Em alto gabinete sombrio
junto ao parque o mestre
teia indecifrável tece
sobre o “Ser e o Tempo”,
cedo encetada nunca concluída
Do outro lado da cidade o caudilho
numa praça com seus acaudilhados
berra pela limpeza de sangue
extermínio de raças impuras
O homem é um “ser-para-a-morte”
ou será um “ser-para-viver”,
ainda que só viver
uma vida mortal?
Não é o Ser só um conceito
aplicado a cada ser,
no humano também a consciência de si
e das demais realidades do mundo?
É o homem um ser que está no tempo,
que se prolonga no tempo,
que se salva pela liberdade
que só o tempo lhe dá,
ou o Tempo é só a medida
do movimento das coisas e da vida:
bebé antes, agora moça altiva
depois cãs e rugas outrora não
havidas?
Na noite, Ana aluna no parque, a luminosa
olhando a alta janela do mestre
luz apagada luz acesa
segundo combinado segredo
enfim, a ansiada e acesa luz
luz de um temporário amor
Diga lá outra vez, Ana:
em vez de tantas falácias
metafísicas
ouropéis com que revestimos o mundo,
quanto melhor é o sabor das
realidades nuas,
e nós também nus, perante elas!
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