I
Olá, meninas e meninos!
Pelos meandros destes caminhos antigos, subo decidido até à capela do Santo Cristo; daí, plano para Poente por ruas direitas até ao Largo de São Tomé; e a seguir, à direita, mergulho na maravilha que é a densa floresta verde.
Há uma brisa mansa no ar, que primeiro faz bulir as ramagens das árvores, e depois afaga suavemente o meu rosto. Está uma manhã muito doce! Mas a doçura da manhã, faz mesmo parte da manhã, ou sou eu que a vejo assim? As coisas são boas ou más em si mesmas, ou elas são simplesmente coisas, e eu é que as faço más ou boas? E aqueles altos ideais de Justiça e de Liberdade e de Paz e ainda outros são mesmo realidades objectivas, ou são eles a simples mas também vigorosa objectivação de subjectivas aspirações da generalidade dos humanos, a concretizar em terrestres realidades?
Por sobre a estrada e as vegetais ramagens laterais, sente-se agora um risco sonoro de aves – talvez de popas, talvez de gaios – a inundar o silêncio da manhã...E de súbito, à esquerda, o lavadouro.
“Bom dia, senhora, logo de manhã a lavar roupa, aqui no lavadouro”! Ela, esfregando bem a roupa na pedra do tanque, depois mergulhando-a na água limpa...”É verdade! Tenho de aproveitar bem o dia, que eles agora dão em ser pequenos”! E de novo ensaboando e esfregando e mergulhando, para a roupa ficar bem limpa...”Mas a senhora, hoje, está aqui sozinha! Não tem companheiras para conversar com elas”! E torcendo também a roupa, para a tornar mais leve e depois a poder arrumar no carrinho...”Às segundas-feiras é que costumamos vir todas. Mas como, esta semana, eu não pude vir com elas”...”Mas agora noto, minha senhora, noto que eu já a vi várias vezes por aí”! A roupa torcida ainda nas mãos, que no ar a surpresa suspende...”Mas onde é que me tem visto? Sim, diga-me lá”! Então, com brando sorriso, vou-lhe dizendo: “Olhe, minha senhora, tenho-a visto no brilho dos olhos e no rosto da sua filha”! E entre outras surpresas e sorrisos, começamos a explicar este gostoso imbróglio, enquanto a água escorre do tanque e aquelas peçazinhas já lavadas são arrumadas no carrinho. “Olhe, minha senhora, e agora quero aqui desvendar-lhe um segredo que ninguém mais vai saber! O seu marido e a senhora, quando decidiram pôr-se a fabricar na sua barriguinha aquela que viria a ser a sua filha, devem ter lavado os dois as mãos muito bem lavadinhas e ter-se benzido e persignado por várias vezes”!... Uma névoa de emoção lhe perpassa pelo rosto, uns olhos turvos de água se afundam na roupa, e outra água limpa corre para o tanque, outras palavras breves e sempre muito amáveis são trocadas...até que o encontro termina com uma amistosa despedida.
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