1 – Olá, amigas e amigos! No tempo
em que a Europa tresandava de horrores por causa dos nazis (1939-45), o mestre
Rudolfo Bultmann (1884-1976), com a concordância da família onde já havia duas
filhas, hospedava em sua casa uma menina a quem passou a dar explicações sobre
Platão: a discípula traduzia os textos exercitando-se na língua, e ele
explicava-lhe o maravilhoso mundo das ideias platónicas. Do facto de sua mãe já
ter sido aluna de Bultmann, numa faculdade cristã evangélica, decorria a
amizade que reciprocamente se tinham. E como, naquele perturbado ano de 44, ela
não tinha onde pôr em segurança a filha para continuar os estudos, pediu-lhe
que temporariamente a recebesse em sua casa, onde veio a residir até ao fim da
guerra.
A esse tempo, Bultmann já se tinha
tornado famoso pelo seu trabalho de desmitificação dos textos bíblicos,
nomeadamente dos evangelhos, a ponto de, por via disso, já ser maltratado pelas
comunidades religiosas, que assim viam desfigurada a mensagem bíblica conforme
a tinham recebido e desejavam que continuasse a ser.
Foi sempre assim em toda a história
da humanidade: quando esta suspeita de em si própria ter aparecido um Messias,
logo nele começando a depositar as suas esperanças, não tarda muito que, para o
engrandecer – quanto maior ele for, maiores e mais fundadas podem ser as
esperanças –, ela lhe pegue ou o revista de lendas e de mitos. Bem sabemos que
são lendas e mitos, mas é a isso que a multidão se agarra, não só por essas
coisas lhe serem e servirem de mui bom sabor, como também por entender que, só
com elas, pode ganhar força salvadora o seu Messias. Tinha pois o professor, de
facto, muito terreno para limpar.
2 – Nesse seu trabalho de
desmitificação dos evangelhos, sobressai o que se reporta à tentativa de
encontrar as genuínas palavras proferidas por Jesus. Isto é: de toda a
doutrina, de todas as palavras que os evangelhos atribuem a Jesus, qual é,
quais são as que, realmente, com suficiente certeza, se podem a ele atribuir?
(ver aqui texto 59)
Sem agora explicitarmos as razões
que o levaram às suas conclusões – e para darmos exemplos -, ele atribui com
segurança a Jesus duas passagens do Sermão da Montanha. Em Mt 5,39-41, Jesus
diz: “Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra. Se alguém quiser pleitear contigo para te tirar a
túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma
milha, caminha com ele duas”. Quase logo a seguir, em Mt 5, 43-48, Jesus diz
“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu
próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos
do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o sol se levante sobre os
bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. Porque, se
amais os que vos amam, que recompensa havereis de ter? Não fazem já isto os
cobradores de impostos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de
extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos com é
perfeito o vosso Pai celeste”.
De acordo com Bultmann, portanto,
são de atribuir com certeza a Jesus as palavras acabadas de citar, extraídas do
seu Sermão da Montanha.
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