2 - Àqueles quatro textozinhos já publicados, acrescentemos
ainda, agora, mais dois pequenos textos, extraídos da obra Deus Ainda Tem futuro?. O
primeiro constitui-se de uma citação de Paulo, quando diz que “Deus será tudo
em todas as coisas”, e também de uma outra, extraída do Evangelho de Tomé, onde se põe Jesus a dizer: “Eu sou o universo: o
universo surgiu de mim e chegou até mim. Parti um tronco e ali estou eu,
levantai uma pedra e ali me encontrareis” (p. 230).
O segundo pequeno texto é um poema de
Hakuin (1685-1768), mestre do budismo Zen: “Todos os viventes são / originariamente
budas. / Como a água e o gelo. / Não há gelo sem água. / Mas não nos damos
conta. / Buscamos na lonjura o que temos à mão. / Que pena ver a gente extraviada
/ buscando longe a Verdade / que mora no seu interior / como quem se queixa de
sede / enquanto nada num lago!” (p. 179).
São dois textos paradigmáticos de como
o intenso mundo simbólico dos humanos não só cobre o mundo real, como penetra e
se entranha até ao âmago das coisas, porventura quase as anulando mas também
sublimando: por um lado, as coisas nada menos e nada mais serão que Deus, o
qual também se encontra por toda a parte no interior dos madeiros, dentro das
pedras se as partirmos e, ao lado delas, se escavarmos; por outro lado, porque
já somos originariamente iluminados, além de gelo também somos água, água viva
com que podemos dessedentar-nos, e até nela nadar e perder-nos nesse meio
divino. No gelo e na água, portanto, nós estamos a ver-nos a nós mesmos,
porque, de algum modo, também somos água e gelo, o que também faz com que água
e gelo sejam mais que gelo e água. Em suma, quem tem fé, vê as coisas assim,
mas para quem a não tem, as coisas são simplesmente coisas, e nós, perante
elas, delas distintos.
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