Tudo
decorre de os seres não terem substância,
ou, pelo
menos, nunca lha podermos descobrir:
“os
atributos” de um ser “dizem tudo acerca dele”,
nada
adiantando ter ele “um núcleo incognoscível”.
Ela, a
substância dos seres, é uma “falácia metafísica”:
para nós,
os seres são só os atributos que
deles nos
vão aparecendo
por
experiência vulgar ou científica
Locke
(1632-1704), perante os seus discípulos,
questionava
muito sobre ela, a substância dos seres,
mas não a
chegou a negar;
com os seus
discípulos, e logo depois com Hume (1711-1776)
é que se
chegou à terrível conclusão
de não
haver nos seres a inacessível substância,
assim sendo
só o que deles nos aparece
Pouco tempo
depois, o piedoso Kant (1724-1804),
tentando
repor a abalada ordem tradicional
- não fossem
o nosso corpo e o nosso espírito,
à míngua
das suas incorruptíveis substâncias,
privados de
continuarem, fora do tempo, vivos e idênticos –
apresenta
esta mesma doutrina, mas de uma maneira nova:
“Há o fenómeno eu e o fenómeno objecto”,
(que
podemos observar)
“mas estes escondem um verdadeiro
eu
e uma verdadeira “coisa-em-si”,
que jamais
podem ser observados.”
Pouco tempo
se parou, “neste abrigo de caminho”,
logo se
vendo que “era inútil supor
a
existência da “coisa-em-si”, não sendo ela senão
a velha
substância tornada mais incognoscível ainda”.
O que então
há, agora, para mim,
são as
realidades deste mar e deste céu,
também do
vasto mundo, como me vão aparecendo,
e bem assim
e de igual modo o rosto airoso ou triste
de pessoas
conhecidas e desconhecidas;
para mim
que também sou só a realidade
que me
aparece/apareço a mim mesmo,
um eu que é só um frágil feixe de
percepções,
essa flor
ou luz a brotar de um corpo vivo,
também este
só como eu o percepciono,
eu gozando o belo e o bom e o verdadeiro,
eu e delícia efémeros e frágeis,
ainda que
seja pois, pela eternidade de um só dia
Devo a Hannah Arendt
e a Bertrand Russell, o melhor desta doutrina
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