11 - Religião e Imortalidade da alma. Cícero (I séc.a.c.), famoso orador e escritor romano, usava de duas formas bem diversas para se referir à religião e à imortalidade da alma. Primeira: quando, em privado, se dirigia à sua esposa Terência, ou fazia a apologia das virtudes tradicionais do povo romano, ele defendia com firmeza a existência e o poder dos deuses, e bem assim a continuação da nossa vida humana para além da morte, a fim de nos podermos juntar aos nossos familiares e amigos já falecidos, e com eles viver para sempre. Segunda: mas, quando discursava em público, o orador não hesitava em tratar a existência de uma vida futura (a imortalidade da alma) “como uma fábula ridícula, à qual ninguém podia dar qualquer atenção”.
12 - Um sonho lindo. Em “O Sonho de Cipião” – uma obra de Cícero, na qual o autor faz a apologia das virtudes tradicionais do povo romano – o velho personagem Cipião diz aos seus dois interlocutores que em breve irá morrer. E aludindo a um vivo sonho que teve, ele declara que a morte não o irá incomodar, pois que é através dela que ele mesmo se irá juntar aos seus familiares e amigos que já morreram. Esta é uma certeza muito firme e existencial para ele! De tal sorte que, se ele estivesse errado nesta sua convicção, ele quereria não se afastar dela, mas nela – mesmo assim – viver até à morte!
13 - O desenvolvimento da fé. Flávio Josefo era um judeu nascido poucos anos depois da morte de Jesus, e que nunca foi cristão. E como era um rapaz muito inteligente, os romanos levaram-no para Roma, a fim de que aí escrevesse, em latim, a história dos judeus. Por acaso, na sua obra “Antiguidades Judaicas” (anos 90), ele deixou escrito um parágrafo sobre Jesus. E o curioso é que, tendo as suas obras sido copiadas e conservadas por escrivas cristãos, estes não resistiram à tentação de alterar o tal parágrafo sobre Jesus, de acordo com a fé que já neste tinham! Segundo a revisão que operaram ao texto, eles acrescentaram que 1- “Jesus era o Messias”; 2- que aos discípulos ele apareceu ressuscitado ao terceiro dia, segundo as escrituras; 3- e que, portanto, talvez ele fosse mais do que um simples homem! Ora vejam:
14 - O escritor judeu Flávio Josefo, corrigido e aumentado por escrivas cristãos. “Foi por essa altura que viveu Jesus, um homem sábio «se é que lhe devemos chamar homem». Ele fez obras extraordinárias e era o mestre das pessoas que aceitavam os seus ensinamentos como verdadeiros. Conquistou muitos judeus e gregos. «Era o Messias». Quando Pilatos o condenou à morte na cruz, depois de ter ouvido as acusações que lhe faziam os mais ilustres entre nós, aqueles que lhe tinham entregue o seu coração não abdicaram da sua afeição por ele. «Apareceu-lhes ao terceiro dia ressuscitado, pois os profetas de Deus assim o tinham anunciado, bem como outras maravilhas acerca dele». E o grupo dos cristãos, assim designados por causa dele, não desapareceu até aos dias de hoje”.
15 - Dois caminhos para a divinização de Jesus. No processo para a divinização de Jesus, desenvolvido pela fé dos cristãos, tentaram-se dois caminhos: pelo primeiro, “um homem fazia-se Deus”; pelo segundo, “um deus fazia-se homem”. Foi este segundo caminho que vingou, de acordo com o pensamento do “divino” Platão, e conforme o prólogo do evangelho de João.
16 - O impulso de Constantino. Se Jesus Cristo não fosse posto ao serviço da consolidação do império romano, por Constantino, proclamando que Jesus Cristo era Deus e considerando o cristianismo como a religião oficial do império, bem menor seria a distinção entre o Jesus da história e o Cristo da fé.
17 - Os diversos estratos da fé. Tal como um geólogo, para conhecer a constituição da Terra, precisa de conhecer muito bem as diversas camadas ou estratos de terreno que se foram constituindo e sobrepondo através dos milénios, assim um estudioso de Jesus, para conhecer a verdadeira realidade histórica do seu objecto de estudo, precisa de reconhecer e arredar as diversas camadas ou estratos de fé ou devoção que, ao longo dos tempos e por via de “uma reflexão teológica criativa” se foram constituindo e sobrepondo ao núcleo histórico inicial, que foi aquele Jesus da Galileia … filho de José e Maria.
18 - Quando por exemplo se diz, nos evangelhos, que Jesus foi tentado pelo demónio no deserto da Judeia, isso não é facto histórico realmente acontecido ao Jesus histórico, mas simplesmente “facto” atribuído a Jesus por quem acreditava que Jesus era Cristo, o Ungido, o Salvador. Muito mais que textos históricos, os evangelhos são textos de fé. Eles foram escritos por quem acreditava que Jesus era Cristo, e escritos para fazerem mais crentes nesse objecto de fé. Portanto, os anónimos autores dos evangelhos não eram historiadores, mas sim crentes em Cristo, e é nesta qualidade que produzem estes textos. Por tudo isto é que, nos evangelhos, não é fácil muitas vezes distinguir o que é realmente histórico e o que é simplesmente de fé.
19 - Religião e superstições. David Hume foi um eminente filósofo do séc. 18 (p.c.) e um profundo estudioso das religiões. E porque em toda a realidade do Universo será patente um propósito, uma intenção, um desígnio, ele entendia que era razoável acreditar-se em Deus, e ter com ele uma relação de espiritualidade. Mas tudo o que numa religião estivesse acima ou fora dessa crença, tudo isso seria superstição.
20 - Mensagem de Jesus: “Deus ama-te. Ele vem sempre ao teu encontro. Pelo amor, fazes parte do Reino de Deus”.
Mensagem laica para um homem de hoje: “Eu sinto-me feliz, como simples mortal, integrado na evolução do universo. O amor é o melhor da evolução.
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