Olá, meninas e meninos!
Vou aqui revelar uma minha intimidade às meninas e aos meninos...Parece que sei mais ou menos como eu próprio funciono por dentro, e é esse o segredo, segredo de topo, que aqui vou desvendar!
Com a minha razão, eu vejo. Com a minha razão, isto é, com a luz ou a consciência, que a parte mais recente do meu cérebro me concede. E vejo o quê? Vejo como o meu corpo e a parte mais antiga do cérebro me produzem os instintos, as emoções e os desejos e esta insaciável fome de viver, querendo sempre mais! Então, eu mesmo, com a minha razão, tenho de moderar-compaginar-articular esses apetites, até para que, de tais felicidades – as humanas felicidades têm de ser sempre pequenas – eu possa gozar por mais tempo! Em vez de me meter à bruta nos copos, até em breve adoecer e morrer, poderei gozar as delícias de ir degustando uns copitos com os meus amigos e por muito tempo, caramba! Pode até acontecer que essa antiga voz do corpo, que é também a voz do coração, me peça coisas que são logicamente impossíveis. E então, aí, a voz da razão não tem mais nada a dizer à outra a não ser “pois é, também eu queria, mas isso é totalmente impossível, por nossa própria natureza”!
Tal diálogo entre estas nossas duas vozes – difícil diálogo mas também muito gostoso – pode estender-se a muita coisa! Em primeiro lugar, o corpo pode lembrar a alma, isto é, a razão consciente e pensante e com memória, lembrar-lhe coisas que ela própria esqueceu! Então isso é assim? Claro que é, porque a memória da razão nos falha muitas vezes, e o próprio corpo também tem “memória”, a qual pode vir em ajuda daquela! Este menino aqui, já de certa idade, lembra-se sempre e de repente daqueles mágicos quatro numerozinhos com que o seu cartão de débito costuma abrir a caixa-multibanco para lá ir buscar o pilim? Não lembra, pois não? Mas olhe que isso não é motivo para ficar aí já de cabeça perdida, sem saber o que fazer! Vá, mesmo assim, até à caixa-multibanco, com muita calma coloque o seu cartão na ranhura, respire fundo e tranquilo, e logo verá, com jubilosa surpresa, que os seus dedos também têm “memória”! Eles digitam-lhe, sem hesitações, os números certinhos! De onde se conclui que também o corpo pode lembrar a alma. Mas como pode isso acontecer?
É assim. A alma ou razão, nas primeiras vezes que dirigiu e procedeu a tal operação, foi entregando os números ao corpo e foi-o ensinando a operar com eles, criando-lhe mesmo o hábito de, cada vez mais maquinalmente, poder trabalhar com eles. Então, agora, basta estar calmo e no local do crime, isto é, no contexto de realizar a operação, e tudo ficará resolvido! Pena, muita pena, é que o pilim é que está faltando. Mas tem é de se ir lá, de quando em vez, mesmo levantando muito pouco baguinho, para que o corpo não perca o hábito e portanto não se vá esquecer!
Já começámos então a ver como é a segunda hipótese de diálogo, isto é, como a razão pode ensinar o corpo. Portanto, em segundo lugar, é a alma que ensina o corpo a criar nele automatismos, como já acima anunciámos. Aquela senhora ali, cuja graça é, precisamente, de Graça ser nomeada, anda a tirar a carta de condução, e o que é mais difícil para ela é mesmo só a parte prática. Então, estando de corpo e mente muito repousados, ela precisará – talvez o melhor seja ela estar sozinha para melhor se concentrar – precisará de se sentar ao volante do seu carro parado e, de uma forma muito nítida e por várias vezes repetida, dar ordens precisas aos seus pés e mãos a fim de executarem os movimentos certos para as operações a realizar, segundo o que ela aprendera teoricamente com a razão. Ela precisará que o seu corpo automatize os movimentos para conduzir, assim tentando criar o hábito da condução. E depois, uma vez alcançado o hábito, até poderá conduzir de forma maquinal, assim podendo conversar e rir com o seu marido, que vai ao lado dela!
Em terceiro lugar, é a própria mente ou razão que se poderá ensinar a si mesma, o que trará muito boas consequências para si própria e para todo o corpo. Por um movimento reflexo da minha consciência, eu posso ver todo o pensamento involuntário e compulsivo, e todo o desarranjo que ele está causando a todo o meu cérebro e a todo o meu corpo, que se sente incomodado por negativas emoções, tudo me indispondo à brava e não me deixando dormir. Então, a própria razão inventará estratégias para se libertar a si própria desse pesadelo. Uma respiração abdominal e profunda, sempre acompanhada pelo próprio pensamento, que assim não anda a vadiar por longes, é uma muito simples e eficaz estratégia para acabar com tal pesadelo.
Finalmente, neste agradável comércio entre corpo e alma, não olvidemos as muitas e habituais situações em que o corpo, por meio do seu mal-estar e da dor, avisa a alma do perigo em que os dois estão caindo. É, por exemplo, o caso em que o corpo avisa a alma de exagerados esforços físicos ou mentais, que redundam em perigos para a saúde dos dois. É também o caso em que o corpo se queixa à alma, das más disposições e doenças provocados pelos excessos em que os dois têm andado, em virtude do que metem na boca ou até em outro sítio...É certo que, neste caso, foi o corpo que pedira a satisfação dos apetites, o prazer, mas nós bem sabemos como, nestes assuntos, o corpo sozinho não tem modos nem medidas, quer é sempre mais! De maneira que, se não for a alma a regular-lhe os apetites, lá vai tudo por água abaixo! Na verdade, só a alma conhece, ou pode vir a conhecer, aquele belo aforismo latino que se podia ler no frontispício de muitas e belas fontes antigas: “Dant pocula nymphae. Immoderata nocent”, ou seja, “As ninfas oferecem copos de água, mas, em demasia, fazem mal”! Que, além de água, copos são esses, cada um de nós é que sabe!
Os meninos e as meninas que adormeceram durante a leitura deste longo texto – e já há minutos alguns deles ressonam – não sabem o gozo que perderam, os malandros! Sirva então esta mui pesada perda, ao menos, para que nos próximos capítulos estejam mais espertinhos, está bem?
Vou aqui revelar uma minha intimidade às meninas e aos meninos...Parece que sei mais ou menos como eu próprio funciono por dentro, e é esse o segredo, segredo de topo, que aqui vou desvendar!
Com a minha razão, eu vejo. Com a minha razão, isto é, com a luz ou a consciência, que a parte mais recente do meu cérebro me concede. E vejo o quê? Vejo como o meu corpo e a parte mais antiga do cérebro me produzem os instintos, as emoções e os desejos e esta insaciável fome de viver, querendo sempre mais! Então, eu mesmo, com a minha razão, tenho de moderar-compaginar-articular esses apetites, até para que, de tais felicidades – as humanas felicidades têm de ser sempre pequenas – eu possa gozar por mais tempo! Em vez de me meter à bruta nos copos, até em breve adoecer e morrer, poderei gozar as delícias de ir degustando uns copitos com os meus amigos e por muito tempo, caramba! Pode até acontecer que essa antiga voz do corpo, que é também a voz do coração, me peça coisas que são logicamente impossíveis. E então, aí, a voz da razão não tem mais nada a dizer à outra a não ser “pois é, também eu queria, mas isso é totalmente impossível, por nossa própria natureza”!
Tal diálogo entre estas nossas duas vozes – difícil diálogo mas também muito gostoso – pode estender-se a muita coisa! Em primeiro lugar, o corpo pode lembrar a alma, isto é, a razão consciente e pensante e com memória, lembrar-lhe coisas que ela própria esqueceu! Então isso é assim? Claro que é, porque a memória da razão nos falha muitas vezes, e o próprio corpo também tem “memória”, a qual pode vir em ajuda daquela! Este menino aqui, já de certa idade, lembra-se sempre e de repente daqueles mágicos quatro numerozinhos com que o seu cartão de débito costuma abrir a caixa-multibanco para lá ir buscar o pilim? Não lembra, pois não? Mas olhe que isso não é motivo para ficar aí já de cabeça perdida, sem saber o que fazer! Vá, mesmo assim, até à caixa-multibanco, com muita calma coloque o seu cartão na ranhura, respire fundo e tranquilo, e logo verá, com jubilosa surpresa, que os seus dedos também têm “memória”! Eles digitam-lhe, sem hesitações, os números certinhos! De onde se conclui que também o corpo pode lembrar a alma. Mas como pode isso acontecer?
É assim. A alma ou razão, nas primeiras vezes que dirigiu e procedeu a tal operação, foi entregando os números ao corpo e foi-o ensinando a operar com eles, criando-lhe mesmo o hábito de, cada vez mais maquinalmente, poder trabalhar com eles. Então, agora, basta estar calmo e no local do crime, isto é, no contexto de realizar a operação, e tudo ficará resolvido! Pena, muita pena, é que o pilim é que está faltando. Mas tem é de se ir lá, de quando em vez, mesmo levantando muito pouco baguinho, para que o corpo não perca o hábito e portanto não se vá esquecer!
Já começámos então a ver como é a segunda hipótese de diálogo, isto é, como a razão pode ensinar o corpo. Portanto, em segundo lugar, é a alma que ensina o corpo a criar nele automatismos, como já acima anunciámos. Aquela senhora ali, cuja graça é, precisamente, de Graça ser nomeada, anda a tirar a carta de condução, e o que é mais difícil para ela é mesmo só a parte prática. Então, estando de corpo e mente muito repousados, ela precisará – talvez o melhor seja ela estar sozinha para melhor se concentrar – precisará de se sentar ao volante do seu carro parado e, de uma forma muito nítida e por várias vezes repetida, dar ordens precisas aos seus pés e mãos a fim de executarem os movimentos certos para as operações a realizar, segundo o que ela aprendera teoricamente com a razão. Ela precisará que o seu corpo automatize os movimentos para conduzir, assim tentando criar o hábito da condução. E depois, uma vez alcançado o hábito, até poderá conduzir de forma maquinal, assim podendo conversar e rir com o seu marido, que vai ao lado dela!
Em terceiro lugar, é a própria mente ou razão que se poderá ensinar a si mesma, o que trará muito boas consequências para si própria e para todo o corpo. Por um movimento reflexo da minha consciência, eu posso ver todo o pensamento involuntário e compulsivo, e todo o desarranjo que ele está causando a todo o meu cérebro e a todo o meu corpo, que se sente incomodado por negativas emoções, tudo me indispondo à brava e não me deixando dormir. Então, a própria razão inventará estratégias para se libertar a si própria desse pesadelo. Uma respiração abdominal e profunda, sempre acompanhada pelo próprio pensamento, que assim não anda a vadiar por longes, é uma muito simples e eficaz estratégia para acabar com tal pesadelo.
Finalmente, neste agradável comércio entre corpo e alma, não olvidemos as muitas e habituais situações em que o corpo, por meio do seu mal-estar e da dor, avisa a alma do perigo em que os dois estão caindo. É, por exemplo, o caso em que o corpo avisa a alma de exagerados esforços físicos ou mentais, que redundam em perigos para a saúde dos dois. É também o caso em que o corpo se queixa à alma, das más disposições e doenças provocados pelos excessos em que os dois têm andado, em virtude do que metem na boca ou até em outro sítio...É certo que, neste caso, foi o corpo que pedira a satisfação dos apetites, o prazer, mas nós bem sabemos como, nestes assuntos, o corpo sozinho não tem modos nem medidas, quer é sempre mais! De maneira que, se não for a alma a regular-lhe os apetites, lá vai tudo por água abaixo! Na verdade, só a alma conhece, ou pode vir a conhecer, aquele belo aforismo latino que se podia ler no frontispício de muitas e belas fontes antigas: “Dant pocula nymphae. Immoderata nocent”, ou seja, “As ninfas oferecem copos de água, mas, em demasia, fazem mal”! Que, além de água, copos são esses, cada um de nós é que sabe!
Os meninos e as meninas que adormeceram durante a leitura deste longo texto – e já há minutos alguns deles ressonam – não sabem o gozo que perderam, os malandros! Sirva então esta mui pesada perda, ao menos, para que nos próximos capítulos estejam mais espertinhos, está bem?
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