4 – E eis que chegamos ao caso de Einstein. Partindo de dados
do texto do professor de Coimbra, sabe-se que um dia, para desfazer dúvidas
sobre aquilo que Einstein, que era judeu, pensava sobre o divino, o rabi de
Nova Iorque perguntou-lhe se ele acreditava em Deus, ao que lhe respondeu da
maneira seguinte: “Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na ordem
harmoniosa de tudo o que existe no mundo, e não num Deus que se interesse pelo
destino e pelos actos dos seres humanos” (p. 67). E noutra ocasião, continuando a fundar-se no judeu Espinosa,
Einstein afirmou: “Nós, seguidores de Espinosa, vemos o nosso Deus na
maravilhosa ordem e submissão às leis de tudo o que existe, e também na alma
disso, tal como se revela nos seres humanos e nos animais. Saber se a crença num Deus pessoal deve ser contestada é uma
outra questão”. E pouco depois
explica que, para a maioria das pessoas, esta última crença lhe “parece
preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida” (p. 67), o que
manifestamente não é o caso dele, porque já tem esta visão transcendental,
assim não precisando de aceitar o Deus pessoal transcendente. Porque ter visão
transcendental é diverso de afirmar a transcendência divina: visão transcendental
podemos consegui-la só por nossas capacidades naturais, mas o Deus pessoal transcendente,
só pela fé se poderá admitir e aceitar.
Ora, como se vê, o Deus de Espinosa (1632-77) e de Einstein é
simplesmente um Deus interno ao mundo, e portanto nada mais do que isso. Sendo
assim, o Deus destes dois judeus é diferente dAquele Outro do rabi de Nova
Iorque, o qual é o Deus tradicional dos judeus, Deus uno, único e pessoal, que
se interessa especialmente pelo seu povo. Foi em conformidade com esta última
visão de Deus que os confrades religiosos de Espinosa o proscreveram da comum Sinagoga
Portuguesa de Amesterdão. Segundo estes – e agora com certeza também segundo o
rabi americano – o Deus de Espinosa e de Einstein não é o verdadeiro Deus.
Fiolhais ainda refere que um dia, a quem perguntou ao
cientista se ele era uma pessoa religiosa, ele respondeu assim: “Sim, sou, pode
dizer isso” (p. 67). Mas é claro que a sua religião é só transcendental,
atendendo exclusivamente à maravilhosa realidade do mundo, e não a religião da
transcendência divina de um Deus pessoal que se ocupa do destino dos homens.
Einstein é portanto um panteísta: todo o universo e o
universo todo é Deus, e Deus nada mais é do que isso. Quanto a ele dizer que é
religioso, isso quer dizer que ele vive, com profunda admiração e até comoção e
espanto, a profunda consciência do seu panteísmo.
E já que de Deus estamos falando, terminamos também aqui o ponto
três. Para além do que disseram o judeu de Amesterdão e agora o judeu Einstein,
que mais será Deus? Será Alguém que nós procuramos como aquele que tem sede,
sem saber que nada num lago, um lago de água pura? É claro que, se soubermos
que nadamos nesse lago, já não temos de/que procurar! É beber dessa água!
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