sexta-feira, 18 de março de 2011

TEXTO 13.2

II
Subo agora, com energia, a estrada íngreme que dá acesso ao centro da povoação. É uma povoação risonha e relativamente pequena, com acentuados desníveis no terreno onde se implantam as casas, mas tudo num sítio de razoável altitude, o que faz com que de muitos pontos nós possamos ter belos horizontes.
É portanto uma povoação pequena, sem valências para acudir a todas as necessidades da vida. Mas para satisfazer as duas principais necessidades, ela tem! Há dois lugarzinhos onde as pessoas se podem abastecer para alimentar a vida, e há também um outro lugarzinho, aqui no meio da povoação, onde as pessoas podem repousar depois da vida!
Batidas pelo sol da tarde, duas das quatro paredes brancas bastam para iluminar o ambiente. Não é uma luz crua, a ferir os olhos, mas também não é uma mortiça luz. Ela é, sim, a exacta e necessária luz para podermos ver, com a possível objectividade, as coisas. Chamam-lhe cemitério, que quer dizer “lugar onde se repousa”, e ainda bem que assim se chama, pois que, que outro abençoado nome se poderia encontrar para dizer esta realidade?
“Olá, bonequinha, também andas por aqui? Vieste com a mamã, foi”? Fizeste muito bem, mamã, muito bem mesmo em trazer a tua menina que não tem mais de dois anitos e se passeia e brinca pelas alas entre as sepulturas. Ela salta agora ao pé de ti, mamã, agarra mesmo a ponta da tua saia, e as duas se preparam para depositar um vaso de frescas flores, na cabeceira da sepultura onde está o corpo daquela que foi a tua mãe e a sua avó. Quem dera que todas as crianças pudessem frequentar estes benditos lugares, porque, com isso, a vida delas ganharia mais densidade e sabor!
Este abençoado espaçozinho, todo recamado de areia dourada e fina e só relevando um tanto o lugar das sepulturas, não é um necrotério, mas sim um cemiteriozinho. Aquele, é um lugar para corpos mortos; aqui é um lugar para corpos dormindo. Entre corpos que dormem, podemos estar bem; entre corpos mortos, com certeza que não!
É certo que há cemitérios cravados de uma multidão tremenda e impetrante e soluçante de lápides e de cruzes, mas aqui não! Aqui, quando muito, há duas ou três lápides, parcamente escritas só com À memória de... ou Saudades dos teus familiares e amigos.
É muito agradável estar por aqui com vagar... ou até trazer um banquinho e sentar-me por largos minutos para descansar e ver...ou mesmo deitar-me em sítio desocupado, puxando manta de areia por causa do frio ou do relento, fazendo companhia aos que dormem e até com eles dormindo, se bem que por enquanto o meu dormir seja diverso, mas um dia igual será, disso não tenho dúvidas!






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