sábado, 30 de abril de 2016

385 - Era uma Ferida

Quando o chilreio das aves fere o silêncio
das manhãs, nada mais há nas manhãs de oiro:
as aves podem esvoaçar ou poisar, podem
aparar o bico batendo com ele nos ramos, podem
 juntar pauzinhos e barro para fazerem o ninho,
podem gritar as crianças na rua, e o ferreiro
bater com o martelo na bigorna, podem,
mas só o chilreio das aves  é que fere o silêncio.


A ferida só começa a sarar quando, sentadas,
 no ninho, as aves procedem à postura dos ovos,
e depois, dormitando, os chocam no bafo quente
das suas penas, e só quando os ovos eclodem e
de lá surgem novas vidas, então é que a ferida
do silêncio se dá por completamente extinta:
para se extasiar com a nova vida aparecida,
o silêncio não pode distrair-se

sábado, 16 de abril de 2016

384 - Em Memória de Alice Herz-Sommer

Porque é que num campo de morte o não morrer
torna depois essa vida uma vida outra,
de muito maior valor que a primeira?

E então, a finalidade última da vida, ou sentido,
não será estimar e viver os humanos valores,
melhor assim também fazendo o mundo?


Nota: Alice Herz-Sommer (1903 em Praga – 2014 em Londres) pertencia a uma família judaica e esteve prisioneira num campo de concentração nazi, para cujos oficiais tocava piano aos serões, assim lhes aliviando o stress que lhes provocava a sua sinistra ocupação. Alice morreu só aos 111 anos e deixou-nos o segredo da sua longevidade: não guardar rancor a ninguém.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

383 - A Cerca do Sentido

Só cercados pelo limite da morte,
nós descobrimos o sentido da vida:
é o apelo e a urgência do belo e do bem

sábado, 9 de abril de 2016

382 - Solidão, Solitude e Amor

É a solidão sáfara terra, onde não nasce o amor;
só na solitude ele germina e floresce e se faz fruto:
e o amor é a abençoada ponte entre duas solitudes,
não fora delas, a ponte, mas no íntimo dentro

quinta-feira, 7 de abril de 2016

381 - Liberdade

Livres dos desejos e dos medos do nosso eu:
livres, mas também responsáveis, começando
pelo exercício dessa primeira liberdade

domingo, 3 de abril de 2016

380 - O Pomo da Vida

Não é a morte um ser fora de nós, mas dentro,
como a beleza das belas coisas do mundo, e o amor:
da vida, a morte é a casca, o amor e a beleza o sumo