quinta-feira, 30 de junho de 2016

425 - Mindfulness (plena atenção)

Quando, do silêncio, os sentidos de um poema
germinam em cadeia e se levantam,
Isso não é da terra, mas do céu

quarta-feira, 29 de junho de 2016

424 - O Amargo de Mágoas

Os antigos diziam que a cada dia o seu peso:
e então, porque guardamos pesos ressentidos,
por tanto tempo e até por toda a vida?

segunda-feira, 27 de junho de 2016

423 - O Dinheiro é Sangue

Tal como o sangue alimenta as nossas vidas,
assim, é o dinheiro que alimenta as nações:
quem, logo no sangue, pode ofender as nações?

domingo, 26 de junho de 2016

422 - Teia de Luz

Quando, do alto céu, incide o sol sobre os seres,
todos são fiozinhos de luz de uma teia universal:
interdependentes todos, nós também responsáveis

sábado, 25 de junho de 2016

421 - Dois Amantes

Cada um olhando para os lados
 melhores e virtuosos do outro,
os dois se encantam e apaixonam.
Mas depois, aprofundando, entre si
vão ensinando e educando em virtudes,
assim os dois se tornando sempre melhores,
assim os dois sempre crescendo em amor


Veja Alain de Botton, em O Curso do Amor, pp. 113-114, recuperando conceitos e práticas dos antigos gregos.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

420 - Egoísmos


Há, para a humanidade, um regime político
 ainda menos mau que a democracia: a social
democracia feita de cidadãos menos egoístas

quarta-feira, 22 de junho de 2016

419 - Estranha Humanidade

Ainda antes de nós, nos foi dada a vida para a vivermos,
agradecermos e partilharmos. E quanto menos
 coisas tivermos, mais poderemos dar

terça-feira, 21 de junho de 2016

418 - Luminoso Festim

O silêncio circula entre as árvores do bosque, e,
nas aladas folhas, a luz e a água cintilam!
Que deuses, no chão e no ar, dirigem este festim?

segunda-feira, 20 de junho de 2016

417 - A Consciência de Si

Mente (ou alma) é o “frémito da vida” mergulhado
naquilo que é material, ”precário e passageiro,
com o particular de ela ser disso consciência

sábado, 18 de junho de 2016

416 - Vítimas

 Do enleio das relações humanas, muitas vezes,
só pode sair-se como vítima; mesmo assim, aí,
pode gozar-se uma fina sensação de liberdade

sexta-feira, 17 de junho de 2016

415 - O Melhor Perfume

Não há, no mundo, como o perfume das flores:
do da rosa diurna, do da dama da noite …
Melhor ainda é o da amizade e do amor

quinta-feira, 16 de junho de 2016

414 - As Duas Melhores Moedas

De entre as muitas moedas do mundo, euro libra
coroa dólar … duas há acima de todas:
a flor compra com néctar, a abelha com pólen

quarta-feira, 15 de junho de 2016

413 - Três Íntimos Nossos Amigos

O belo deve apelar ao bom
e bem assim o bom ao belo:
entre si os dois se potenciam
e, deste modo,
não podem não ser verdadeiros

segunda-feira, 13 de junho de 2016

412 - Búzios Ressoando Sentidos Antigos

Há o Nada – nenhuma coisa nada ou nascida;
há a natureza ou natura – tudo o que há-de nascer;
e finalmente as formas – as coisas nadas ou nascidas.

“Testemunha” vem de testis, mas “testículos” também,
o lugarzinho da honra, neles, e da virilidade:
assunto “fascinante” por ele vir de fascinum, ou “falo”…
E quando mulher e homem são “com-panh(a)eiros”,
eles comem do mesmo pão, em sua plenitude:
o mesmo pão os une, também o pão do amor;

Pela vida que nos possui e “en-tusiasma”,
- como se nos perdêssemos nesse deus -
todos nós, enfim, somos companheiros
neste planeta por nós tão maltratado,
mas, ainda assim, no amplo céu, azul

domingo, 12 de junho de 2016

411 - Em Cada Agora Nascemos

Se tivermos presente a nossa morte,
- futura, mas não sabemos quanto -
melhor celebraremos o agora da nossa vida:
só o agora não é morte, mas a vida

sábado, 11 de junho de 2016

410 - Um Choro Branco

Quando choro a perda de entes queridos,
também choro, partes de mim, a minha perda …
até que, mais adiante, as últimas se percam

sexta-feira, 10 de junho de 2016

409 - A Luz e a Liberdade

Quanto mais abrirmos o nosso horizonte mental,
mais livres nos podemos tornar:
é a luz que nos dá essa liberdade


quinta-feira, 9 de junho de 2016

408 - Humano Bicho

Sol, terra, oceanos, rios até cavando epigenias
e a incerta dança da matéria encontram seu caminho:
só em caminhos ínvios persiste o humano bicho

quarta-feira, 8 de junho de 2016

407 - Um Pássaro Dentro

Naquela tarde, no jardim, entre flores,
muitas crianças brincavam, buliçosas:
cada uma trazia um pássaro dentro de si


terça-feira, 7 de junho de 2016

406 - A Voragem do Tempo

De Horácio as odes, mais perenes que o bronze,
tremendo estão, tombam: nada resiste
à voragem das mudanças medidas pelo tempo


segunda-feira, 6 de junho de 2016

405 - Selado Pacto

Havia um selado pacto entre o povo judaico e Deus:
Deus seria para o seu povo e mais nenhum
e o povo para o seu Deus e nenhum mais.
Vieram depois as fundas vicissitudes da vida,
- veio o sangue e a diáspora, veio o fatal genocídio -
e então, dos poucos que restaram,
muitos descreram

sábado, 4 de junho de 2016

404 - Diáfano Manto

Coimbra menina, Firenze bella, Arrivederci Roma
diáfano manto de saudosas melodias
com que ternamente cobrimos as nossas cidades

sexta-feira, 3 de junho de 2016

403 - Auto-Retrato

Para os judeus, povo errante, o seu chão é o Livro,
e o vazio do portátil tabernáculo o seu Deus.

“Eis um povo que viverá solitário
e com os gentios não se misturará”:
bíblica frase que Ben-Gurion bem entendeu
não como uma bênção, mas uma maldição

Notas: 1- A primeira parte deste texto deve-se ao judeu Simon Schama, em A História dos Judeus; a segunda, com a citação bíblica de Num 23,9, consta do romance Judas (p. 44), cujo autor é Amos Oz, também judeu. Ben-Gurion foi o pai do moderno Estado de Israel, fundado pouco depois do final da Segunda Guerra Mundial, na qual ocorreu o fatal genocídio dos judeus.
2 – Na primeira parte do texto, aquele vazio não será o não-ser, mas o Inefável. Noutra cultura, seria o Nada (nenhuma coisa nada, isto é, nascida), em contrate com as nascidas coisas, ou formas, ou aparências. Veja os textos 335 e 338.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

402 - Fruto Proibido

Aquela divina palavra antiga
“não comas da árvore do conhecimento”
não irá contra a nossa natureza humana?

quarta-feira, 1 de junho de 2016

401 - A Realidade dos Valores

Quando um homem salva ou mata outro ser humano,
os valores estão aí na acção do primeiro e na paixão
do segundo, felizmente vivo, ou, ao contrário, morto