sexta-feira, 4 de outubro de 2013

184.1-2 Um Deus não de Mortos mas de Vivos

1 – Olá, amigas e amigos! No tempo em que a Europa tresandava de horrores por causa dos nazis (1939-45), o mestre Rudolfo Bultmann (1884-1976), com a concordância da família onde já havia duas filhas, hospedava em sua casa uma menina a quem passou a dar explicações sobre Platão: a discípula traduzia os textos exercitando-se na língua, e ele explicava-lhe o maravilhoso mundo das ideias platónicas. Do facto de sua mãe já ter sido aluna de Bultmann, numa faculdade cristã evangélica, decorria a amizade que reciprocamente se tinham. E como, naquele perturbado ano de 44, ela não tinha onde pôr em segurança a filha para continuar os estudos, pediu-lhe que temporariamente a recebesse em sua casa, onde veio a residir até ao fim da guerra.
A esse tempo, Bultmann já se tinha tornado famoso pelo seu trabalho de desmitificação dos textos bíblicos, nomeadamente dos evangelhos, a ponto de, por via disso, já ser maltratado pelas comunidades religiosas, que assim viam desfigurada a mensagem bíblica conforme a tinham recebido e desejavam que continuasse a ser.
Foi sempre assim em toda a história da humanidade: quando esta suspeita de em si própria ter aparecido um Messias, logo nele começando a depositar as suas esperanças, não tarda muito que, para o engrandecer – quanto maior ele for, maiores e mais fundadas podem ser as esperanças –, ela lhe pegue ou o revista de lendas e de mitos. Bem sabemos que são lendas e mitos, mas é a isso que a multidão se agarra, não só por essas coisas lhe serem e servirem de mui bom sabor, como também por entender que, só com elas, pode ganhar força salvadora o seu Messias. Tinha pois o professor, de facto, muito terreno para limpar. 

2 – Nesse seu trabalho de desmitificação dos evangelhos, sobressai o que se reporta à tentativa de encontrar as genuínas palavras proferidas por Jesus. Isto é: de toda a doutrina, de todas as palavras que os evangelhos atribuem a Jesus, qual é, quais são as que, realmente, com suficiente certeza, se podem a ele atribuir? (ver aqui texto 59)
Sem agora explicitarmos as razões que o levaram às suas conclusões – e para darmos exemplos -, ele atribui com segurança a Jesus duas passagens do Sermão da Montanha. Em Mt 5,39-41, Jesus diz: “Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém quiser pleitear contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas”. Quase logo a seguir, em Mt 5, 43-48, Jesus diz “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa havereis de ter? Não fazem já isto os cobradores de impostos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos com é perfeito o vosso Pai celeste”.

De acordo com Bultmann, portanto, são de atribuir com certeza a Jesus as palavras acabadas de citar, extraídas do seu Sermão da Montanha.

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