quarta-feira, 24 de junho de 2015

307.2-3 - A Transmigração das Almas

            2 - Segundo o cristianismo, a alma humana não está sujeita a esse longo ciclo de vidas, cada uma destas em seu corpo diferente, pois que, depois da morte do próprio corpo, tudo desemboca numa eternidade de salvação ou condenação. Mas quem navega na doutrina da transmigração das almas, acredita que elas terão de viver e viajar por vários corpos, condenadas que estão a percorrer todo o ciclo da vida. Pelo caminho, por meio de exercício e da ascese, terão de se ir descartando dos sucessivos corpos, terão de ir fugindo da vida, até desaparecerem no nada ou no universo. Aliás, para Buda, (ao contrário do cristianismo), uma das três grandes marcas da existência humana é a ausência de uma identidade permanente em nós, portanto sem uma alma ou substância pessoal (ver texto 213)).
         Se isto é assim na tradição oriental, bem diversa é a posição do ocidente em relação à nossa alma e à nossa vida. Os próprios estóicos, que tinham por lema moral absterem-se e aguentarem duramente todas as privações e sofrimentos corporais e mentais, eles suportavam tudo isso para salvar a sua vida, a sua única vida, e não para dela se irem desfazendo. Enquanto os estóicos amam a vida e por isso é que aceitam privações e sofrimentos, para os budistas a vida é o grande mal do qual é preciso sair o mais depressa que for possível, através das tais transmigrações.

         3 - É interessante notar que krishnamurti, instrutor espiritual de renome mundial nascido na Índia mas educado e depois sempre vivendo no ocidente – assim quase uma ponte entre os dois mundos -, dizia muitas vezes que “a vida humana é uma coisa muito estranha”. Será que o sentido desta frase terá em fundo a crença na transmigração das almas? Acreditaria ele em tal transmigração? Em resposta a estas perguntas, basta ouvi-lo a falar e a dizer: “A crença é a negação da Verdade; a crença impede a Verdade (…) porque a Verdade é o desconhecido, e acreditar ou não no desconhecido é uma simples projecção pessoal e portanto não é real” (em O Sentido da Liberdade, p. 192). Note-se, porém, que, segundo esta sua opinião, tanto acreditar na transmigração como não acreditar é projecção mental e não realidade.

Há ou não há, então, para nós, transmigração das almas? Atendendo ao que acima fica escrito sobre o assunto, consideramos perfeitamente justificada em termos racionais – já não é crença ou fé, portanto, mas razão – a opção pela não existência da transmigração das almas.

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