terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

134 - Sombras e Luz


Em alto gabinete sombrio
junto ao parque o mestre
 teia indecifrável tece
 sobre o “Ser e o Tempo”,
cedo encetada nunca concluída

Do outro lado da cidade o caudilho
numa praça com seus acaudilhados
berra pela limpeza de sangue
extermínio de raças impuras

O homem é um “ser-para-a-morte”
ou será um “ser-para-viver”,
ainda que só viver
uma vida mortal?

Não é o Ser só um conceito
aplicado a cada ser,
no humano também a consciência de si
e das demais realidades do mundo?

É o homem um ser que está no tempo,
que se prolonga no tempo,
que se salva pela liberdade
que só o tempo lhe dá,
ou o Tempo é só a medida
do movimento das coisas e da vida:
bebé antes, agora moça altiva
depois cãs e rugas outrora não havidas?

Na noite, Ana aluna no parque, a luminosa
olhando a alta janela do mestre
luz apagada luz acesa
segundo combinado segredo
enfim, a ansiada e acesa luz
luz de um temporário amor

Diga lá outra vez, Ana:
em vez de tantas falácias metafísicas
ouropéis com que revestimos o mundo,
quanto melhor é o sabor das realidades nuas,
e nós também nus, perante elas!

Sem comentários:

Enviar um comentário