Há o
desígnio, diz-se, ou a ínsita intenção,
de o mundo produzir
o ser humano,
e mesmo
existir primariamente para ele
Para quê,
então, os dinossauros e outros animais gigantes,
mas também
as importunas moscas e melgas,
e ainda, é claro,
a insidiosa serpente,
todas tanto,
as três, incomodando os humanos?
Não seria
mais convincente ter aparecido,
em primeiro
lugar,
não sujeita
a tanta demora evolutiva,
a criatura
humana?
E agora, porque
não hão-de vir a existir
outros
estádios de evolução,
para além
do ser humano?
Porque é
que, quando a pujança juvenil
nos vai
abandonando,
logo damos
em ser invadidos
por
bichinhos destruidores?
E quanto ao
vasto universo,
do qual o
nosso mundo é um pontinho minúsculo,
todo ele
existe também para o ser humano?
ou será a
vida um produto acidental no universo,
e fortuita
“esta mistura de vícios e virtudes”?
“Podem
demonstrar-se as boas intenções do universo”,
pela razão
de termos aparecido, embora tão tardiamente?
Pode alguém
vangloriar-se destas suas criaturas?
Um mundo de
rouxinóis e rolas,
ou de
abelhas doces e diligentes formigas,
ou mesmo de
cigarras soprando a sua buzina ao sol,
não seria
muito menos violento e destruidor,
muito mais
belo que este nosso mundo humano?
Não
podíamos ser um pouquinho mais modestos
e menos
presumidos,
em vez de
nos pensarmos o topo e a razão do universo,
nós os
habitantes, pequeninos e frágeis,
deste
minúsculo cantinho nessa imensidão?
Seres
insignificantes, e tantas vezes mesquinhos, como somos?
Texto inspirado em Science et Religion, de Bertrand
Russell
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