sábado, 29 de dezembro de 2012

121 - Imparidades



De um só jornal de 22-12-12,
ao invés de mais ondas deste mar solidário,
o cidadão anónimo, generoso e inocente
ficou a saber:

Afronta-se a família,
berço de gerações solidárias,
pondo novos contra idosos
que seguraram com o Estado a sua velhice

500 grandes clientes do BPN deixaram de pagar,
monstro que não pára de engordar;
só lá para 2020 nos veremos
livres dessa chaga. Veremos mesmo?

E mais e mais ficou ele a saber

Não caia a sua alma … na latrina

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

120 - Transcenda-se



Olá, amigas e amigos! Cada um de nós tem o seu mundo, mas o mundo de cada um deve estar continuamente a expandir-se, sempre em virtude de um renovado olhar cada vez mais generoso. Assim, partindo da sua inércia (que é vida sem arte) ou feia (não áurea) mediocridade, abre-se à transcendência:

         1 – Aquele(a) que, sentindo-se a olhar de forma mesquinha e egoísta o seu caso, é capaz de abrir perspectivas mais largas;
         2 – Aquele que, tendo consciência de que é cinza, logo acrescenta que é cinza de estrelas;
         3 – Aquele que sabe que os seus pensamentos são meras subjectividades, mas também que “quando chega a sua hora, ninguém vence a força de uma ideia”;
         4 – Aquele que aproveita uma pequena leitura ou uma conversa breve para alargar horizontes e poder dizer: “Olha, nunca tinha pensado nisto!”;
         5 – Aquele que vê uma pessoa necessitada mas ainda assim a ser generosa, muito mais do que ele costuma ser;
         6 – Aquele que acredita num mundo de transcendência divina, ou, não acreditando, abre a sua pequenez à transcendência do Universo;
         7 – Aquele que, muito embora já tenha alcançado vários níveis de transcendência, sabe que ainda há muitos mais a que subir;  
         8 – Quem se empolga com um belo livro, uma pintura, um filme, uma escultura, uma peça de música; se encanta enfim com a beleza pura, que nos torna grandes e bons;
         9 – Quem se inebria com a imensidão do mar e a imponência da montanha, que nos enchem a nossa pequenez e nos quebram os seus limites;
         10 – Quem, no meio do imensamente grande ou pequeno, sabe encontrar a grandeza da sua pequenez;
         11 – Quem vence a encarniçada resistência de preconceitos, muitas vezes mais custosa do que mover montanhas;
         12 – Aquele que, muito embora se empertigando como Job, sabe depois pôr-se no seu devido lugar de quase insignificância cósmica;
         13 – Aquele que, perante uma aporia da vida, uma dificuldade intransponível, dá um passo atrás para reflectir, a fim de contornar a situação e vencer;
         14 – Quem sabe que a transcendência também é transcender a importância egoica do seu caso, reduzindo as suas aspirações só àquilo que é possível;
         15 – Aquele que cultiva a sua exacta medida no grande universo, em vez de se entregar a miragens ilusórias.      
16 – Aquele que vê, no deserto e na privação, o lado de fora da libertação e da transcendência.
17 – Aquele que ama a sabedoria, não se cansando de subir essa montanha sagrada.
         …

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

119 - Natal


Enquanto uns muito poucos
vivem no paraíso
em paraíso fiscal
outros muitos vivem mal
por viverem no aperto
de um inferno fiscal

Bom é que o burro e a vaquinha
remoendo a palha ardida
possam os dois contemplar
o milagre da vida!
Como os do inferno fiscal
eles suportam muito bem
o mau cheiro da pobreza
e da própria natureza
de todos nós nascermos
de entre fezes e urinas

Ainda assim uma flor
de um rebento de roseira,
ou luz ou asa ou o amor,
outrora nasceu nasce agora
e depois a qualquer hora
milagre de vida brotando
dessa abençoada estrumeira

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

118 - Belo, Bom, Verdadeiro e Sabedoria


1 - Olá! Falemos hoje do belo, do bom e do verdadeiro, e também da relação que têm entre si e com a sabedoria.
Começando pelos antigos medievais, eles diziam que aqueles três primeiros se convertem uns nos outros, tal é a íntima relação que têm entre si.
E agora, no caso de um homem e de uma mulher de sempre e também de hoje, é geralmente pela beleza corporal e espiritual que os dois caminham para a certeza de que, no outro, cada um encontrará o amor, que é o bem ou o bom por excelência, entre os mortais humanos.

2 - Coisa semelhante tem acontecido também com a religião, sobretudo medieval e de depois do Concílio de Trento. Sábia sempre como tem sido – a seu modo, naturalmente -, ela sabe muito bem que é pela beleza das igrejas, dos rituais, das imagens, das pinturas, da música, enfim de todo esse multiforme e muitas vezes encantatório adorno, que ela consegue cativar a atenção dos seus fiéis para o verdadeiro, para as verdades essenciais, e enfim para a existência do sagrado e do Sumo Bem.
É certo que houve alguns religiosos da Reforma, com Calvino à cabeça, que, despojando de todas as formas belas a religião, protestavam que o essencial era só a Bíblia, mesmo que fosse pregada num despido e feio barracão. Mas logo a religião mais antiga, renascida da Contra-Reforma, pôs as coisas como estavam antes, se é que não exagerou nos enfeites, com toda aquela exuberância da talha doirada em que nos perdemos em vez de nos encontrarmos.

3 - Mas agora, nesta sociedade secular em que vivemos, também já muitos não crentes sabem que o caminho para a sabedoria passa pelo belo, pelo bom e pelo verdadeiro.
Sabedoria é o fruto da inteligência, e a inteligência é amor e conhecimento. Amar/ conhecer e conhecer / amar o bom, o belo e o verdadeiro, isso é saborear a bondade, a beleza e a verdade em realidades existentes, isso é a sabedoria. Estes são os frutos espirituais que o homem sábio terá gosto em saborear e comer.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

117 - Celebração da Palavra



         Olá! Ocorre hoje, aqui em Carapelhos (Mira), na sede da Confraria Nabos e Companhia, uma laica celebração da palavra. Houve a feliz iniciativa de organizar e publicar uma antologia de textos produzidos por ficcionistas gandareses, e agora leva-se a efeito o lançamento dessa obra ao público, o qual acorreu em grande número, sublinhando assim a importância que para si tem o evento.

         1 - Está ali, no meio da assembleia, uma mamã recente com o seu bebé ao colo, aconchegado ao lado esquerdo do seu peito. Ele ainda sentirá desse lado a fala antiga do coração materno, uma fala que ele conhece e reconhece muito bem, que sempre lhe fez companhia e lhe deu a necessária segurança, e ainda agora o põe mais sossegado do que em qualquer outro lugar.
         Mas não é dessa fala que ora vamos falar. O bebé terá de se integrar na comunidade dos seres humanos, e só geralmente através das palavras, que tem uma face significante e sensível e outra significada e abstracta, ele se poderá ir constituindo como pleno ser humano. A primeira face das palavras, seja no texto oral ou no escrito, pertence ao domínio do sensível, é objecto material para estimular os sentidos, mas a segunda face é abstracta, é conceptual, e portanto cada um de nós tem de a ir concebendo e moldando na sua mente, embora confrontando sempre com os seus iguais o produto desse íntimo labor.
         Por isto é que aquela querida mamã poderia estar ansiosa em relação ao futuro mais ou menos próximo do rebento que tem reclinado ao seu peito. Começará ele, já por estes dias, a articular os sons da palavra “mamã”, e a associá-los àquele imenso mundo de afecto que tão bem sente e conhece, agora já concretizado no vulto que ora o estreita ao coração ora está perante si ou o embala nos seus braços? Irá ele sabendo ligar, a cada palavra concreta que vai ouvindo, o significado ou significados que os seus familiares e outros lhe atribuem, e depois ligá-los ás suas correspondentes realidades? Que se irá passar quando ele descobrir os sons da palavrinha “Eu”, tão pequenina mas também tão prenhe de possíveis significados? Será que, como acontece com quase todas as crianças, ele a irá descobrir por volta dos três anitos, e depois nunca mais, pelo menos nos primeiros tempos após a descoberta, a deixará de proferir insistentemente? Que amplitude de significados irá dando ele a essa correspondente abstracção, aplicada a si próprio ao longo da sua vida? Os sons da palavra “Liberdade” remetê-lo-ão, através da abstracção que é o respectivo conceito, para algo de realmente concreto na sua vida, ou a liberdade permanecerá para ele só puro conceito, fumo leve que a aragem logo leva, e portanto sem consistência de realidade? Como ressoarão no seu íntimo os sons da palavra “Morte”? Será a significada realidade cruelmente vivenciada pelo precoce passamento de algum dos seus familiares, ou será ela uma realidade branca, a aceitar em todo o caso sem ressentimentos nem temores, como expressão última da ordenada harmonia do Universo?
         Poderia estar ansiosa a mamã, em relação ao futuro do seu bebé, mas não está! Ela só teria razões de sobra para estar ansiosa, se não confiasse na Natureza; se não tivesse fé nas capacidades da criança para aprender (ver textos 17.3 e 25); se não contasse com o espanto que há-de vir e a curiosidade dela face ao novo, que ela irá receber tão avidamente como pano seco em contacto com a água. Curiosidade e espanto pelas incontáveis realidades do mundo que a envolvem e constituem, logo querendo associar a cada uma delas a palavra que a sua falante comunidade usa para a nomear.

         2 - Quando o Sócrates de Atenas descobriu os conceitos, que estavam do lado de lá dos sons das palavras, muita gente mofou dele! Houve até um malandreco comediógrafo seu contemporâneo que injustamente o figurou em palco no ar, no braço levantado de uma grua, como se estivesse dizendo à assembleia que o filósofo andava na lua, ou melhor, nas “Nuvens”, em vez de trazer os pés bem assentes na terra.
         Injustamente acusado, sim, porque, se os conceitos nada são de real e terreno a não serem conceitos, e portanto algo só mental ou abstracto e de alguma forma aéreo, eles são abstracções que fazemos a partir de realidades mundanas, mas para depois os fazermos descer e aplicar a realidades do mundo. São como papagaios de papel que adejam no ar, mas fabricados na terra e presos às realidades da terra, e por isso também terrenos.
         Ao contrário desse Sócrates, quem pôs os conceitos no ar e no céu e lhes deu consistência de realidades do hiperurânio foi o seu discípulo Platão, que os tornou ideias arquétipo, mesmo reais, de todas as entidades que nos aparecem, que são as realidades mundanas. Para este, as verdadeiras realidades são as luminosas ideias ou conceitos, porque o resto, o mundano, é só sombras e aparências.
         Felizmente, Aristóteles, por sua vez discípulo de Platão, não seguiu a esteira do seu mestre, pois voltou às verdadeiras realidades mundanas, ao nosso mundo das coisas (ver texto 21).
         Veio muito mais tarde Abelardo, de novo protestando que os conceitos eram puras abstracções e não tinham consistência real, fora do nosso mundo. Foi um protesto que ele chegou mesmo a fazer à frente de um convento, cujo prior-mor tinha opinião contrária, e que depois foi santo (texto 1). É tudo isto uma questão que ainda não está definitivamente resolvida. Porém, o mais provável será que haja simplesmente esta nossa realidade mundana, sendo todas as abstracções, que são os conceitos ou significados das palavras, parte desta nossa mundana realidade, mas só enquanto abstracções que são.

         3 - Celebramos então a festa das palavras. Palavras feitas de significantes e significados; de sons ou letras a anunciar conceitos; palavras feitas de terra mas também etéreas; agarradas à pedra do chão mas também esvoaçando ao vento no diáfano ar, como papagaios de criança. Afinal, palavras por nós fabricadas de barro e espírito, à nossa imagem e semelhança.
         Ouve-se o repousante rumor do vento nas cristas dos pinheiros da Gândara; a sonante brisa nos canaviais de Pan, sobre os cabeços dos córregos; ouve-se ainda o domado vento na linguagem das aves e de outros animais; enfim ouve-se o artefacto da palavra humana, pelo Homem inventada e produzida, feita símbolo não só para comunicarmos entre nós no dia-a-dia, mas também para fazermos arte, como é o caso da obra literária, com seus mundos imaginários e belos.
         Palavras frágeis, é certo, como frágeis nós somos! Mas, ainda assim, palavras com as quais podemos crescer e nos irmos humanizando, tomando posse delas e usufruindo do seu recheio. Palavras também que, ao contrário, nos podem distrair e até pôr receosos pelo enorme séquito de pensamentos e ideologias que arrastam consigo e nos entulham e perturbam a alma … Porque o melhor de tudo para nós …ainda é o silêncio!
         Laica celebração é esta, ou ela é a celebração realmente mais sagrada que todos os humanos podem fazer?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

116 - Neste Rio da Vida


Um salgueiro parado na margem
brancamente silencioso
dá-nos conta de que vamos:
nós somos, indo
nós vamos, sendo

 Marta que estás sentada
à beirinha deste rio,
 não estarás tu também no rio
onde também tu vais sendo, indo?

 Por certo que pressentes
que também indo vou, sentada
pois quem está sentado és tu
quem vai no rio sou eu

Turbulentas ou calmas
opacas ou cristalinas
águas profundas ou baixas
enxurradas pestilentas
toalhas de luz transparente
ora vão lestas ou lentas
nunca parando a corrente

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

115 - Faz Frio


Em Nazaré ou Belém
- já não sei bem -
ou até nos dois sítios em simultâneo,
eu, o José, e aqui a minha Maria
de esperanças redondinha,
aqui estamos agora
nesta pobre casinha
à espera dessa hora.

Faz muito frio, lá fora;
e aqui dentro, faz-nos falta
 o bafo quente e antigo
do burro e da vaquinha,
ao menos quando vier a feliz hora.

Faz frio:
virá ao menos essa luz,
quando romper de dentro dela,
da minha Maria, a mais bela,
aquecer-nos?



Note Bem: Se o amigo seguidor ou casual leitor encalhar nos três primeiros versos da fala de José e não os perceber, não lhe vá logo pedir esclarecimentos porque ele agora está ocupado com quem mais precisa dele! Consulte, sim, o texto 23 - ou mais precisamente 23.1.2 - aqui deste blog (O Fascínio do Clube dos poetas vivos). Mas, se esses sintomas de dúvida persistirem, consulte ainda, não o médico ou farmacêutico, mas o autor deste blog, sempre disponível para o atender. Muito obrigado e … muito Boas Festas para todos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

114 - A Nudez das Coisas


De altos mitos
decorrem-nos lendas
para a vida
e, pela vida,
cavalgamos ilusões
… de mitos

Quão melhor seriam realidades
realidades nuas
e nós, perante elas,
nus!

O dia amanhece
 e o sol esplende
espraiando na luz
a nitidez das coisas

Apaziguemo-nos com elas

sábado, 1 de dezembro de 2012

113 - D. Quixote


Dom Quixote, o Cavaleiro da Triste ou Heróica Figura

1 – Olá! Um dos mais belos e significativos livros da literatura mundial é, sem dúvida, O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha, de Cervantes (1547-1616). Tão belo e significativo que, no ano em que saiu a lume (1605), logrou logo várias edições em castelhano e em português, nesses tempos só ultrapassado pela Bíblia. Tão belo e tão plurissignificativo é ele que, ao longo do tempo, cada época o tem interpretado diversamente, sempre à sua própria maneira. Mas digamos que, em todo o caso, o que mais ressuma da obra é um contínuo e intenso fio de ironia que deriva do confronto entre o ideal e a realidade. Será que, no limite, a imaginação ou o ideal cria as próprias realidades, ou são as realidades, sobretudo quando necessárias, que submetem o ideal? Por outras palavras mais concretas: aquilo que o cavaleiro D. Quixote imagina e quer são (vão ser) mesmo realidades que ele vê (verá) à sua volta, ou são mera fantasia que ele alongou fora dele? Em suma: D. Quixote deve ser para nós um modelo de herói, ou, pelo contrário, ele é só “o cavaleiro da triste figura”?
Cada época viu de facto a obra à sua maneira, se é que, na mesma época, ela não foi vista de diversas e até opostas maneiras! Foi isto que aconteceu na famosa geração de 98 em Espanha, em que, de um lado, entre outros intelectuais, apareceu Miguel de Unamuno (1864-1936), e do outro surgiu Ortega Y Gasset (1883-1955).

2 - Segundo Unamuno, “a grande rebeldia é a recusa da necessidade da morte e a apetência da imortalidade”; é “a luta para alcançar a fé entre a vontade que não quer morrer e o cepticismo racional que verifica a inevitabilidade universal da morte” (F. Savater; ver também aqui o texto 18). Mas ao contrário de Unamuno, que valoriza o valor da crença, Gasset, que é laico e racionalista, prefere a razão, a “razão vital”, pela qual ele diz: “eu sou eu e a minha circunstância; se a não salvo a ela, não me salvo a mim”.
E então, para Unamuno, a ardorosa personagem D. Quixote, em vez de, pelos seus ideais e visões, ser uma caricatura posta a ridículo ao longo de toda a obra, é antes herói e modelo para os outros homens, enquanto que, para Gasset, (e também para o autor Cervantes) ela é uma figura ridícula, ela é “o cavaleiro da triste figura”, que, em vez de sábio, é louco.
Para Unamuno e para a personagem D. Quixote, o cavalo que devemos montar é a imaginação e a crença, e é montados nesse cavalo que eles criam e vêem as suas “realidades”, que, afinal, na outra perspectiva que é a de Gasset, são puras ilusões. Na verdade, para este e para Cervantes, e também para a personagem Sancho, o cavalo que nos deve servir é a razão, a “razão vital”, que nos faz a destrinça entre aquilo que simplesmente imaginamos e depois acreditamos, e aquilo que realmente existe, ou seja, aquilo que são as realidades necessárias, razão essa que, portanto, nos sabe distinguir entre ilusões e realidades. A personagem Sancho, companheiro inseparável do protagonista D. Quixote, chama-o constantemente à razão e às realidades, convida-o incessantemente (mas sempre em vão) a assentar os pés no chão. Porque, para o seu amo e também para Unamuno, é a imaginação, o impulso do desejo e do coração e da vontade, tudo isso é que cria as realidades. Para Sancho, estas realidades são mera fantasia.

3 - D. Quixote é o “cavaleiro da triste figura”, como diz Cervantes e sugere Gasset, ou ele é o “cavaleiro da heróica figura”, como ele próprio pensa e como pede Unamuno? Não haverá realidades que resistam aos ideais do cavaleiro, ou seja, é tudo só como ele imagina e quer, ou, pelo contrário, ele baterá um dia com a cabeça nas realidades?
Para Cervantes, ironicamente, “nenhum cavaleiro foi tão bem servido de donzelas como D. Quixote”! Também é por semelhante razão que um terrorista “mártir” tem mil virgens à sua espera! E não será ainda por semelhante motivo que os crentes esperam com firmeza uma vindoura e gloriosa bem-aventurança? Não custa nada imaginarmos existir aquilo que mais desejamos.