1 - Olá, amigas e amigos! Com o título em epígrafe escreveu
Carlos Fiolhais um artigo, publicado na obra Deus Ainda Tem Futuro?, coordenada por Anselmo Borges. Carlos
Fiolhais é um insigne cientista e professor de Física na Universidade de
Coimbra, e acontece que, em tal texto científico, ele também se manifesta como
crente. Qual é a relação entre ciência, nomeadamente a ciência física, e o divino,
isto é, a religião? Pode um verdadeiro cientista, sobretudo um físico, ser
também religioso? Ser crente de qualquer uma das conhecidas religiões
monoteístas não colide com as conclusões de algumas investigações científicas?
Ser cientista físico é determinante para ser ou não ser crente?
Por informações do texto, sabemos que Galileu (1564-1642),
Newton (1642-1727), Planck (1858-1947) e Broglie (1892-1987), para além de terem
sido físicos eminentes, eram também crentes no Deus das religiões monoteístas.
Mas o professor de Coimbra tem o cuidado de escrever que “o enquadramento
social se revela determinante para a opção religiosa” destes cientistas, ou que,
por palavras semelhantes, “a envolvência social e cultural é determinante na
manifestação individual do fenómeno religioso”. Era portanto natural que, por esta
razão, os quatro físicos referidos fossem crentes, como também terá sido
natural – acrescentamos agora nós – que Bohr (1885-1962), um outro físico
famoso, não fosse “uma pessoa religiosa, podendo ser considerado ateu”, já que
o seu ambiente socio-cultural dinamarquês assim seria também. Quer dizer, para
os cinco cientistas, a ciência não terá sido decisiva para a sua opção
religiosa ou não religiosa. Para todos, por igual, foi determinante o ambiente
em que viviam.
Já o mesmo não aconteceu com Schrodinger (1887-1961) - famoso
físico que vem a seguir no texto de Fiolhais –, o qual foi ateu à semelhança de
Bohr, apesar de ter nascido, crescido e vivido em ambientes católicos, na
Áustria e na Irlanda. Porque é que, neste caso, o ambiente socio-cultural não
foi determinante? Não terá sido porque o cientista considerou que a ciência não
se dava bem com a religião? E porque é que não se apresenta ao menos um físico
que, em ambiente ateu, tenha sido crente? Não haverá nenhum? Bem sabemos que, sobretudo
em tempos idos, por ser demasiado fechado, se não opressivo, era muito difícil
romper com o ambiente social e cultural. Mas Schrodinger parece ter rompido.
Fiolhais também refere Heisenberg (1901-76) e Max Born
(1882-1970), os dois alemães, os quais seguiram a regra geral: eram crentes,
tendo vivido em contexto cristão. Mas, entre os cientistas já citados, ainda
refere Einstein (1879-1955), remetendo embora o seu tratamento para mais
adiante, em virtude de o considerar um caso especial. E era de facto um caso
especial, não só porque ele não acreditava no Deus único e pessoal - como
acreditavam os crentes cientistas referidos -, como também não se dizia ateu,
como dois dos citados se diziam. Ele afirmava que tinha um Deus, mas esse Deus
era outro, e que até tinha religião, mas também ela era diversa. Iremos ver à
frente o que isso será.
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