3 – Sim, de facto, quaisquer valores (sobremaneira os valores
objectivos e universais) só são mesmo reais e vivos quando eles são cultivados
ou violados pela (e na) nossa viva acção humana, e os efeitos do seu
cumprimento ou violação aparecem no nosso mundo sensível.
No vertente caso da segunda guerra mundial, os valores
tornam-se reais e vivos em Churchil e no seu povo, que deu “sangue, trabalho,
lágrimas e suor”, e também muitas vítimas em defesa deles. Estão vivos e são
reais no milhão e meio de edifícios destruídos porque achamos que isso é, para
além do mais, um enorme atentado ao nosso meio-ambiente, que devemos preservar.
Vivos estão e bem reais na carta do oficial-militar à sua esposa, vivos
sobretudo na vergonha que ele sente
de ser alemão. Vivos também e bem reais na profunda dor daquele pastor
protestante alemão, sobretudo por ter testemunhado a chegada de carregamentos
de sapatinhos de crianças. Vivos e bem reais porque, impunemente, os sapatinhos
foram para sempre esvaziados dos pezinhos vivos que os costumavam calçar.
De algum modo, os
valores são reais e até estão vivos nos mortos, nos cerca de 60 milhões de
mortos, na medida em que eles são as vítimas dos violadores dos valores
humanos, o último e execrando efeito da sua acção. Até, por ironia, os valores estão
vivos na pessoa do Fuhrer e dos seus sequazes, enquanto seus violadores e
pretensos exterminadores. Por ironia, sim, porque, apesar dos maus tratos que
lhes temos infligido - aos valores, evidentemente -, estes continuam vivos
depois deles.
4 - Mas a saga não termina aqui. Será que nós e estes nossos
valores, que proclamam a nossa identidade de seres iluminados pela razão,
amantes da vida em todos e tolerantes, não haveremos de sobreviver a todos os terrorismos
que grassam hoje pelo nosso vasto mundo como a felga pelos campos? Tamanha é a
singularidade humana, que, se se deixa de todo corromper, redundará no pior
género de vida no planeta.
Nota: O conteúdo das citações históricas encontra-se em
Martin Gilbert, História do Século XX,
vol.4, em edição do Expresso.
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