Nota Solta de Despedida
Olá!
Já que tens de regressar a Ítaca, procura fazê-lo o mais tarde possível. E quando te decidires pelo regresso, demora-te quanto puderes na viagem. É esta a lição de um poeta grego, quase de nossos dias, mas que ainda não andava em aflições com a bodega das agências de rating a martelá-lo com urgências de mau gosto. Seguindo eu a lição do poeta, tomei já a decisão de deixar este lar por mais uns tempos, não sem levar a ideia de um dia aqui regressar, já que tenho mesmo de entrar de novo na minha Ítaca.
Tal como o poeta avisadamente aconselha, quero ainda demorar-me pelos portos junto ao mar, a ver, recortados pela diáfana luz, marinheiros e embarcações de outras paragens; demorar-me a visitar mercados para sentir o grito dos pregões e o rumor dos regateios, e também para comprar um ou outro produto, não muitos porque o Sócrates e o Teixeira não os consentem; a passear longamente nas praias, sobre a areia batida junto às águas e com a cara ao vento; a subir às montanhas para respirar o ar fino das alturas e me embeber de horizontes sem fim; a visitar a casa onde vi pela primeira vez a luz, e aí sentar-me no banquinho onde me costumava sentar a falar com os meus pais, e deixar-me envolver pela branca nuvem onde ainda os pressinto … e mais e mais, mas sem ser em demasia e só se a saúde deixar.
Por isso, eu venho por este meio despedir-me, até sempre, de todas as senhoras funcionárias do lar, às vezes um tanto palavrosas e barulhentas mas muito amáveis comigo durante toda a minha estadia; também despedir-me, com saudade, das três dedicadas meninas que vêm suportando comigo a pesada e dura mole, qual tem sido a do lançamento e do desempenho deste blog; ainda do muito amigo e jovem funcionário omnivalente que pratica todos os seus trabalhos com a perfeição de um ourives; e outrossim de todos os elementos da direcção desta casa de repouso - especialmente daquela querida senhora que ainda está em convalescença de uma intervenção cirúrgica -, que com proficiência a governam. De uma forma muito especial e carinhosa me despeço de todas as senhoras e senhores residentes no lar. Nunca é bom, mesmo com provecta idade e grande falta de saúde, estarmos de costas voltadas para a vida e olhando só para o cais de embarque, de onde navegamos para o outro lado. Nem é bom, estando nós conscientes, matar simplesmente o tempo que ainda nos é dado para viver. Quem é capaz de descobrir os encantos da bruxuleante luz dos nossos tempos últimos, dos últimos sons da melodia da nossa vida?
Com um carinhoso abraço para todos e até sempre,
do João Reis.
Advertência Final: Não é da vontade do autor, que se proceda à divulgação publicitária desta “Nota Solta de Despedida”. Convém sim, e só, que ela seja conhecida das pessoas por ela abrangidas, e ainda editada no Clube dos Poetas Vivos, para a reduzida audiência que tem e outrossim para a que possa vir a ter. Não se faz aqui a casuística de ocorrências reprováveis de publicidade, deixando esse assunto à consciência bem (de)formada de cada um. Que se cumpram à risca todas estas vontades, ainda não as últimas, graças à generosidade da Vida que ainda me vai dando alento para viver. O autor, agradecido.
Olá!
Já que tens de regressar a Ítaca, procura fazê-lo o mais tarde possível. E quando te decidires pelo regresso, demora-te quanto puderes na viagem. É esta a lição de um poeta grego, quase de nossos dias, mas que ainda não andava em aflições com a bodega das agências de rating a martelá-lo com urgências de mau gosto. Seguindo eu a lição do poeta, tomei já a decisão de deixar este lar por mais uns tempos, não sem levar a ideia de um dia aqui regressar, já que tenho mesmo de entrar de novo na minha Ítaca.
Tal como o poeta avisadamente aconselha, quero ainda demorar-me pelos portos junto ao mar, a ver, recortados pela diáfana luz, marinheiros e embarcações de outras paragens; demorar-me a visitar mercados para sentir o grito dos pregões e o rumor dos regateios, e também para comprar um ou outro produto, não muitos porque o Sócrates e o Teixeira não os consentem; a passear longamente nas praias, sobre a areia batida junto às águas e com a cara ao vento; a subir às montanhas para respirar o ar fino das alturas e me embeber de horizontes sem fim; a visitar a casa onde vi pela primeira vez a luz, e aí sentar-me no banquinho onde me costumava sentar a falar com os meus pais, e deixar-me envolver pela branca nuvem onde ainda os pressinto … e mais e mais, mas sem ser em demasia e só se a saúde deixar.
Por isso, eu venho por este meio despedir-me, até sempre, de todas as senhoras funcionárias do lar, às vezes um tanto palavrosas e barulhentas mas muito amáveis comigo durante toda a minha estadia; também despedir-me, com saudade, das três dedicadas meninas que vêm suportando comigo a pesada e dura mole, qual tem sido a do lançamento e do desempenho deste blog; ainda do muito amigo e jovem funcionário omnivalente que pratica todos os seus trabalhos com a perfeição de um ourives; e outrossim de todos os elementos da direcção desta casa de repouso - especialmente daquela querida senhora que ainda está em convalescença de uma intervenção cirúrgica -, que com proficiência a governam. De uma forma muito especial e carinhosa me despeço de todas as senhoras e senhores residentes no lar. Nunca é bom, mesmo com provecta idade e grande falta de saúde, estarmos de costas voltadas para a vida e olhando só para o cais de embarque, de onde navegamos para o outro lado. Nem é bom, estando nós conscientes, matar simplesmente o tempo que ainda nos é dado para viver. Quem é capaz de descobrir os encantos da bruxuleante luz dos nossos tempos últimos, dos últimos sons da melodia da nossa vida?
Com um carinhoso abraço para todos e até sempre,
do João Reis.
Advertência Final: Não é da vontade do autor, que se proceda à divulgação publicitária desta “Nota Solta de Despedida”. Convém sim, e só, que ela seja conhecida das pessoas por ela abrangidas, e ainda editada no Clube dos Poetas Vivos, para a reduzida audiência que tem e outrossim para a que possa vir a ter. Não se faz aqui a casuística de ocorrências reprováveis de publicidade, deixando esse assunto à consciência bem (de)formada de cada um. Que se cumpram à risca todas estas vontades, ainda não as últimas, graças à generosidade da Vida que ainda me vai dando alento para viver. O autor, agradecido.
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