Olá, meninas e meninos!
Desde que vim para este lar, já vários companheiros e companheiras, alguns deles até que comiam comigo o pão à mesma mesa, morreram. E só tempos depois soubemos do seu passamento! Tal como em todas as outras casas que recebem e tratam de velhinhos, a morte, que para toda a sociedade em que vivemos é indecorosa e intrusa, aqui, é também não rentável em termos comerciais! Seria assustador, para uma menina velhinha destas, ir de repente deitar-se na cama onde há um ou dois dias falecera outra pessoa, ou até de chofre saber que aquela menina com quem ternamente convivia no lar já não voltaria mais. E no entanto, nestas casas, faz falta uma ao menos muito singela celebração de cada um dos que vão morrendo! Isto ajudaria a humanizar mais os vivos que aqui trabalham ou ainda residem.
À mesma mesa a que estou, na sala de refeições, o meu companheiro do lado é um velhinho que tem sempre muitas dores e sofre de uma doença incurável que em breve o irá fazer sucumbir. Ajudo-o muitas vezes a comer, porque já não se pode valer da sua mão tremente e sem forças. Diz-me às vezes que daquilo que mais gostava era de morrer! Poiso então a minha mão no seu ombro, chego a minha mão à dele, em demorado e silencioso cumprimento. E quando isto acontece, ele aperta quanto pode a sua mão na minha... e turvam-se-me os olhos de emoção! Aperto também a minha mão na dele...e vejo-me a morrer na sua vizinha morte! E isto humaniza-me mais, para além de me comover.
Estão a ver os meninos e as meninas, que porventura os olhos passem por estas linhas, estão a ver como a nossa razão, que cria estes mundos simbólicos, pode influenciar a parte mais antiga do nosso cérebro e, por essa via, todo o nosso corpo?
Por hoje chega, meus amigos. E não se esqueçam de que, se quiserem, ou melhor, se vos der prazer, podem entrar nesta conversa para a tornar mais agradável. Seguem os derradeiros pensamentos do trabalho Sobre a Vida e sobre a Morte, que demoradamente tivemos exposto no nosso salão de convívio e que depois, em assembleia, amigavelmente comentámos.
16. “A obra-prima e fundamental da capacidade técnica humana é a sociedade.” Ninguém chega a ser humano se está só: tornamo-nos humanos uns com os outros.
Desde que vim para este lar, já vários companheiros e companheiras, alguns deles até que comiam comigo o pão à mesma mesa, morreram. E só tempos depois soubemos do seu passamento! Tal como em todas as outras casas que recebem e tratam de velhinhos, a morte, que para toda a sociedade em que vivemos é indecorosa e intrusa, aqui, é também não rentável em termos comerciais! Seria assustador, para uma menina velhinha destas, ir de repente deitar-se na cama onde há um ou dois dias falecera outra pessoa, ou até de chofre saber que aquela menina com quem ternamente convivia no lar já não voltaria mais. E no entanto, nestas casas, faz falta uma ao menos muito singela celebração de cada um dos que vão morrendo! Isto ajudaria a humanizar mais os vivos que aqui trabalham ou ainda residem.
À mesma mesa a que estou, na sala de refeições, o meu companheiro do lado é um velhinho que tem sempre muitas dores e sofre de uma doença incurável que em breve o irá fazer sucumbir. Ajudo-o muitas vezes a comer, porque já não se pode valer da sua mão tremente e sem forças. Diz-me às vezes que daquilo que mais gostava era de morrer! Poiso então a minha mão no seu ombro, chego a minha mão à dele, em demorado e silencioso cumprimento. E quando isto acontece, ele aperta quanto pode a sua mão na minha... e turvam-se-me os olhos de emoção! Aperto também a minha mão na dele...e vejo-me a morrer na sua vizinha morte! E isto humaniza-me mais, para além de me comover.
Estão a ver os meninos e as meninas, que porventura os olhos passem por estas linhas, estão a ver como a nossa razão, que cria estes mundos simbólicos, pode influenciar a parte mais antiga do nosso cérebro e, por essa via, todo o nosso corpo?
Por hoje chega, meus amigos. E não se esqueçam de que, se quiserem, ou melhor, se vos der prazer, podem entrar nesta conversa para a tornar mais agradável. Seguem os derradeiros pensamentos do trabalho Sobre a Vida e sobre a Morte, que demoradamente tivemos exposto no nosso salão de convívio e que depois, em assembleia, amigavelmente comentámos.
16. “A obra-prima e fundamental da capacidade técnica humana é a sociedade.” Ninguém chega a ser humano se está só: tornamo-nos humanos uns com os outros.
17. O delicioso (de um prato de comida…), o bom (de uma acção corajosa e generosa...) e o belo (de uma flor ou pôr-do-sol…), ou seja, valores utilitários, morais e estéticos, confluem para que exista mais vida e menos morte… para os mortais.
18. “A melancolia é a enfermidade mortal que nos pode afligir… a doença própria daqueles que se sabem mortais e, do ponto de vista realista da necessidade, concluem pela inutilidade de todos os esforços humanos. Ela obriga-nos a viver com um pé no túmulo!"
19. “O homem recto e prudente não vive para a morte ou para a eternidade, mas para viver em plenitude na brevidade do tempo.”
20. Nós não nascemos para morrer, mas… para nascer e viver em cada agora da vida!
No seguimento destes últimos pensamentos aproveito para transcrever aqui um pequeno poema que li pela primeira vez já lá vai algum tempo, mas que agora, neste contexto de reflexão sobre a morte (e,obrigatoriamente, sobre a vida), me senti na obrigação de procurar para partilhar convosco; não é um poema "pomposo"...talvez nem seja um poema...não foi escrito por um escritor ou filósofo famosos...foi elaborado por um autor desconhecido em situação de doença.
ResponderEliminar"Se eu pudesse...
Se eu pudesse viver novamente,
Trataria de cometer mais erros...
Não tentaria ser tão perfeito...
Relaxaria mais...
Correria mais riscos...
Viajaria mais...
Contemplaria mais entardeceres...
Subiria mais montanhas...
Nadaria em mais rios...
Iria a lugares, que nunca fui...
Comeria mais gelados...
Seria mais responsável...
Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários...
Mas, se eu pudesse voltar a viver, trataria de
Ter só bons momentos,
Porque se não sabem,
Disto é feita a vida:
Só de momentos
Não os perca agora..."
Porque será que, frequentemente, na correria do nosso quotidiano, não valorizamos o que deveríamos valorizar verdadeiramente?
Amigo João, permita-me discordar que haja necessidade de nestas casas se celebrar a morte de cada um que vai partindo, a morte todos nós temos por certo, logo, aquilo que realmente temos que celebrar, são todos os momentos que temos para ser felizes e dar felicidade aos outros, que são todos os minutos e segundos da nossa vida que antecede a morte.
ResponderEliminarLogo, vamos festejar a vida, porque a morte é certa.
Olá, Nádia Marisa! Que bom termos aqui um comentário seu! É claro que todos os comentários, por igual, são bem-vindos e bons. Mas dos outros comentadores só temos conhecimento virtual, ao passo que de si também temos real! Já nos vimos por aí em algum sítio, não foi?
ResponderEliminarSegundo o que nos sugere e também diz o poema que nos ofereceu, e porque nenhum de nós, com mais ou menos idade, pode voltar a viver, o melhor é "ter só bons momentos", no que nos resta da vida! Por isso, façamos do agora um bom momento. Porque, de vida, só temos sempre o agora. O passado já se foi, e o futuro ainda não veio. Tem aqui cabimento, de novo, o último pensamento publicado: "nós não nascemos para morrer, mas... para nascer e viver em cada agora da vida!" Em cada agora nascemos, em cada agora vivemos... vida boa, se possível.
Olá, amigo José! Li e agradeço o seu comentário, mas não consigo tirar nada àquilo que está escrito no texto 4. Precisamente este mesmo texto já é, no seu segundo parágrafo, a breve celebração da morte de um companheiro muito querido, da qual celebração parece discordar.
ResponderEliminarO ser humano não pode viver profundamente feliz, se não tiver consciência de que vai morrer, isto é, se não se humanizar profundamente, sabendo portanto que, entre o mais, também é húmus, é esterco, é morte. Pois é precisamente dessa consciência que lhe pode brotar não só a mais profunda alegria por estar vivo, como ainda a urgência de aproveitar todos os “agoras” da vida. A alegria de estar vivo neste agora da minha vida mortal é a profunda felicidade que me pode acontecer. O texto 3 desenvolve abundantemente esta doutrina.
Trata-se de uma muito singela mas também muito sincera e profunda celebração de cada um dos que vão morrendo, simplesmente lembrando, por exemplo, em reunião no salão de convívio e de modo informal, um ou mais lances da nossa vida em convívio com aquele(a) que nos deixou. Compartilhar, entre os ainda vivos, essa singela celebração é exercitarmos a nossa necessária humanização, aproveitando esse momento sublime que é a morte de um(a) companheiro(a).
Se o José me perguntar se, numa situação destas, é mesmo necessária tal celebração, eu direi “não, não é”! Nem no texto 4 se fala de uma estrita necessidade! No entanto, se essa celebração não acontecer, nós os ainda vivos perdemos uma soberana ocasião para mais profundamente nos irmanarmos na nossa comum humanidade! E por isso, tal celebração faz falta!
Se, de algum modo, celebrarmos a vida daquele nosso companheiro que agora entrou na morte, ficaremos mais ricos, ou seja, mais confortados na nossa humanidade. Mas se, ao contrário, negligenciarmos tal informal celebração, então, nós não ficaremos na mesma, como estávamos, mas tornar-nos-emos mais pobres por não termos sido sensíveis ao lado belo da morte, ao sagrado e ao mistério que a envolve. E aqui chegados, caro José, chegados ao mistério e ao sagrado da morte...pelo menos eu tenho de me calar, porque as palavras para nada servem! É vivê-los e senti-los e se possível amá-los e mais nada!