domingo, 13 de setembro de 2015

323.4 - A Ciência e o Divino


4 – E eis que chegamos ao caso de Einstein. Partindo de dados do texto do professor de Coimbra, sabe-se que um dia, para desfazer dúvidas sobre aquilo que Einstein, que era judeu, pensava sobre o divino, o rabi de Nova Iorque perguntou-lhe se ele acreditava em Deus, ao que lhe respondeu da maneira seguinte: “Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na ordem harmoniosa de tudo o que existe no mundo, e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos actos dos seres humanos” (p. 67). E noutra ocasião, continuando a fundar-se no judeu Espinosa, Einstein afirmou: “Nós, seguidores de Espinosa, vemos o nosso Deus na maravilhosa ordem e submissão às leis de tudo o que existe, e também na alma disso, tal como se revela nos seres humanos e nos animais. Saber se a crença num Deus pessoal deve ser contestada é uma outra questão”. E pouco depois explica que, para a maioria das pessoas, esta última crença lhe “parece preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida” (p. 67), o que manifestamente não é o caso dele, porque já tem esta visão transcendental, assim não precisando de aceitar o Deus pessoal transcendente. Porque ter visão transcendental é diverso de afirmar a transcendência divina: visão transcendental podemos consegui-la só por nossas capacidades naturais, mas o Deus pessoal transcendente, só pela fé se poderá admitir e aceitar.
Ora, como se vê, o Deus de Espinosa (1632-77) e de Einstein é simplesmente um Deus interno ao mundo, e portanto nada mais do que isso. Sendo assim, o Deus destes dois judeus é diferente dAquele Outro do rabi de Nova Iorque, o qual é o Deus tradicional dos judeus, Deus uno, único e pessoal, que se interessa especialmente pelo seu povo. Foi em conformidade com esta última visão de Deus que os confrades religiosos de Espinosa o proscreveram da comum Sinagoga Portuguesa de Amesterdão. Segundo estes – e agora com certeza também segundo o rabi americano – o Deus de Espinosa e de Einstein não é o verdadeiro Deus.
Fiolhais ainda refere que um dia, a quem perguntou ao cientista se ele era uma pessoa religiosa, ele respondeu assim: “Sim, sou, pode dizer isso” (p. 67). Mas é claro que a sua religião é só transcendental, atendendo exclusivamente à maravilhosa realidade do mundo, e não a religião da transcendência divina de um Deus pessoal que se ocupa do destino dos homens.
Einstein é portanto um panteísta: todo o universo e o universo todo é Deus, e Deus nada mais é do que isso. Quanto a ele dizer que é religioso, isso quer dizer que ele vive, com profunda admiração e até comoção e espanto, a profunda consciência do seu panteísmo.

E já que de Deus estamos falando, terminamos também aqui o ponto três. Para além do que disseram o judeu de Amesterdão e agora o judeu Einstein, que mais será Deus? Será Alguém que nós procuramos como aquele que tem sede, sem saber que nada num lago, um lago de água pura? É claro que, se soubermos que nadamos nesse lago, já não temos de/que procurar! É beber dessa água! 

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