domingo, 6 de setembro de 2015

323.1 (de 4) - A Ciência e o Divino

1 - Olá, amigas e amigos! Com o título em epígrafe escreveu Carlos Fiolhais um artigo, publicado na obra Deus Ainda Tem Futuro?, coordenada por Anselmo Borges. Carlos Fiolhais é um insigne cientista e professor de Física na Universidade de Coimbra, e acontece que, em tal texto científico, ele também se manifesta como crente. Qual é a relação entre ciência, nomeadamente a ciência física, e o divino, isto é, a religião? Pode um verdadeiro cientista, sobretudo um físico, ser também religioso? Ser crente de qualquer uma das conhecidas religiões monoteístas não colide com as conclusões de algumas investigações científicas? Ser cientista físico é determinante para ser ou não ser crente?
Por informações do texto, sabemos que Galileu (1564-1642), Newton (1642-1727), Planck (1858-1947) e Broglie (1892-1987), para além de terem sido físicos eminentes, eram também crentes no Deus das religiões monoteístas. Mas o professor de Coimbra tem o cuidado de escrever que “o enquadramento social se revela determinante para a opção religiosa” destes cientistas, ou que, por palavras semelhantes, “a envolvência social e cultural é determinante na manifestação individual do fenómeno religioso”. Era portanto natural que, por esta razão, os quatro físicos referidos fossem crentes, como também terá sido natural – acrescentamos agora nós – que Bohr (1885-1962), um outro físico famoso, não fosse “uma pessoa religiosa, podendo ser considerado ateu”, já que o seu ambiente socio-cultural dinamarquês assim seria também. Quer dizer, para os cinco cientistas, a ciência não terá sido decisiva para a sua opção religiosa ou não religiosa. Para todos, por igual, foi determinante o ambiente em que viviam.
Já o mesmo não aconteceu com Schrodinger (1887-1961) - famoso físico que vem a seguir no texto de Fiolhais –, o qual foi ateu à semelhança de Bohr, apesar de ter nascido, crescido e vivido em ambientes católicos, na Áustria e na Irlanda. Porque é que, neste caso, o ambiente socio-cultural não foi determinante? Não terá sido porque o cientista considerou que a ciência não se dava bem com a religião? E porque é que não se apresenta ao menos um físico que, em ambiente ateu, tenha sido crente? Não haverá nenhum? Bem sabemos que, sobretudo em tempos idos, por ser demasiado fechado, se não opressivo, era muito difícil romper com o ambiente social e cultural. Mas Schrodinger parece ter rompido.

Fiolhais também refere Heisenberg (1901-76) e Max Born (1882-1970), os dois alemães, os quais seguiram a regra geral: eram crentes, tendo vivido em contexto cristão. Mas, entre os cientistas já citados, ainda refere Einstein (1879-1955), remetendo embora o seu tratamento para mais adiante, em virtude de o considerar um caso especial. E era de facto um caso especial, não só porque ele não acreditava no Deus único e pessoal - como acreditavam os crentes cientistas referidos -, como também não se dizia ateu, como dois dos citados se diziam. Ele afirmava que tinha um Deus, mas esse Deus era outro, e que até tinha religião, mas também ela era diversa. Iremos ver à frente o que isso será.

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