Olá, meninas e meninos!
Introduzimos aqui, para gozo(?!) de vossos olhos e ouvidos, uma “Sonata em dois tempos”. Será hoje o desempenho do primeiro tempo, e o segundo ficará para a próxima semana.
I
Vou por uma nesga aberta entre o denso arvoredo, e a floresta alonga-se até perder de vista, para os dois lados da estrada. Nesta tira de asfalto por onde caminho, a meio da manhã, não há ninguém que eu encontre, a pé ou de bicicleta, e poucos são também os veículos motorizados. O sol está firme e já revelando a nitidez das árvores, mas lá ao fundo, no vale, ainda há um grande banco de nevoeiro. Passa-se agora por um túnel que a recente auto-estrada aqui abriu, também ela com parco movimento porque neste país não há dinheiro nem gente, sobretudo só raramente aparecendo desses deliciosos bichinhos que dão pelo nome de crianças.
Vou com a ideia numa azenha ou moinho de água, que dizem ainda estar em funcionamento para estes lados. O nevoeiro vai levantando, já se vê melhor ao longe, assim se desvendando aos poucos a pura realidade das coisas, para deliciar os sentidos. Vai-se abrindo um vale todo cheio de verdura, todo agricultado, pois que os humanos têm imposto respeito ao arvoredo circundante no sentido de que este não avance, assim não engolindo este pequeno paraíso.
Nítidas já aparecem as casas, à beira da estrada, todas elas com pequenos e cuidados jardins. Lá ao fundo, correndo pelo meio do vale, pela certa que haverá veia de água a alimentar este esplêndido verdor. Além disso, há também aquela história da azenha que existe para estes lados, a qual de muita linfa corrente precisa para poder funcionar. E cá está ela, a ribeira, nesta curva da estrada. Será ela a ribeira que há tempos encontrámos, mais a montante, onde surpreendemos os pezinhos de uma menina lavadeira? Por certo que sim. Nessa altura, porém, para nós, a ribeira não ia mas estava. Mas bem sabemos que ela, para estar, também tem de ir, e por isso aqui está ela, a mesma ribeira, para gozo dos nossos olhos e ouvidos.
E eis que, de outra estrada aqui entroncando, se vê a aproximar um menino, já bem passante dos setenta, que empurra o seu carrinho de mão a transbordar de couves e de outras verduras. “Bom dia, senhor! Já traz aí o carrinho cheio de coisas boas para a família e para o gado! Foi você quem apanhou ou foi a sua esposa”? “Eu é que apanhei tudo! Já sou viúvo há vários anos e agora arranjei uma companheira que é muito trabalhadora e me trata muito bem! Olhe, hoje ela foi dar o dia para aquela terra além, e só vem à noite”. “Belos tomates esses, meu amigo, que vêm em cima das couves! São carnudos e sumarentos, e também devem ser saborosos”! “Pois são! Em salada a acompanhar um peixinho e umas batatas são de trás da orelha”! “Mas o meu amigo sabe muito bem, por experiência própria, que há uma outra qualidade de tomates! Também esses, meu amigo, também esses são de boa qualidade e ainda estão ao serviço”? “Claro! Olhe, ainda hoje de manhã eles estiveram ao serviço e funcionaram muito bem”! “Mas de manhã, meu amigo, logo antes de um dia de trabalho”? “Não há problemas! Quando apetece é que é”! Demos os dois saborosas gargalhadas, enquanto eu ia pensando: querido amigo Felisberto, porque é que, sempre que te referes à tua companheira, os teus olhos se põem a faiscar de alegria tão intensamente? Não será porque, debaixo dessas faíscas, há uma profunda felicidade a dois?
“Diga-me só mais uma coisa, amigo Felisberto. Onde é o moinho de água que há por aqui perto”? “Olhe, é já além, à direita, onde há um pinheiro alto. Está a ver o pinheiro”? “Sim senhor, muito obrigado, meu amigo, gostei muito de o conhecer e de conversar consigo”! “Também eu gostei! Adeus”.
Introduzimos aqui, para gozo(?!) de vossos olhos e ouvidos, uma “Sonata em dois tempos”. Será hoje o desempenho do primeiro tempo, e o segundo ficará para a próxima semana.
I
Vou por uma nesga aberta entre o denso arvoredo, e a floresta alonga-se até perder de vista, para os dois lados da estrada. Nesta tira de asfalto por onde caminho, a meio da manhã, não há ninguém que eu encontre, a pé ou de bicicleta, e poucos são também os veículos motorizados. O sol está firme e já revelando a nitidez das árvores, mas lá ao fundo, no vale, ainda há um grande banco de nevoeiro. Passa-se agora por um túnel que a recente auto-estrada aqui abriu, também ela com parco movimento porque neste país não há dinheiro nem gente, sobretudo só raramente aparecendo desses deliciosos bichinhos que dão pelo nome de crianças.
Vou com a ideia numa azenha ou moinho de água, que dizem ainda estar em funcionamento para estes lados. O nevoeiro vai levantando, já se vê melhor ao longe, assim se desvendando aos poucos a pura realidade das coisas, para deliciar os sentidos. Vai-se abrindo um vale todo cheio de verdura, todo agricultado, pois que os humanos têm imposto respeito ao arvoredo circundante no sentido de que este não avance, assim não engolindo este pequeno paraíso.
Nítidas já aparecem as casas, à beira da estrada, todas elas com pequenos e cuidados jardins. Lá ao fundo, correndo pelo meio do vale, pela certa que haverá veia de água a alimentar este esplêndido verdor. Além disso, há também aquela história da azenha que existe para estes lados, a qual de muita linfa corrente precisa para poder funcionar. E cá está ela, a ribeira, nesta curva da estrada. Será ela a ribeira que há tempos encontrámos, mais a montante, onde surpreendemos os pezinhos de uma menina lavadeira? Por certo que sim. Nessa altura, porém, para nós, a ribeira não ia mas estava. Mas bem sabemos que ela, para estar, também tem de ir, e por isso aqui está ela, a mesma ribeira, para gozo dos nossos olhos e ouvidos.
E eis que, de outra estrada aqui entroncando, se vê a aproximar um menino, já bem passante dos setenta, que empurra o seu carrinho de mão a transbordar de couves e de outras verduras. “Bom dia, senhor! Já traz aí o carrinho cheio de coisas boas para a família e para o gado! Foi você quem apanhou ou foi a sua esposa”? “Eu é que apanhei tudo! Já sou viúvo há vários anos e agora arranjei uma companheira que é muito trabalhadora e me trata muito bem! Olhe, hoje ela foi dar o dia para aquela terra além, e só vem à noite”. “Belos tomates esses, meu amigo, que vêm em cima das couves! São carnudos e sumarentos, e também devem ser saborosos”! “Pois são! Em salada a acompanhar um peixinho e umas batatas são de trás da orelha”! “Mas o meu amigo sabe muito bem, por experiência própria, que há uma outra qualidade de tomates! Também esses, meu amigo, também esses são de boa qualidade e ainda estão ao serviço”? “Claro! Olhe, ainda hoje de manhã eles estiveram ao serviço e funcionaram muito bem”! “Mas de manhã, meu amigo, logo antes de um dia de trabalho”? “Não há problemas! Quando apetece é que é”! Demos os dois saborosas gargalhadas, enquanto eu ia pensando: querido amigo Felisberto, porque é que, sempre que te referes à tua companheira, os teus olhos se põem a faiscar de alegria tão intensamente? Não será porque, debaixo dessas faíscas, há uma profunda felicidade a dois?
“Diga-me só mais uma coisa, amigo Felisberto. Onde é o moinho de água que há por aqui perto”? “Olhe, é já além, à direita, onde há um pinheiro alto. Está a ver o pinheiro”? “Sim senhor, muito obrigado, meu amigo, gostei muito de o conhecer e de conversar consigo”! “Também eu gostei! Adeus”.
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