sexta-feira, 8 de julho de 2011

TEXTO 23.1

Olá, amigos e amigas! O texto que se segue – dividido em duas partes só para efeito desta sua publicação – tem por tema geral “O Jesus histórico … e da fé”, e foi elaborado especialmente com base na obra “A Verdadeira História de Jesus” de E. P. Sanders. Foi também dividido em vinte pequenos textos – dez em cada uma das partes a publicar – para mais fácil exame de cada uma das matérias. Segue a primeira parte do texto:

1 - Jesus era judeu. Para os judeus, Deus é inequivocamente masculino e único.

2 - O nome “Jesus Cristo” tem duas componentes: uma, histórica (Jesus), e a outra, de fé (Cristo). “Jesus” é o nome de um ser humano que existiu historicamente, mas “Cristo” (nome grego) ou “Messias” (nome hebraico), que querem dizer “Ungido”, são nomes que os crentes deram a “Jesus” – portanto nomes de fé – por pensarem que nele se cumpriam as promessas de salvação que Deus operou para o seu povo, segundo o que diz a Bíblia. “Jesus”, o ser humano histórico, terá nascido em Nazaré, de uma relação normal entre homem e mulher, terá tido irmãos … e morreu na cruz. Mas “Jesus Cristo”, precisamente por ser considerado “o salvador” e portanto “Cristo”, fez-se nascer segundo a Bíblia em Belém, filho de uma virgem, foi tentado pelo demónio no deserto … e apareceu ressuscitado.

3 - Podemos estabelecer o confronto entre a missão de João Baptista e a missão de Jesus. João era um asceta, mas Jesus comia e bebia com os ímpios; João pregava o arrependimento, enquanto que Jesus pregava o amor: “os cegos vêem, os surdos ouvem …”; João dizia: “mudem agora de vida ou serão destruídos”, ao passo que Jesus dizia simplesmente “Deus ama-vos”; Para João, a ovelha perdida tem de se decidir a regressar, enquanto que para Jesus, o pastor é que vai à procura da ovelha perdida; João acentuava o cumprimento da Lei (arrependimento, restituição, sacrifício …), mas Jesus, muito embora se não opusesse à obediência à Lei, achava que a sua missão é que era decisiva: segui-lo era mais importante que cumprir a Lei (podendo nós assim entender que, para ele, a lei não era divina). Portanto, sem intermediários e com toda a autoridade, Jesus põe-nos em contacto directo com o Deus do amor.

4 - Quem é Jesus, segundo os três títulos que a si foram aplicados: “Cristo” (ou “Messias”), “Filho de Deus” e “Filho do Homem”. Foram-lhe aplicados, mas não ficamos a saber com exactidão o que Jesus pensava de si próprio e da sua relação com Deus, tendo por base a sua utilização dos referidos títulos: primeiro, porque então não havia definições claras destas três expressões; depois, porque não sabemos se Jesus atribuiu a si próprio cada um dos três títulos em causa. Aliás, os três títulos – cada um e os três em conjunto – parece não terem agradado completamente a Jesus, talvez por se limitarem a um estrito âmbito legal, e ele próprio se considerar acima da Lei.

5 - Quem é Jesus, para além dos três títulos acima referidos. Felizmente, nós dispomos de informações melhores do que os três títulos citados, para sabermos o que Jesus pensava de si próprio e da sua missão. Segundo Jesus, os seus doze discípulos representavam as doze tribos de Israel e haviam de as julgar no fim dos tempos. Ora, não só ele estava acima dos doze, como ainda a sua própria missão era de absoluta importância, a ponto de a resposta à sua mensagem estar acima das respostas de cumprimento da Lei. Jesus fala e age em nome de Deus, com toda a autoridade, sem intermediários. O encargo que recebera, de falar em nome de Deus, baseava-se num sentimento de intimidade pessoal com a divindade. Íntimo de Deus, mas não Deus, dado o monoteísmo judaico em que se inseria. Ele foi executado por ser considerado “Rei dos Judeus”. Segundo a consciência que tinha de si próprio, ele era o Vice-Rei do “Reino de Deus”, que é o mesmo que “Reino do Amor”

6 - Pilatos responsável. A responsabilidade pela morte de Jesus é de Pilatos, muito embora este pudesse seguir parecer de Caifás, a quem competia trazer mais ou menos na ordem os Judeus. Se Pilatos nos parece tentar evitar a morte de Jesus, isso deve-se a que os primeiros cristãos (e os autores das narrativas evangélicas com eles) queriam estar nas boas graças dos romanos! Assim, os verdadeiros “deicidas” seriam os judeus. Os primeiros cristãos procuram evitar desentendimentos com os romanos, à custa dos judeus.

7 - Ressurreição de Jesus. Embora a ressurreição não faça parte “da história do Jesus histórico”, sabemos que os seus seguidores experienciaram a ressurreição dele, ainda que não saibamos “que realidade suscitou estas experiências”. Eles acreditaram no Jesus ressuscitado, o qual havia de vir em breve, glorioso, implantar o Reino de Deus. Mas o Senhor tardava em chegar!..., e por isso é que a reflexão criativa dos cristãos se foi avolumando desde logo. Assim, já no texto dos evangelhos, nós temos de arredar diversas camadas de fé cristã, para descobrirmos o núcleo histórico da figura de Jesus!

8 - Familiares de Jesus. Os familiares de Jesus tiveram muitas dificuldades em aceitar a passagem do Jesus da história para o Cristo da fé, mas depois aceitaram-na.

9 - Os evangelhos. Embora sejam anónimos, os quatro evangelhos foram atribuídos a quatro figuras importantes entre os primitivos cristãos (Mateus, Marcos, Lucas e João), para que assim gozassem de uma sólida autoridade. Partindo de perícopas e de proto-evangelhos já existentes, os evangelhos foram organizados e escritos por crentes em Jesus Cristo, para firmarem na fé outros que já acreditavam e para fazerem mais crentes. Por isso é que, valorizando especialmente os elementos relacionados com a fé em Cristo, se pode dizer que os evangelhos são mais livros de fé em Cristo, do que livros da história da vida de Jesus.

10 - A ressurreição e a divindade de Jesus, atribuídas a Jesus pelos cristãos, são os pontos em que, a respeito do mesmo Jesus, judeus e cristãos nunca se entenderam.

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