Olá, meninas e meninos!
Desço silencioso, pela berma da esquerda, a estrada que vai não sei para onde. Cuidamos muito, regra geral, de bem saber para onde vamos, mas o mais importante na vida não é isso! O mais humanizante para nós, que é uma coisa maior, é secundarizarmos o fim – não propriamente esquecê-lo – e deliciarmo-nos com os meios, banqueteando-nos com o agora que a vida prodigamente nos oferece.
Vejam bem as palavras com que iniciei o texto: “desço silencioso”! Não se trata de um descer meramente físico, singelamente constatado pelos sentidos, mas sim de um descer pedido pela alma, de um descer espiritual! Trata-se portanto de deixarmos a superficial superfície, de abandonarmos a babugem dos dias, e mergulharmos na profundidade do ser! (Aqui estou pensando o “ser” com minúscula e não com maiúscula). E para descermos assim, é preciso estarmos silenciosos.
O ar está morno. O sol trespassa brandamente as verdes folhagens das árvores, acaricia os troncos, e, em breve, benfazejamente, surpreenderá as raízes. Quão delicioso tudo pode ser na branda luz, no acolhedor silêncio.
Ali, à direita, num cerrado verde que as frondosas árvores querem perto de si, dois soberbos cavalos pastam gostosamente, de tudo esquecidos menos do gozar do fio da vida que lhes vai acontecendo.
E aqui, à esquerda da estrada, uma surpresa maior e nunca acontecida! Numa breve clareira que a floresta ali consente, jaz morto (?) jaz vivo (?) (o Pedro da Inês também “jazia na cama sem dormir” e portanto não estava morto) jaz algo de indefinido mas aos olhos aparecendo macio, talvez muitos novelinhos de lã encostadinhos uns aos outros para todos melhor se aquecerem, talvez... Deixem-me parar e bem firmar os olhos para ver se consigo saber mesmo se os novelinhos de lã, vivos estão ou estão mortos. Não consigo alcançar certezas? Põe-te aqui em linha – estou agora eu a falar comigo – em linha com esta árvore, para ver se consegues surpreender algum ainda que brevíssimo movimento. Estarão vivos, os novelinhos? Mas porque é que a vida se aproxima tanto da morte? Ou será que a morte é que se aproxima tanto da vida?...
E um pouco mais adiante, de um e do outro lado da estrada, a múrmura água da ribeira! Na branca areia a montante, fora de água, os pezinhos de uma senhora: “Então, senhora, logo de manhã lavando roupa na ribeira?”
Minha querida lavadeira, por certo saberás para onde vai esta ribeira, mas não interessa agora isso saber. Ela vai mesmo, mas não deixa de estar. Ela, só estando, estando mesmo, é que pode ir. Mas hoje, nós só estamos, e não vamos. Só aprendemos que não é tão importante o ir como o estar.
Estamos ou vamos? Parménides ou Heraclito? Simplesmente estamos! Porém, porque estamos no tempo, teremos fatalmente de dizer, acrescentando, que indo, nós estamos. Não somos seres para morrer mas para viver, embora saibamos que vamos morrer! Isto faz lembrar a lição daquele delicioso poeta grego ( Cavafy, de seu nome ) que, exemplarmente rememorando a antiga viagem de Ulisses de regresso da guerra de Tróia para a sua terra-natal, nos canta: quando pensares regressar a Ítaca, procura fazer isso o mais tarde possível. E uma vez a isso decidido, demora-te o mais que puderes pelo caminho, porque Ítaca já nada mais tem para te dar.
Pois a vida, meus amigos, necessariamente é feita destes dois ingredientes, e então, temos de os aceitar e valorizar o melhor que soubermos, para que o cozinhado seja, pelo menos, suficientemente apetitoso.
Desço silencioso, pela berma da esquerda, a estrada que vai não sei para onde. Cuidamos muito, regra geral, de bem saber para onde vamos, mas o mais importante na vida não é isso! O mais humanizante para nós, que é uma coisa maior, é secundarizarmos o fim – não propriamente esquecê-lo – e deliciarmo-nos com os meios, banqueteando-nos com o agora que a vida prodigamente nos oferece.
Vejam bem as palavras com que iniciei o texto: “desço silencioso”! Não se trata de um descer meramente físico, singelamente constatado pelos sentidos, mas sim de um descer pedido pela alma, de um descer espiritual! Trata-se portanto de deixarmos a superficial superfície, de abandonarmos a babugem dos dias, e mergulharmos na profundidade do ser! (Aqui estou pensando o “ser” com minúscula e não com maiúscula). E para descermos assim, é preciso estarmos silenciosos.
O ar está morno. O sol trespassa brandamente as verdes folhagens das árvores, acaricia os troncos, e, em breve, benfazejamente, surpreenderá as raízes. Quão delicioso tudo pode ser na branda luz, no acolhedor silêncio.
Ali, à direita, num cerrado verde que as frondosas árvores querem perto de si, dois soberbos cavalos pastam gostosamente, de tudo esquecidos menos do gozar do fio da vida que lhes vai acontecendo.
E aqui, à esquerda da estrada, uma surpresa maior e nunca acontecida! Numa breve clareira que a floresta ali consente, jaz morto (?) jaz vivo (?) (o Pedro da Inês também “jazia na cama sem dormir” e portanto não estava morto) jaz algo de indefinido mas aos olhos aparecendo macio, talvez muitos novelinhos de lã encostadinhos uns aos outros para todos melhor se aquecerem, talvez... Deixem-me parar e bem firmar os olhos para ver se consigo saber mesmo se os novelinhos de lã, vivos estão ou estão mortos. Não consigo alcançar certezas? Põe-te aqui em linha – estou agora eu a falar comigo – em linha com esta árvore, para ver se consegues surpreender algum ainda que brevíssimo movimento. Estarão vivos, os novelinhos? Mas porque é que a vida se aproxima tanto da morte? Ou será que a morte é que se aproxima tanto da vida?...
E um pouco mais adiante, de um e do outro lado da estrada, a múrmura água da ribeira! Na branca areia a montante, fora de água, os pezinhos de uma senhora: “Então, senhora, logo de manhã lavando roupa na ribeira?”
Minha querida lavadeira, por certo saberás para onde vai esta ribeira, mas não interessa agora isso saber. Ela vai mesmo, mas não deixa de estar. Ela, só estando, estando mesmo, é que pode ir. Mas hoje, nós só estamos, e não vamos. Só aprendemos que não é tão importante o ir como o estar.
Estamos ou vamos? Parménides ou Heraclito? Simplesmente estamos! Porém, porque estamos no tempo, teremos fatalmente de dizer, acrescentando, que indo, nós estamos. Não somos seres para morrer mas para viver, embora saibamos que vamos morrer! Isto faz lembrar a lição daquele delicioso poeta grego ( Cavafy, de seu nome ) que, exemplarmente rememorando a antiga viagem de Ulisses de regresso da guerra de Tróia para a sua terra-natal, nos canta: quando pensares regressar a Ítaca, procura fazer isso o mais tarde possível. E uma vez a isso decidido, demora-te o mais que puderes pelo caminho, porque Ítaca já nada mais tem para te dar.
Pois a vida, meus amigos, necessariamente é feita destes dois ingredientes, e então, temos de os aceitar e valorizar o melhor que soubermos, para que o cozinhado seja, pelo menos, suficientemente apetitoso.