2 - Segundo
o cristianismo, a alma humana não está sujeita a esse longo ciclo de vidas, cada
uma destas em seu corpo diferente, pois que, depois da morte do próprio corpo,
tudo desemboca numa eternidade de salvação ou condenação. Mas quem navega na
doutrina da transmigração das almas, acredita que elas terão de viver e viajar
por vários corpos, condenadas que estão a percorrer todo o ciclo da vida. Pelo
caminho, por meio de exercício e da ascese, terão de se ir descartando dos
sucessivos corpos, terão de ir fugindo da vida, até desaparecerem no nada ou no
universo. Aliás, para Buda, (ao contrário do cristianismo), uma das três
grandes marcas da existência humana é a ausência
de uma identidade permanente em nós, portanto sem uma alma ou substância pessoal (ver texto 213)).
Se isto é assim na tradição oriental,
bem diversa é a posição do ocidente em relação à nossa alma e à nossa vida. Os
próprios estóicos, que tinham por lema moral absterem-se e aguentarem duramente
todas as privações e sofrimentos corporais e mentais, eles suportavam tudo isso
para salvar a sua vida, a sua única vida, e não para dela se irem desfazendo.
Enquanto os estóicos amam a vida e por isso é que aceitam privações e
sofrimentos, para os budistas a vida é o grande mal do qual é preciso sair o
mais depressa que for possível, através das tais transmigrações.
3 - É interessante notar que
krishnamurti, instrutor espiritual de renome mundial nascido na Índia mas
educado e depois sempre vivendo no ocidente – assim quase uma ponte entre os
dois mundos -, dizia muitas vezes que “a vida humana é uma coisa muito
estranha”. Será que o sentido desta frase terá em fundo a crença na transmigração das almas? Acreditaria ele em tal transmigração? Em resposta a estas
perguntas, basta ouvi-lo a falar e a dizer: “A crença é a negação da Verdade; a
crença impede a Verdade (…) porque a Verdade é o desconhecido, e acreditar ou
não no desconhecido é uma simples projecção pessoal e portanto não é real” (em O Sentido da Liberdade, p. 192).
Note-se, porém, que, segundo esta sua opinião, tanto acreditar na transmigração
como não acreditar é projecção mental e não realidade.
Há ou não há, então, para nós, transmigração das almas?
Atendendo ao que acima fica escrito sobre o assunto, consideramos perfeitamente
justificada em termos racionais – já não é crença ou fé, portanto, mas razão –
a opção pela não existência da transmigração das almas.
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