguros do local e de onde pomos os pés sobretudo em sítios de declives no terreno, embrenhemo-nos no bosque por carreiros estreitos, rodeados de arvoredo denso. Por aí, sentiremos maior riqueza de sons e também verdadeiros luxos para os olhos: fios e teias de aranha a “impedir-nos” a passagem, vermes a rastejar nos declives, multicores borboletas levantando de esconderijos, aves brincando de galho em galho ou correndo velozmente por entre os troncos das árvores …
Olhemos também para o ondeado do terreno, para os arbustos e para o tronco e a copa das árvores, mas sobretudo olhemos com vagar para as flores silvestres, e até mesmo apanhemos uma ou outra e façamos um belo ramo com elas. A natureza dá-no-las; ela as cria, não para nada e ficando por ali sozinhas eternamente (a sua eternidade pode durar não muito mais que um só dia), sem destinatários, mas para aparecerem a alguém. Não é porém, agora, hora para pensarmos. Da mente, agora, só queremos que ela ponha os sentidos abertos à natureza, em êxtase abertos para a vida.
Então, sintamos ainda o rumor do vento na caruma dos pinheiros e demos conta do odor da molhada manta vegetal que cobre a terra, também do odor das ervas e das flores. Toquemos mesmo no tronco de uma ou outra árvore, e até nos sentemos no chão encostados a um tronco, passando a sua vital energia para o nosso corpo. Orgia dos sentidos, mas sempre sem labor mental. Tudo com a demora e com o prazer possíveis.
Flores e tudo o mais, para aparecerem a alguém. Mas aparecerem a quem?
Do vazio e do silêncio, eu apareço a mim mesmo através do meu corpo. Eu sou consciência de mim mesmo, da minha mente e do meu corpo. A partir daqui, eu sou consciência da aranha ou a aranha consciencializada; consciência daquela rola além ou aquela rola consciencializada … Nós somos a hospedaria do mundo!
Diz-se que Jesus não nasceu na hospedaria porque não tinha lá lugar para nascer; mas nós somos a hospedaria onde nos nasce o mundo, do qual também faz parte esse menino Jesus, o das palavras contidas e sábias quando já crescido; hospedaria onde todos os dias nasce e vive o nosso mundo.
De mente vazia e limpa e repousado, só consciente, eu acolho o mundo; eu sou “taça vazia” sobre a mesa da vida, para acolher o mundo. Mais tarde, e quando necessário, acolhido o mundo, eu o pensarei com conceitos, com raciocínios e teorias. Mas de novo e a espaços – sempre que eu quiser e disso colha prazer –, eu poderei ser de novo só consciência, liberto de pensamentos e eu mental, também consciência de mim próprio e do mundo, em recíproca intimidade.
Olá! Sobretudo neste tempo de generalizada fuga para a trepidante vida da cidade, o campo, já quase abandonado, é para nós um lugar de bênçãos. Por isso, faz-nos muito bem regressar de quando em vez ao campo, mas melhor ainda é aqui viver. Aqui, no ar lavado, em ligação com a terra e com os ciclos da natureza, na inter-ajuda humana, com uma alimentação mais saudável, sentimo-nos confortados e mais facilmente encontramos e vivemos a nossa humanidade.
Numa tarde soalheira, na orla de um bosque, em vereda de chão plano e liso para não tropeçarmos, andemos para lá e para cá, no meio da natureza. É natural que ao começarmos a andar pensemos na nossa vida, em encontros e conversas com pessoas, nos nossos problemas e também projectos. Mas depois, deixando tudo isso e também o pensar (7, 42), ouçamos só os sons da natureza: mas é ouvi-los só e sem mais nada, isto é, não é ouvir o som e simultaneamente pensar que ele vem do alto dos pinheiros, ou vem de muito longe ou de mais perto, ou que se trata do cantar de uma rola ou de um melro, ou simplesmente são os ramos de uma árvore embatendo em outras. Nada de congeminar pensamentos, mas simples e somente ouvir os sons. E quando não houver sons para ouvir … ficar só a ouvir o silêncio. A ouvir o silêncio … e a respirar o ar puro e morno da tarde, continuando a andar ou parando, no meio da natureza.
Será que somos silêncio, isto é, que somos consciência de sermos silêncio? A consciência que a nossa humanidade nos concede não assenta no silêncio?
Se não tivermos problemas de locomoção e de equilíbrio, e estivermos seguros do local e de onde pomos os pés sobretudo em sítios de declives no terreno, embrenhemo-nos no bosque por carreiros estreitos, rodeados de arvoredo denso. Por aí, sentiremos maior riqueza de sons e também verdadeiros luxos para os olhos: fios e teias de aranha a “impedir-nos” a passagem, vermes a rastejar nos declives, multicores borboletas levantando de esconderijos, aves brincando de galho em galho ou correndo velozmente por entre os troncos das árvores …
Olhemos também para o ondeado do terreno, para os arbustos e para o tronco e a copa das árvores, mas sobretudo olhemos com vagar para as flores silvestres, e até mesmo apanhemos uma ou outra e façamos um belo ramo com elas. A natureza dá-no-las; ela as cria, não para nada e ficando por ali sozinhas eternamente (a sua eternidade pode durar não muito mais que um só dia), sem destinatários, mas para aparecerem a alguém. Não é porém, agora, hora para pensarmos. Da mente, agora, só queremos que ela ponha os sentidos abertos à natureza, em êxtase abertos para a vida.
Então, sintamos ainda o rumor do vento na caruma dos pinheiros e demos conta do odor da molhada manta vegetal que cobre a terra, também do odor das ervas e das flores. Toquemos mesmo no tronco de uma ou outra árvore, e até nos sentemos no chão encostados a um tronco, passando a sua vital energia para o nosso corpo. Orgia dos sentidos, mas sempre sem labor mental. Tudo com a demora e com o prazer possíveis.
Flores e tudo o mais, para aparecerem a alguém. Mas aparecerem a quem?
Do vazio e do silêncio, eu apareço a mim mesmo através do meu corpo. Eu sou consciência de mim mesmo, da minha mente e do meu corpo. A partir daqui, eu sou consciência da aranha ou a aranha consciencializada; consciência daquela rola além ou aquela rola consciencializada … Nós somos a hospedaria do mundo!
Diz-se que Jesus não nasceu na hospedaria porque não tinha lá lugar para nascer; mas nós somos a hospedaria onde nos nasce o mundo, do qual também faz parte esse menino Jesus, o das palavras contidas e sábias quando já crescido; hospedaria onde todos os dias nasce e vive o nosso mundo.
De mente vazia e limpa e repousado, só consciente, eu acolho o mundo; eu sou “taça vazia” sobre a mesa da vida, para acolher o mundo. Mais tarde, e quando necessário, acolhido o mundo, eu o pensarei com conceitos, com raciocínios e teorias. Mas de novo e a espaços – sempre que eu quiser e disso colha prazer –, eu poderei ser de novo só consciência, liberto de pensamentos e eu mental, também consciência de mim próprio e do mundo, em recíproca intimidade.
Dr. João Reis,
ResponderEliminarO seu Blogue é magnífico.
Li alguns artigos e achei-os bonitos, sensíveis.
Este último sobre o Natal, fez-me lembrar a aldeia onde vivo agora, em que, como diz, a vida é mais saudável, a alimentação também o é, pois é tudo tirado da agricultura de cada um.
Continue com estes maravilhosos textos.
Parabéns!
Aproveito também para lhe desejar um Ano de 2012 repleto de Sucessos, saúde e boa disposição.
Um abraço do
João Paulo
Obrigado, João Paulo. Também lhe desejo um Ano Novo muito feliz.
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